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A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
Autor(es): José Milton Dallari |
O Estado de S. Paulo - 21/09/2012 |
O Brasil sofre de miopia em relação à sua verdadeira vocação industrial. Temos um parque automobilístico moderno, mas que hoje precisa de incentivo fiscal, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), para ajudar a economia a crescer. No setor têxtil, fomos ultrapassados pelos produtores chineses, coreanos e por vizinhos latino-americanos que têm ajuda do governo por meio de subsídios. Basta uma olhada nos números do PIB do 2.º trimestre para saber onde o Brasil deveria apostar as suas principais fichas: na agroindústria.
A economia brasileira cresceu 0,4% no 2.º trimestre deste ano, na comparação com o 1.º trimestre. E foi a agropecuária que sustentou essa alta, diga-se, muito aquém do que se esperava. O setor expandiu-se 4,9%, com destaque para uma safra recorde de milho e uma colheita abundante de café.
Se, no passado, o País tivesse escolhido a agroindústria como uma de suas prioridades, certamente já teríamos ultrapassado os EUA como maior produtor mundial de alimentos.
Ter um parque industrial diversificado é importante, mas é fato também que cada nação deve focar os setores em que pode ser mais forte para competir com vantagem no mundo globalizado. Tome o exemplo do Japão. O país fez uma transição gradual de sua indústria têxtil, de ferro e aço e de construção naval para automóveis, maquinaria e engenharia. Depois, focou nas indústrias de alta tecnologia, como computadores, semicondutores e eletrônica. A Alemanha, por sua vez, incrementou o setor de construção de máquinas e equipamentos, que hoje já é o segundo maior da indústria alemã. Esse setor se caracteriza por empresas médias, com flexibilidade em reduzir ou aumentar a jornada de trabalho e grande capacidade tecnológica. Perde em tamanho apenas para o setor automobilístico.
Veja por que o Brasil poderia ser uma superpotência do campo. O País já tem 388 milhões de hectares cultiváveis, com alta produtividade, e mais 90 milhões ainda por cultivar. Até terras que eram improdutivas, como o Cerrado, se tornaram produtivas graças à tecnologia desenvolvida pela Embrapa. Quase 13% da água doce disponível no planeta está no Brasil. O clima é diversificado e o regime de chuvas, regular. Hoje, é possível colher três safras por ano, com muita tranquilidade. São essas as condições suficientes para que o País lidere a produção e a venda de alimentos no mundo.
Poderíamos ter aproveitado esses atributos para criar uma indústria capaz de agregar valor à carne bovina, ao suco de laranja, ao frango, ao café. Por que exportar esses produtos como simples commodities, com preço muito mais baixo do que o pago pelo produto industrializado? Por que o café da Colômbia conquistou fama mundial, e não o brasileiro? A Alemanha, que não planta café, é atualmente um dos maiores produtores de café industrializado do mundo. Ora, essa função é do Brasil.
Uma das explicações é que o agronegócio sempre foi considerado uma atividade "menor" entre os setores da indústria. Existe, sim, um problema cultural entre nós, uma espécie de preconceito velado, que vem causando prejuízo ao longo dos anos. A agricultura, para a elite, é uma atividade inferior à produção de automóveis ou maquinário. Nos EUA, criou-se um parque industrial sofisticado, mas a agricultura nunca foi deixada em segundo plano.
O estudo do governo Brasil - Projeções do Agronegócio mostra que a expectativa é de que a safra de grãos cresça 23% em uma década, com o incremento de 32,9 milhões de toneladas, para um total de 175,8 milhões de toneladas em 2020/2021. Isso levando em conta as culturas de arroz, feijão, soja, milho e trigo. Como se vê, dá para recuperar o prejuízo. O governo precisa investir em infraestrutura para que os produtos agrícolas sejam postos com rapidez no mercado internacional. A falta de ferrovias e as estradas ruins fazem nossos produtos perderem competitividade.
É preciso corrigir essa miopia em relação ao agronegócio.
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Autor(es): Por Mariana Caetano | De São Paulo |
Valor Econômico - 21/09/2012 |
A chuva que começou a cair há dois dias no Paraná trouxe alívio aos produtores de grãos, que aguardavam ansiosamente o retorno da umidade para acelerar o plantio. A semeadura de soja está oficialmente liberada desde ontem, mas a de milho já tinha sinal verde desde o fim de agosto. Entretanto, como em muitas regiões não caía uma gota do céu há mais de 60 dias, o início dos trabalhos estava em suspenso.
Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná, cerca de 10% da área que será destinada ao milho nesta safra 2012/13 já foi semeada. O número está bem aquém dos 30% que já haviam sido plantados no mesmo período do ano passado, quando estava em jogo a semeadura do ciclo 2011/12, e dos 21% da média das últimas três safras.
"Não há mais condições ideais de plantio, mas também é cedo para falar em quebras. Em um primeiro momento, a preocupação é com perda de produtividade", avalia Marcelo Garrido, economista do Deral. Segundo ele, os agricultores preferem apertar o passo para reduzir os riscos na safra de inverno - que, iniciada mais cedo, minimiza a exposição das lavouras às geadas.
Em Ponta Grossa, cidade que deve responder pela maior área cultivada de milho no Paraná, a semeadura está praticamente na estaca zero. "Alguns se arriscaram a plantar quando veio uma chuva dias atrás, mas já dizendo que, se o milho não vingasse, plantariam feijão em cima", conta Gustavo Ribas Neto, presidente do sindicato rural local.
Os mapas climáticos indicam precipitações para esta semana, ainda que localizadas, o que deve animar os produtores a iniciar os trabalhos com mais firmeza. Por ora, as previsões apontam chuvas mais abundantes apenas entre o final de setembro e início de outubro. "Com a umidade se estabelecendo, mesmo de forma incipiente, o agricultor não vai perder tempo, porque tem um zoneamento a cumprir e insumos já comprados", afirma Garrido.
O Deral estima uma área de 850 mil hectares para o milho no Paraná, queda de 13% ante o ciclo anterior, e uma safra 4% maior, de 6,83 milhões de toneladas.
Em Mato Grosso, onde temia-se que o tempo seco pudesse postegar o plantio de soja, voltou a chover no início da semana em importantes municípios produtores, como Primavera do Leste, Rondonópolis, Sorriso e Campo Verde - neste último já existem, inclusive, relatos de que o plantio já começou. A projeção do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) é que o Estado produza 24,1 milhões de toneladas de soja em 2012/13, alta de 13% ante o ciclo passado, em uma área 11% superior, de 7,9 milhões de hectares.
Ainda que haja atraso no início da safra, os produtores esperam que possíveis perdas de rendimento sejam compensadas pelos preços no mercado internacional, que seguem em níveis excelentes, favorecidos pela quebra causada pela seca nos EUA. Ontem, na bolsa de Chicago, os contratos de soja para janeiro (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez) sofreram uma realização de lucros e recuaram 3% (51,50 centavos), a US$ 16,1775 por bushel. Os papéis de milho para março caíram 1,21% (9,25 centavos), a US$ 7,4950 por bushel.
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Desemprego em queda livre |
Autor(es): agência o globo:Rennan Setti |
O Globo - 21/09/2012 |
Taxa cai para 5,3%, melhor agosto desde 2002. Mas Caged mostra freio no emprego formal
Rio e Brasília
A taxa de desemprego caiu para 5,3% em agosto, o menor patamar para esse mês desde 2002, quando teve início a atual série histórica, informou ontem o IBGE. Em agosto do ano passado, o desemprego ficara em 6%. A taxa, que considera a procura por emprego e ainda as vagas formais e informais nas seis maiores regiões metropolitanas do país, foi também a mais baixa desde dezembro (4,7%).
Mas, segundo dados do Ministério do Trabalho, o emprego formal perdeu fôlego. A criação de vagas com carteira registrou em agosto saldo de 100.938 empregos, no pior resultado para o mês em nove anos. Esses números, porém, incluem as vagas abertas no setor privado em todo o país, e não só nas regiões metropolitanas.
O IBGE também divulgou ontem as taxas de desemprego de julho (5,4%) e de junho (5,9%), cujos números só foram conhecidos agora porque a greve dos servidores do instituto atrasou a análise dos dados. Assim, o desemprego mostra uma trajetória consistente de queda nos últimos três meses.
Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, citou como destaque a indústria, que gerou 100 mil dos 155 mil novos postos de trabalhos de julho para agosto, embora seu contingente de trabalhadores hoje (3,7 milhões) seja praticamente o mesmo de 2011.
O rendimento real dos trabalhadores subiu 1,9% frente a julho e atingiu R$ 1.758,10. Na média dos oito meses do ano, ficou em R$ 1.744,15, recorde para o período. Para o gerente do IBGE, as medidas de estímulo à economia feitas pelo governo contribuíram para o bom momento do mercado de trabalho.
- O rendimento médio cresceu 2,3% sobre 2011. Ou seja, o poder de compra aumentou. Se você estimula o consumo em um cenário desse, certamente haverá mais contratações - observou.
O economista João Saboia, da UFRJ, lembra que, apesar de a economia brasileira estar crescendo pouco (o avanço foi de somente 0,6% no primeiro semestre), o setor de serviços, que emprega mais, está aquecido.
- A economia está mesmo lenta, mas a atividade que mais sofre é a indústria de bens duráveis e bens de capital (máquinas e equipamentos), pouco intensivas em mão de obra.
Segundo Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, o alto custo de demitir e contratar e a dificuldade de encontrar mão de obra qualificada pesam:
- O empresário prefere dar férias coletivas ou diminuir a carga horária a mandar o funcionário embora.
Diminui a procura por emprego
Depois de ligeira recuperação em julho, o mercado formal de trabalho voltou a desacelerar e registrou em agosto saldo de 100.938 empregos. Em relação a agosto de 2011, quando foram criados 190.446 postos, o recuo foi de 46,9%. Frente a julho, a queda foi de 29,16%.
No acumulado do ano, foram abertas 1.378 milhão de vagas, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Na comparação com o mesmo período de 2011, a queda é de 24,49%. O ministério estima que neste ano sejam gerados entre 1,5 milhão e 1,7 milhão de empregos. Foram dois milhões em 2011.
Em agosto, houve desaceleração em todos os setores da economia. O mais afetado foi a construção civil, que recuou 64,32% frente a agosto de 2012.
Sobre as diferenças entre os dados do Caged e do IBGE, Anselmo Santos, da Unicamp, chama atenção para as diferenças metodológicas. A pesquisa do IBGE abrange seis regiões metropolitanas, enquanto a do ministério registra as movimentações em todo o país. O Caged só trata de empregos com carteira assinada no setor privado; o IBGE considera também informais, empregadores e funcionários públicos.
- A taxa do IBGE está caindo também porque a procura por emprego caiu. O ritmo de entrada de jovens no mercado de trabalho diminuiu, porque há menos jovens no Brasil e porque o ganho da renda das famílias permite a eles estudar por mais tempo - disse.
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PT convoca aliados para defender Lula |
Autor(es): JULIA DUAILIBI |
O Estado de S. Paulo - 21/09/2012 |
Seis partidos da base governista, incluindo o PT e o PRB do candidato a prefeito de SP Celso Russomanno, emitiram ontem nota de desagravo a Lula e com ataques a PSDB, DEM e PPS, após a oposição ameaçar pedir apuração sobre suposta relação do ex-presidente com o mensalão. A nota foi antecipada pela repórter Julia Duailibi no estadão.com.br. A manifestação, organizada no momento em que o petista Fernando Haddad oscilou negativamente em pesquisa, ataca o que chama de "forças conservadoras" e "práticas golpistas". A ideia do desagravo partiu do próprio Lula, informa Vera Rosa
PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB de Russomanno unem-se a petistas e dizem que "forças conservadoras" adotam "práticas golpistas" ao usar mensalão
Seis partidos da base governista emitiram ontem nota em desagravo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com ataques ao PSDB, DEM e PPS, após a oposição ameaçar ingressar com pedido de investigação sobre acusações de que o petista seria o chefe do mensalão. Capitaneada pelo PT, a manifestação foi organizada no momento em que o candidato do partido à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, oscilou negativamente em pesquisa de intenção de voto.
Na nota, os presidentes do PT, PSB, PMDB, PC do B, PDT e PRB atacam o que chamam de "forças conservadoras" que estariam dispostas a "qualquer aventura" e falam em "práticas golpistas". Citam 1954, "quando inventaram um "mar de lama" para afastar Getúlio Vargas", e 1964, "quando derrubaram Jango para levar o País a 21 anos de ditadura".
A manifestação menciona reportagem da revista Veja do fim de semana passado, na qual declarações atribuídas ao empresário Marcos Valério, operador do mensalão, envolvem diretamente Lula com o esquema. Após a divulgação da reportagem, a oposição disse, em nota, que cobrará do Ministério Público a investigação dos fatos assim que terminado o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Para os presidentes dos partidos governistas, a oposição quer "confundir" a opinião pública. "Quando pressionam a mais alta Corte do País, o STF, estão preocupados em fazer da ação penal 470 (a do mensalão) um julgamento político, para golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula", afirmaram.
A confecção da nota foi divulgada num momento em que o embate eleitoral entre PT e PSDB aumentou, principalmente em São Paulo. Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostrou que o candidato do PSDB, José Serra, distanciou-se de Haddad, com quem estava tecnicamente empatado no segundo lugar, atrás de Celso Russomanno (PRB). O tucano oscilou positivamente um ponto e tem agora 21% das intenções de voto contra 15% do petista, que oscilou negativamente dois pontos.
Nas últimas semanas, a campanha de Serra usou inserções no rádio e na TV para ligar Haddad a réus no processo do mensalão, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino. Em ato de campanha do tucano na terça-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu engajamento na "recuperação moral" do País, referindo-se ao processo no STF.
A estratégia dos tucanos suscitou cobranças entre petistas, para que houvesse uma reação por parte da campanha de Haddad, que deveria politizar mais o debate e apontar também questões éticas no campo adversário.
Assinaram a nota de ontem os presidentes do PT, Rui Falcão, do PSB, Eduardo Campos, do PMDB, Valdir Raupp, do PC do B, Renato Rabelo, do PDT, Carlos Lupi, e do PRB, Marcos Pereira. PRB, PMDB e PDT têm candidatos próprios em São Paulo: Russomanno, Gabriel Chalita e Paulinho, respectivamente.
O Estado apurou que o presidente do PT telefonou para os integrantes das demais siglas para pedir que assinassem o documento. Todos os partidos que subscreveram o texto têm cargos no governo federal. Na segunda-feira, a Executiva do PT convocou os militantes para "uma batalha do tamanho do Brasil" em defesa do PT e de Lula.
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(*) Vinicius de Moraes,
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Novo round entre relator e revisor |
Autor(es): André de Souza |
O Globo - 21/09/2012 |
Barbosa condena 12 réus acusados de receber propina; Lewandowski absolve Pedro Henry
BRASÍLIA
O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, voltaram a divergir ontem, desta vez sobre a culpa dos políticos acusados de receber propina em troca de apoio ao governo Lula no Congresso. O relator concluiu seu voto sobre o capítulo 6 com a condenação de 12 réus por terem se beneficiado do esquema. Já o revisor começou a votar condenando o ex-deputado Pedro Corrêa por corrupção passiva, mas absolvendo-o do crime de lavagem de dinheiro. Lewandowski ainda absolveu o deputado Pedro Henry (PP-MT) de todos os crimes: corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.
Barbosa declarou que líderes de quatro partidos - PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB - venderam a lealdade ao governo Lula por milhões de reais. Para ele, o governo montou sua base de apoio no Congresso às custas do valerioduto.
- A lealdade foi concedida em troca de suntuosas remunerações - afirmou o relator.
Mesmo tendo considerado Pedro Corrêa culpado por formação de quadrilha, Lewandowski fez questão de destacar que não há prova de ato de ofício cometido pelo então parlamentar. O revisor só teve tempo de julgar Corrêa e Henry ontem. Ele vai retomar o assunto na segunda-feira, na próxima sessão no STF.
Ao condenar os réus, Barbosa ressaltou a responsabilidade dos parlamentares na República e rebateu o argumento da defesa de que a Constituição confere aos deputados imunidade relativa a seus votos e opiniões:
- A inviolabilidade de que gozam os parlamentares por suas opiniões, palavras e votos não significa que o titular do mandato possa comercializar ou rentabilizar o exercício da função pública que exerce.
Ao longo da semana, Barbosa condenou cinco réus ligados ao PP por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Em seguida, foram condenados três integrantes do PL. Depois, Barbosa condenou por corrupção passiva e lavagem de dinheiro o presidente do PTB, Roberto Jefferson, e outros dois integrantes da legenda. Ontem, foi a vez do ex-deputado José Borba (PMDB-PR), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O relator absolveu apenas o assessor parlamentar Antonio Lamas, por falta de provas.
- José Borba, que integrava a ala do partido que apoiava o governo na Câmara, recebeu R$ 2,1 milhões em repasses concentrados em datas próximas às reformas da Previdência e tributária. Eu não vejo como divorciar os pagamentos realizados da atividade do parlamentar na Câmara, razão pela qual eu considero materializado o delito de corrupção passiva - disse Barbosa.
Lewandowski deixou clara sua posição sobre a corrupção passiva: para ele, é preciso comprovar que o agente público recebeu vantagem indevida e cometeu um ato de ofício. Mas ele sustentou que o plenário entendeu de forma diferente e por isso ele seguiria a nova orientação: não haver necessidade de confirmação de que o ato de ofício ocorreu.
O revisor citou votos de colegas em outros capítulos do processo do mensalão para comprovar sua tese. E condenou Corrêa por corrupção passiva. Depois, absolveu o réu do crime de lavagem de dinheiro e deixou para examinar depois a acusação de formação de quadrilha.
Lewandowski ainda absolveu Pedro Henry das acusações de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Disse que não há prova de que ele integrou o esquema:
- O parquet (Ministério Público) não demonstrou, nem no curso da instrução criminal e em qualquer outro momento, de que forma ele teria concorrido para o cometimento da figura típica da quadrilha. Baseou-se apenas e tão somente na sua condição de líder do PP na Câmara à época dos fatos.
Mas Barbosa disse estar convencido de que os parlamentares acusados de receber dinheiro do mensalão agiram para garantir a continuidade dos repasses, ou seja, colaborando em votações importantes para o governo:
- Se os parlamentares divergissem da orientação do governo e assim contrariassem os interesses de quem os estava a corromper, deixariam de receber os milhares de reais em espécie com que vinham sendo agraciados.
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Divergências de volta |
Autor(es): ANA MARIA CAMPOS, DIEGO ABREU e HELENA MADER |
Correio Braziliense - 21/09/2012 |
Barbosa, o relator do processo no STF, condenou 12 réus por compra de votos. Lewandowski, o revisor, mudou o tom. Ele culpou um por receber "dinheiro de campanha" e absolveu outro acusado de três crimes
Depois de o relator condenar 12 pessoas por compra de votos no Congresso, ministro-revisor muda o tom: absolve um deputado e defende punição a um político por desvio de dinheiro de campanha
O relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, usou quase três sessões inteiras para detalhar o funcionamento do esquema de compra de votos no Congresso em troca de apoio ao governo Lula. Em pouco mais de uma hora, o ministro revisor Ricardo Lewandowski mudou o tom e deu uma guinada. Condenou o ex-presidente do PP Pedro Corrêa (PE) por corrupção passiva, mas ressaltou que o dinheiro tinha como destinação financiamento de campanhas.
O reconhecimento da tese do caixa dois não livrou o ex-deputado federal, cassado em 2005 por conta do escândalo, da condenação. Há uma visão predominante entre os ministros do STF de que não importa a destinação dos recursos recebidos de um esquema de desvios de recursos. Lewandowski, no entanto, até o momento, não se referiu ao símbolo do processo: a suposta compra de votos. Para os petistas, já seria uma boa notícia se os ministros não concluírem ao fim do julgamento, de forma explícita, que houve compra de votos no Congresso.
Em entrevista após a sessão, Lewandowski afirmou que não abordou em seu voto a forma como os recursos recebidos por Pedro Corrêa foram usados e se houve caixa dois. "Não entrei nisso. Não aderi e nem desaderi a essa tese, porque nem foi veiculada. Se da tribuna algum advogado o fez foi de forma transversa", disse Lewandowski. E acrescentou: "Não é isso que está em jogo. Queremos apenas saber se os elementos típicos dos crimes estão ou não presentes. Não preciso entrar nesse tipo de discussão".
As discordâncias com o relator foram além. O revisor absolveu Pedro Corrêa da acusação de lavagem de dinheiro e também considerou improcedente a denúncia contra o deputado federal Pedro Henry (PP-MT) por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Alegou que a Procuradoria Geral da República não detalhou a conduta criminosa do parlamentar. "Ele não pode ser condenado apenas por ter sido líder do PP", afirmou o revisor, confirmando o principal argumento da defesa.
Lavagem de dinheiroEm seu voto relativo ao capítulo seis da denúncia, encerrado antes do intervalo da sessão de ontem, Joaquim Barbosa condenou 12 réus e absolveu apenas um, Antônio Lamas, por falta de provas, como recomendou a Procuradoria Geral da República.
Barbosa complicou um pouco mais a situação do delator do esquema do mensalão, Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB. Depois de condená-lo por corrupção passiva na última quarta-feira, o relator considerou ontem Jefferson culpado da imputação de lavagem de dinheiro, delito que prevê pena de três a 10 anos de detenção. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ressaltou ontem que os ministros poderão reconhecer uma colaboração de Jefferson, com redução de pena. O Ministério Público, no entanto, não pediu nenhum benefício. "Isso tudo será visto em momentos posteriores, mas o Ministério Público não fez qualquer acordo de delação", afirmou Gurgel.
Segundo Barbosa, Roberto Jefferson recebeu R$ 4 milhões de Marcos Valério. "A entrega foi realizada pessoalmente e tinha objetivo de ocultar a origem, a natureza e o real destinatário", disse o ministro. "Roberto Jefferson se utilizou dos mecanismos de lavagem oferecidos pelos núcleos publicitário e financeiro do esquema", acrescentou Barbosa. Ele também condenou o ex-dirigente do PTB Emerson Palmieri e o ex-deputado petebista Romeu Queiroz por esse delito.
O relator encerrou seu voto analisando a conduta do ex-deputado José Borba, à época integrante do PMDB, que foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Barbosa citou até mesmo um depoimento do ex-ministro José Dirceu sobre Borba, hoje prefeito pelo PP de Jandaia do Sul (PR). Nele, Dirceu citou que José Borba apoiava o governo, apesar de não haver à época um direcionamento oficial do partido em favor do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Joaquim Barbosa usou a citação para mostrar que ainda não havia um consenso de apoio ao governo dentro do PMDB e, por conta disso, seria preciso comprar o voto do integrante da legenda.
Até mesmo o presidente da Corte, Ayres Britto, interrompeu a leitura do voto de Barbosa para comentar os repasses de dinheiro para José Borba. "A periodicidade dos pagamentos foi mensal, sendo que em um dos meses houve dois pagamentos", afirmou Britto, mostrando que o volume de pagamentos chamou a sua atenção.
Na próxima segunda-feira, Lewandowski deve encerrar seu voto. Em seguida, os ministros vão começar a se manifestar sobre os 13 réus ligados ao PP, PL (ex-PR), PTB e PMDB.
Análise da notícia
Avaliação política O ministro Joaquim Barbosa fez uma análise de conjuntura política ao explicitar seu ponto de vista sobre a denúncia de compra de votos no Congresso em troca do apoio ao governo Lula. Chegou a citar mudanças nos partidos políticos como fato integrante do esquema do mensalão.
O relator lembrou que as bancadas do PTB e do PL (hoje PR), cujos dirigentes foram condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em seu voto, dobraram de tamanho nos primeiros anos do governo Lula. O PP cresceu 30%, segundo Barbosa. Essa seria uma demonstração da influência financeira do PT para aliciar aliados.
O relator também fez referência às expulsões de parlamentares petistas, ocorridas em 2003, por rebeldias na votação da Reforma da Previdência, entre os quais Luciana Genro (RS), Babá (BA) e João Fontes (SE). Segundo o ministro, o PT precisava ampliar a base aliada para aprovar projetos de interesse do Executivo, como as reformas Tributária e a Previdenciária.
Nesse raciocínio, leu depoimento da presidente Dilma Rousseff, na instrução do processo. Ela disse que se surpreendeu com a rapidez da Câmara na aprovação do marco regulatório do setor elétrico. O entendimento foi de que a bancada do governo atendia aos interesses do Executivo com presteza.
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SINOPSES - RESUMO DOS JORNAIS
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