A proximidade do desfecho da negociação tucano-governista em torno da prorrogação da CPMF eletrificou os subterrâneos do PSDB. Na véspera da reunião de sua Executiva nacional, marcada para a noite desta terça-feira (6), o partido viveu horas de tensão. Pendurados ao telefone, os dirigentes da legenda viram-se diante de um cenário cristalino: consolidou-se uma sólida maioria na legenda contra o fechamento de um acordo com o governo Lula. O preço do entendimento seria o esfacelamento da unidade partidária.
Os dois presidenciáveis tucanos –José Serra e Aécio Neves— estão no exterior. Os interesses de ambos, os maiores defensores da negociação, vão ao encontro da Executiva em condição frágil. O argumento dos defensores da interrupção do entendimento é o de que o partido não pode condicionar os seus pendores oposicionistas às conveniências administrativas de seus governadores. Na Câmara, há uma quase unanimidade contra a CPMF. A posição será levada à Executiva pelo líder da bancada de deputados, Antonio Carlos Pannunzio. Ele disse ao blog: “Tenho a obrigação de expor o ponto de vista da minha bancada. Entendo que a decisão do partido não vai levar em consideração apenas a posição de um dos segmentos. Mas a opinião dos deputados tem de ser manifestada com muita clareza”. No Senado, pelo menos oito dos 13 senadores tucanos torcem o nariz para a CPMF. São eles: Álvaro Dias (PR), Marconi Perillo (GO), Papaleo Paes (AC), Flexa Ribeiro (PA), Mário Couto (PA), Marisa Serrano (MS), Cícero Lucena (PB) e até Sérgio Guerra (PE). Escalado para assumir a presidência do PSDB em duas semanas, Guerra afirma, nos subterrâneos, que nenhum acordo com o governo, por melhor que seja, vale a divisão do partido. A bancada de senadores tucanos reúne-se antes do encontro da Executiva, para tentar soldar uma posição única. Antes mesmo da formalização da proposta que o ministro Guido Mantega (Fazenda) ficou de expor ao PSDB ao longo desta tarça, Álvaro Dias, vice-presidente da legenda, anima-se a sentenciar: “A bancada não vai aprovar o que vem do governo. Isso é certo, é seguro”, disse ele ao repórter. “Há no mínimo oito votos contrários ao entendimento”, completou, eximindo-se de dar nomes à contrariedade. Diante de tantos companheiros pintados para a guerra, Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado, tende, também ele, a postar-se ao lado da maioria. Já na semana passada, Virgílio dissera: “O limite do entendimento é a unidade do partido.” Uma unidade que, a julgar pelo cenário desta segunda-feira (5), não será obtida senão por meio de um desfecho desfavorável ao governo. “Se você parte do pressuposto de que a Câmara está contra e um número bastante razoável de senadores também não deseja o entendimento, não é tão difícil assim de chegar à unidade”, diz Pannunzio. Além dele, cerca de dez deputados agendaram-se para comparecer à reunião da Executiva tucana. O encontro pode contar também com uma presença inesperada. Nesta segunda-feira, o candidato derrotado do PSDB à presidência da República, Geraldo Alckmin, almoçou com o deputado José Aníbal (SP), em São Paulo. Revelou durante o repasto a propensão de comparecer à Executiva. Deseja reforçar o coro contrário ao acordo com o governo. Alckmin é visceralmente contra a renovação da CPMF. Ex-presidente do partido, Aníbal também tem assento na Executiva. É outro que condenará o entendimento com o governo. Aníbal foi escalado para coordenar a elaboração do novo programa do PSDB, a ser discutido e aprovado nos próximos dias 22 e 23 de novembro. Avalia que, se amolecer na votação da CPMF, o partido perderá a autoridade para enrolar-se na bandeira de oposição. Antes de viajar para fora do país, na semana passada, Aécio Neves disparou telefonemas para deputados tucanos. Em vão. José Serra adotou um comportamento mais discreto. Defende, pelo alto, o acordo. Mas ostenta, na base, o discurso de quem lava as mãos. Argumenta que, como governador, não pode eximir-se de manter com Lula um relacionamento institucional. E acrescenta que cabe às bancadas no Legislativo dar o timbre que julgar mais apropriado ao discurso político do partido. De Pires na mão, os outros três governadores tucanos também defendem o entendimento. Mas não têm peso político para se impor no partido. Yeda Crusius (Rio Grande do Sul) também tentou, sem sucesso, virar a cabeça de deputados gaúchos. Teotônio Vilela Filho (Alagoas) disse aos grão-tucanos que negociam com o governo que tem dívidas de gratidão com Lula. Disse que o presidente vem aquinhoando Alagoas com generosos repasses de verbas federais. Mas, resignado, informou que acatará a decisão que vier a ser tomada, seja ela qual for. Cássio Cunha Lima (Paraíba) nem se animou entrar em campo. Tem coisa mais séria com que se preocupar: o processo que pede a interrupção do seu mandato no TSE.
Escrito por Josias de Souza, Folha Online. 0611.