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terça-feira, fevereiro 26, 2013
VENEZUELA: FATOS E FOTO
Em 26/02/201357 Comentários
Venezuela, exclusivo: “As circunstâncias me obrigariam a ser candidato a presidente”, admite Capriles
POR BOB FERNANDES, DIRETO DE CARACAS
À exceção da recuperação da saúde do presidente Hugo Chávez, e num prazo que não seja excessivamente longo, os cenários na Venezuela têm como caminho constitucional uma nova eleição presidencial. Terra Magazine, do portal Terra, acompanha os fatos em Caracas desde a madrugada de 18 de fevereiro, quando Chávez retornou de Havana. Portanto, e para tanto, tem buscado conversar com lideranças nos mais distintos polos de poder. Poder formal ou informal. E, assim, entrevistou Henrique Capriles Radonski, governador de Miranda, estado que abriga parte da capital.
A 7 de outubro passado, na disputa pela Presidência da República, Capriles teve 6 milhões e 700 mil votos, 44,9% do eleitorado. Foi derrotado por Hugo Chávez, reeleito com dez pontos à sua frente.
Perguntado sobre uma eventual e próxima candidatura à Presidência Capriles disse que "ainda" não tomou "uma decisão", mas admitiu a Terra Magazine:
-… parece que as circunstâncias me obrigariam a voltar a ser candidato, porque eu creio que o que nós semeamos está ali. Eu não creio que seja algo que morreu com uma eleição.
No final de semana, a Mesa de Unidade Democrática – MDU-, que congrega diversos partidos da oposição, reuniu-se. Decidiu-se que, em caso de nova eleição, se buscará um candidato único.
Capriles, do Primero Justicia, partido do qual é líder e um dos fundadores, é obviamente um candidato, como deixa claro nesta conversa.
Descendente de judeus russos e poloneses, por parte da mãe, e de sefarditas de Curação, por parte de pai, o advogado Capriles Radonski tem 40 anos.
Ex-prefeito de Baruta por dois mandatos, ex-presidente da Câmara dos Deputados, Capriles diz na conversa abaixo:
- Nem ditadura, nem democracia. A Venezuela é um híbrido.
Capriles concorda que em 2002 houve "um golpe de estado".
- Um golpe midiático e militar? – é a pergunta. "Sim, isso é claro", é a resposta.
Na conversa a seguir, Henrique Capriles lembra, também, a tentativa de golpe de Hugo Chávez, ataca duramente o que vê como um "modelo econômico fracassado", o da Venezuela, e diz ser "seguidor" do modelo do Brasil. O Brasil de Lula, e agora de Dilma, que, no seu entender, mescla Estado e iniciativa privada na dose adequada.
Capriles discorre, criticamente, sobre o papel que a história reservará para Hugo Chávez, e aponta o que considera erros do chavismo e graves problemas na economia.
Articulado, raciocínio rápido, olhar por vezes rútilo a pontuar a conversa, Henrique Capriles recebeu Terra Magazine em seu escritório de campanha. Escritório da campanha passada. A próxima pode estar logo adiante.
A seguir, a entrevista:
Terra Magazine: Como está?
Henrique Capriles: Bem… eu vou ao Brasil.
Quando?
Muito em breve. Estou planejando minha visita ao Brasil.
E irá para onde? São Paulo, Brasília…
Provavelmente, São Paulo, Brasília e Rio.
Já tem alguns encontros marcados?
Estou trabalhando a agenda. No ano passado, estava marcado, mas lamentavelmente a dinâmica dos fatos não me permitiu. Mas devo sim ir ao Brasil, creio que seja já no próximo mês.
Já tem agenda marcada? Agenda política, imagino…
Estou trabalhando nisso. Terá de tudo um pouco. Mídia, políticos e economistas. Conversarei com gente que pode se interessar pela Venezuela.
Muita gente se interessa pela Venezuela. De alguns anos para cá, a Venezuela se tornou…
Claro. Acontece é que a relação com, digamos, o Brasil, realmente tem sido muito mais uma relação de contratos e de busca de contratos junto ao governo venezuelano do que propriamente para desenvolver uma atividade econômica…
…conjunta…
…ou independente. Com o setor privado brasileiro entrando, investindo e desenvolvendo atividades…
A que tipo de negócios, especificamente, você se refere?
Têm sido feitas contratações até agora, sobretudo, com o Estado… para temas de construção de obras… ou ligadas ao tema petroleiro.
Em números macro, como está, a seu ver, a economia na Venezuela? Quais são os números?
A inflação geral… veja estes números… (Capriles folheia e mostra dados de um fichário) Entre 1999 e 2011, a inflação foi de 1009%. Olha onde está o Brasil?
Pelo que leio aqui, Brasil teve 117%. É isto?
Olha onde está o Equador, que acabou de passar por um processo eleitoral, 348%, e segue sendo muito inferior à Venezuela. Uma das mais altas, diante dos grandes amigos de Chávez. Equador, Argentina, Bolívia (que tem uma inflação baixa) e Nicarágua.
A inflação da Venezuela, hoje, ao que parece, é de 29%, é isso?
Sim. Acontece que este ano, já em janeiro, houve um aumento de 3.3%. Janeiro… Sabe, o que eu quero dizer é que, para fim do ano, projeta-se que a inflação da Venezuela esteja num patamar acima dos 30%. A mais alta das Américas, ao lado da do Haiti.
E quais são, na sua visão, os principais erros?
O modelo. Fracassado completamente.
Por quê?
No modelo estatista, estatizante, o setor privado vai se reduzindo, reduzindo, reduzindo… Muito diferente do que é feito no Brasil.
No Brasil, também há a mesma "acusação" por parte da oposição, que reclama de "muita intervenção" do governo, do Estado…
Não, não… Eu simpatizo com o modelo brasileiro. Porque o modelo brasileiro entendeu a política que garante o combate à pobreza…Nós temos esses programas e o Brasil também. Mas, no caso da Venezuela, o objetivo mais importante é como nós vamos reduzir a pobreza. Como faremos para que a Venezuela tenha menos pobres. Porém, não me refiro a reduzir a pobreza apenas na base de destinar um recurso, de dar um recurso. Para mim, o que elimina a pobreza é a possibilidade de que uma pessoa tenha um emprego, e que esse emprego seja estável.
Sim, mas como?
Como se faz isso? Isso é feito entre Estado e o setor privado. O Estado regula, dá garantias, promove. Mas o que gera o grande multiplicador de progresso é o setor privado. O modelo da Venezuela não se parece com o modelo brasileiro, mas sim com o modelo cubano. O Estado controlando todos os meios de produção.
E o modelo chinês?
Não. Porque a China está aberta aos investimentos. A China é comunista simplesmente em sua concepção política do exercício do poder. Porém, a China é capitalismo, praticamente. Eu não sou defensor do capitalismo, tampouco não sou defensor do socialismo. São conceitos de sua pura concepção. Eu creio num modelo tipo o do Brasil, um modelo que se adapta à realidade do país. O Estado não pode expropriar, destruir o investimento privado. Porque se não há o investimento privado, é impossível imaginar que o Estado possa financiar ou gerar esse progresso.
Há aí uma contradição, segundo o que vê e diz a oposição no Brasil… porque, do ponto de vista politico, há dez anos, com Lula e Dilma, o Brasil está pessoal e politicamente próximo a Chávez.
Eu, com todo respeito ao Brasil, porque, repito, sou um seguidor do modelo brasileiro… Lula e Dilma têm uma boa relação com Chávez porque a Venezuela se converteu em um mercado muito importante para o Brasil. O Brasil vende e consegue contratos na Venezuela. Porém, o Brasil não compra da Venezuela.
Então, nesta relação, a balança se inclina a favor do Brasil. Logicamente, o presidente do Brasil tem que buscar os melhores interesses para o seu país. Porém, eu, como venezuelano, te digo: a amizade não tem que ser comprada. O Brasil tem sido um grande ganhador da destruição provocada por este modelo estatizante venezuelano, esse modelo destruiu o investimento privado. Então, o Brasil tem sido um grande vendedor de alimento, um grande vendedor de coisas, de bens para a Venezuela.
Ainda, com todo o respeito, o brasileiro é muito pragmático. E você sabe disso. O brasileiro é… Então, estou seguro que, assim como há uma boa relação com meu governo, com o governo do meu país hoje, se eu fosse presidente, também haveria uma boa relação. Porque não é somente uma relação pragmática, e no Brasil tem instituições.
Disso falaremos em seguida. Agora, do ponto de vista…
Eu creio que Lula e Dilma são estilos distintos. São, têm estilos distintos…
Como você os vê?
Eu creio que Dilma é menos vinculada à imagem e ao carisma… que teria Lula, como foi com Lula. Já passou o tempo de Lula e agora é (com Dilma) mais um tema…mais institucional…
Do ponto de vista político, e falando com um pouco de distanciamento para não cairmos em questões muito locais, que cenário você imagina para a Venezuela em curto prazo?
Não sabemos. Honestamente. Não sabemos, porque a Venezuela vive um tempo de muitas incertezas. Incertezas que foram promovidas pelo próprio governo. Lula foi visitar Chávez em Cuba e não pode vê-lo. Foi a Cuba, queria vê-lo e não pode. Nada se sabe realmente. Nunca houve um laudo médico… Lula teve um câncer e o Brasil soube que Lula teve um câncer. Lula informou. Cedeu a informação do ponto de vista médico. O país soube.
Sim…
Mas a Venezuela não é o Brasil. Aqui a informação vem em gotas. O presidente acaba de regressar, mas não há foto do presidente "regressado". Não há um laudo médico. Tudo é parte de uma grande intriga. Mas o que há por trás dessa intriga? Ninguém sabe.
Vai haver eleições na Venezuela. O governo colocou isso em debate quando o presidente Chávez disse: "Se eu não posso, aqui está quem eu quero que seja". E agora temos alguns senhores que estão exercendo a Presidência sem nenhuma legitimidade, porque não foram eleitos. A meu ver, quem ganhou foi Chávez, não foi o Maduro quem ganhou. E a mim faltavam apenas seis pontos para chegar aos 50% (dos votos)…
E você, certamente, será candidato havendo eleições…
Bom, ainda não tomei uma decisão… parece que as circunstâncias me obrigariam a voltar a ser candidato, porque eu creio que o que nós semeamos está ali. Eu não creio que seja algo que morreu com uma eleição.
Eu reforço a ideia para que o cidadão venezuelano decida: aqui está um modelo que, na nossa opinião, não funciona. Um modelo que não permite progredir. Aqui há outro modelo, que crê também na luta social para reduzir a pobreza, porém, com outra forma. Porque nós visamos o futuro e não apenas o curto prazo.
Falando de futuro, curto prazo e etc. Passado o calor dessas duríssimas batalhas políticas na Venezuela, que papel você imagina que mais adiante a história reservará para Hugo Chávez?
Na minha opinião, eu não gostaria de estar na história da Venezuela como alguém que dividiu o país…
…bem, quando vim pela primeira vez à Venezuela nesta fase, há 11 anos, o país não tinha sequer impostos… e o país já estava dividido na prática, na sua prática social, com 80% de pobres ou miseráveis…
Não reivindico o passado, eu creio que a Venezuela chegou a esse ponto devido a muitos erros. E isso explodiu. Eu creio que o presidente Chávez está perdendo uma oportunidade histórica, porque se eu analiso as condições que estão o país… Todos dizem que o país está melhor hoje.
Eu, que não sou defensor do passado, digo que o país não está melhor hoje. Eu não vejo que meu país hoje, com 21 mil mortos/ano pela violência, esteja melhor que há trinta ou há quarenta anos. Melhor do que quando eu tinha dez anos de idade… não me recordo que esse país tivesse uma violência como a de hoje, que aterroriza as crianças…
E nos aspectos sociais…
Positivos? Sim. No debate com Chavez… eu reconheço: deve se colocar na primeira linha o debate social. E a exclusão. E a necessidade de que o país tem em atender os pobres…
Que eram oitenta por cento…
Isso, sim… acontece que, para mim, na vida não é suficiente reconhecer o problema. É preciso resolver o problema.
Mas você não reconhece, digo, aqui em meu papel de provocador, que em grande parte houve programas e erradicação…
Sim, sim. Porém, os programas não são iguais aos do Brasil.
Em Londres, por exemplo, já há alguns anos, há regiões da cidade onde o poder público, o Estado, alocou habitações onde pobres agora vivem em habitações próximas às dos ricos, ou classes médias. Eu vinha com muita continuidade a Caracas, não vim por um tempo e agora e tenho visto uma quantidade imensa de habitações novas, apartamentos, casas, de viviendas… inclusive em algumas das principais avenidas… Uns dizem que foram entregues 350 mil…
Não. A cifra não é essa. É muitíssimo menos. Sim, eles estão construindo. Principalmente em Caracas. O problema é… são catorze anos. Se houvessem construído as viviendas desde o primeiro ano, provavelmente o déficit habitacional seria outro hoje.
O governo constroi 60 mil casas por ano. Poderia construir 150 mil. E por que não constrói 150 mil? Porque esse modelo não funciona. Porque esse modelo acabou com o cimento, acabou com o material que pemite se fazer a estrutura para o concreto… acabou com a produção de insumos para a construção. Hoje, importamos cimento, hoje, importamos muito… Hoje, pagamos muito mais caro.
Em 2002, a Venezuela importava 95%…
Não, não, não. Não é certo. Garanto que não. A taxa de importação da Venezuela no ano passado foi… (folheia papeis com dados). Aqui está. Tenho aqui os índices de importação desde o ano de 1999 até 2012. Aqui (em 99), eram 4 bilhões de dólares. Aqui (aponta para 2012), agora estamos com 18 bi, 20 bilhões de dólares, podemos arredondar porque segue crescendo. Tudo isso que você está vendo é a bonança petroleira na Venezuela. A situação da bonança petroleira entre 99… veja quanto estava o barril de petróleo, e veja como está agora.
Estava quanto e está quanto agora?
Em 98 chegou a estar entre 7 e 11 dólares. Agora, está acima dos cem dólares. É a bonança petroleira mais importante de toda a história da Venezuela. Havia uma bonança petroleira e o governo destinou parte dessa bonança petroleira para os programas sociais. Com o que estou de acordo, mas não creio que seja o suficiente.
Agora veja. No ano de 2012, o gasto público bateu recorde em toda a história da Venezuela… aumentou em 40% no ano passado. As importações chegaram a 55 bilhões. Nunca antes na história da Venezuela! E isso foi para quê? Para ganhar uma eleição e mais nada. Eu não enfrentei Hugo Chávez. Eu enfrentei todo o poder do Estado, da PDVSA (Petróleos de Venezuela SA.)
Como explicar que… creio que foram 16 eleições, referendos etc., e Chávez só perdeu uma. O que você diz basta para explicar isto?
Se você buscar, se você comparar em toda a América Latina, creio que são só dois ou três presidentes que ganharam a eleição e perderam a reeleição. A história da América Latina diz que…
Por quê?
Porque o exercício do poder concede umas vantagens que não as tem quem não está no poder. A campanha que levou Chávez à Presidência da Venezuela supera a campanha do Brasil, supera a campanha de Obama, em termos de gastos públicos.
Quanto foi, quanto custou?
Somente de gastos públicos, nos últimos meses do ano prévio à eleição, foram 5,8 bilhões de dólares.
E sua campanha? Como foi?
Como?
Como você a financiou? Como conseguiu financiá-la?
Obviamente com doações, porém, minha campanha foi, frente à do governo, muito modesta. Minha campanha foi fundamentalmente…
Quantos votos você teve?
Seis milhões e setecentos mil. Isso dá quarenta e quatro, quase quarenta e cinco por cento dos votos.
E o presidente Hugo Chávez?
Cinquenta e quatro. Dez pontos de diferença.
Uma outra coisa…
Só te digo para investigar. Provavelmente foi a campanha mais custosa da América em muito tempo, a campanha presidencial da Venezuela.
Capriles, nós nos conhecemos há muito pouco tempo, porém, diante da sua atitude, tenho certeza de que você não participaria de uma farsa…partindo desse pressuposto, imagina-se então que as eleições aqui foram, pelo menos do ponto de vista legal, corretas. Porém, fora da Venezuela, no Brasil, por exemplo, o tempo todo se fala da Venezuela como uma "ditadura". Bem, durante as últimas noites, eu estava no hotel, e vi na televisão um programa chamado "Buenas Noches"… Confesso que poucas vezes vi tanta contundência nas criticas, às vezes até mesmo muita agressividade. Ok, isso, a crítica, é um direito, mas noto que aquilo que vi e ouvi não me parece próprio de uma "ditadura"…
Não, e eu não creio…
…é uma coisa até espantosa…
Aqui, ao definir o governo, não podemos dizer que é uma democracia… como tampouco podemos dizer que é uma ditadura. É um modelo atípico. Não se pode dizer que é um modelo democrático.
Tomai por um exemplo. Agora houve uma reunião com o vice-presidente. E os governadores. Sou um governador de Estado. Sou o governador do segundo Estado mais importante, Miranda. O primeiro politicamente, o segundo em população. Nesse Estado vivem três milhões de pessoas. A reunião foi realizada agora com o vice-presidente. Eu não fui convidado.
Sobre o que era a reunião?
Para falar de, pressuponho, todos os temas do Estado. Mas não me incluíram na reunião. Isso não é uma democracia. Isso é revanchismo! Assim como você disse que viu a Globovisión, veja o Canal 8…
Já vi também… e estou falando desse ponto de vista…
…te insultam… chamaram-me de "narcotraficante" e… qualquer coisa assim. Não há nenhum país que tenha essa situação. Eu sou o inimigo. Há uma luta de extremos.
O cidadão com uma informação "normal" no Brasil , ouve que a Venezuela é "uma ditadura", e que aqui não se pode dizer nada….mas eu já vim muitas vezes para cá e vejo que isto não é verdade…
Claro. O que acontece é que você viu o extremo, que é a Globovisión. Porém…
Em 2002 e, desde então, acompanhei muito tempo aqui…
Isso mesmo. E foi terrível!
Foi um golpe militar e…
…um golpe de Estado!
…um golpe midiático e militar.
Sim, isso é claro. Porém, também Chávez tratou de dar um golpe de Estado. Não existe golpe bom e golpe mau…
…e são muitos os golpes, revoluções ou tentativas e insurreições na história da Venezuela. (NR: Algo como 12, desde 1835) Chávez, portanto, é uma decorrência natural da história da Venezuela…
Seguro que sim. A reflexão que eu te quero deixar é que os extremos se encontram. E você prova isso, vendo a Globovisión e vendo o Canal 8. Então, esses dois são os extremos. Agora, não é certo que aqui cada um pode dizer o que queira e isso não terá consequências. Não é certo dizer isso. Aqui há auto-censura, Bob. Tem muitos jornalistas que se auto-censuram porque o governo tem ameaçado as concessões das rádios que fazem oposição ao governo. Ou, digamos, não que faça oposição… mas para quem eu, por exemplo, fale, isso vai ter uma consequência sobre a emissora de rádio.
Mesmo na capital do Estado em que eu sou o governador. É incrível. Não há nenhum outro país democrático do mundo em que o governador de um Estado não pode ter acesso para falar à capital de seu Estado. Eu, em Miranda, não tenho acesso a nenhuma rádio da capital do meu Estado. Porque todas as rádios estão controladas pelo governo. Se eu quero falar a uma rádio na capital, não posso fazer. Isso não é democracia.
Ditadura? Nem ditadura, nem democracia. É um híbrido. Esse governo, que diz ser de esquerda, é de uma esquerda retrógrada porque as condutas do governo em algumas coisas parecem mais com a extrema direita, naqueles conceitos tradicionais de esquerda e direita. Você perguntava: "Qual é a visão ideológica do governo?" – Se diz de esquerda, porém, atua como extrema direita.
Isso não é, assim não é o Brasil. O fato de Lula ser amigo de Chávez ou que Dilma tenha boas relações com o governo de Chavez não quer dizer que o modelo brasileiro e o modelo venezuelano são amigos. Não, senhor. O Brasil tem um modelo radicalmente distinto do venezuelano. Este modelo se parece mais com o modelo cubano. Do estatismo. Do Estado que controla os bens, os meios de produção. E aí está o resultado. O resultado do fracasso. A mais alta inflação da América Latina. Enquanto os países da América Latina têm uma moeda que se faz forte, a moeda venezuelana é cada vez mais fraca.
Por fim…
Que mais que posso dizer? Que temos 20% de índice de desabastecimento, quando o normal de um país é 5%. Estamos em 20%. Você vai ao mercado e tem produtos que você não encontra. Por quê? Porque não se produz na Venezuela, se importa e a importação é falha, porque não há dólares.
Ok. Muito obrigado.
VENEZUELA: FATOS SEM FOTOS
...
Oposição exige sinais de vida de Hugo Chávez
TV estadão | 25.02.2013
Com recentes informações que sugerem piora do presidente venezuelano, oposição quer que governo declare ausência permanente de Chávez, e assim, uma nova eleição seria convocada no prazo de 30 dias.
YOANI SANCHEZ: POR QUEM OS SINOS DOBRAM
Indecentes úteis
26 de fevereiro de 2013 | 2h 04
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Aqueles que não conseguem convencer, quando fanáticos agridem, constrangem e, se lhes for dada a oportunidade, prendem e arrebentam.
Foi a nítida impressão deixada pela ação orquestrada a partir da Embaixada de Cuba com pequenos, barulhentos e virulentos grupos defensores da ditadura Castro, contra a presença da jornalista Yoani Sanchez por uma semana no Brasil.
Tirante a violência, nada de mais grave haveria no patrulhamento não fossem dois fatos: a presença de um assessor com assento no Palácio do Planalto na reunião em que a representação de Havana distribuiu a missão aos chefes dos tarefeiros e o mutismo do PT diante dos atentados à liberdade de uma pessoa dizer o que quer a quem estiver disposto a ouvir.
De onde fica plenamente autorizada a constatação de que esse tipo de intolerância não é episódio isolado nem nascido por geração espontânea. Foi apenas a manifestação mais histérica e malsucedida do modo petista (e área de influência) de lidar com as diferenças de ação e pensamento.
Numa expressão já meio gasta: o exercício do contraditório. Este enlouquece o PT. E aqui se fala do partido como um todo não na intenção maldosa de generalizar, mas porque a direção deixou o senador Eduardo Suplicy literalmente falando sozinho no enfrentamento da barbárie. Do partido como um todo não se ouviu palavra, nenhum reparo, apenas ressalvas aqui e ali à "deselegância" dos indecentes úteis.
A falta de cerimônia com que se dedicaram à selvageria é fruto do exemplo. Isso se vê quando o governo desqualifica de maneira desonesta (para não dizer mentirosa) as ações de seus antecessores - até mesmo os que hoje são seus aliados -, quando autoridades confundem crítica com falta de apreço à pátria, quando o dever de informar é classificado com desejo de conspirar, quando o exercício da oposição é "vendido" à população como uma atividade quase criminosa.
No caso da cubana ocorreu um monumental tiro no pé: o que seria uma visita tratada com destaque, mas sem maiores consequências nem celebrações - até porque Yoani Sanchez não diz nada que já não seja de conhecimento público sobre as agruras da vida em Cuba -, no lugar da visita de uma jornalista que reclama pela adaptação de seu país à contemporaneidade, o que se teve foi uma repercussão monumental.
Ao se tornar alvo (fácil) da rebeldia sem causa, virou capa da revista de maior circulação no Brasil, falou no Congresso Nacional e foi convidada de honra em programas de entrevistas no rádio e na televisão. Bom para ela, melhor ainda para a exposição das patrulhas ao ridículo. E tem gente que ainda apoia o direito da Embaixada de Cuba de pôr os patrulheiros na rua argumentando que o fez em legítima defesa.
Imagine o prezado leitor e a cara leitora se a Embaixada dos Estados Unidos resolvesse organizar manifestações no mesmo tom para revidar, a pretexto de proteger a moça dos ataques. O mundo viria abaixo e certamente o governo brasileiro protestaria contra a indevida intromissão.
Expurgo
A exposição de fotos no Senado, organizada pelo PT em comemoração aos 33 anos de vida e 10 do partido no poder, simplesmente suprimiu o ano de 2005. O período em que veio a público o esquema do mensalão também desapareceu das festividades partidárias.
Uma incoerência em relação aos protestos de injustiça e acusações de farsa que o PT faz sobre o julgamento. Acreditasse mesmo em suas alegações, o natural seria o partido aproveitar a passagem dos aniversários para ressaltar o que, na sua versão, seria algo nunca antes ocorrido no País em matéria de atentado à Justiça, aos direitos individuais e, sobretudo, à verdade.
Preferiu nada falar. De onde, se conclui, consentiu.
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FHC. ENTREVISTA
26/02/2013 | |
Entrevista Fernando Henrique Cardoso
Belo Horizonte — O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas/Correio, que o PSDB se inclina, neste momento, para indicar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República.
Segundo ele, qualquer que seja o candidato, precisará, desde já, percorrer o Brasil e assumir uma posição clara. Sem bater o martelo, entretanto, o ex-presidente afirma que, antes de falar em nomes, o partido precisará afinar o discurso e apresentar uma proposta para o país. FHC criticou a presidente Dilma Rousseff (PT) ao considerar que o PT antecipou o lançamento da candidatura dela à reeleição. “Não sei por que o governo precipitou o lançamento formal e já está usando aquele símbolo. Até ficou feio na foto que vi, me pareceu uma coisa meio soviética, o lado pior do sovietismo, de um personalismo muito forte”, afirmou, acrescentando em seguida que tudo o que Dilma fizer daqui para frente será percebido como eleitoreiro, o que levará também os demais candidatos a precipitarem as suas candidaturas.
Como está dentro do PSDB a escolha do candidato ao Planalto? Por enquanto, não há discussão. A sensação que tenho é de que o partido se inclina neste momento pelo nome do senador Aécio Neves. Agora, é um processo. A gente não pode antes da hora bater o martelo, porque pode haver outros candidatos. Defendo o partido aberto, democrático. Se for por consenso, não precisa de nada. Se alguém quiser ser candidato, tem direito de ser. Mas acho que é preciso, antes de falar em candidaturas, afinar o discurso. Tão importante quanto a pessoa é o que vai dizer. Isso é o que vai mobilizar. Eventos como o de hoje (ontem) são para afinar o discurso. Qual é a possibilidade hoje de Aécio ser o indicado? O nome mais citado é o do Aécio e nenhum outro está postulando a inclusão. Agora, o partido tem gente importante que temos de levar em consideração. Os governadores, não só de São Paulo e de Minas, mas outros. O José Serra, que teve votação enorme, faz parte do grupo de pessoas que pesam. A militância tem de se entusiasmar e a liderança tem de ter sensibilidade de ver se o candidato vai entusiasmar. O PSDB terá eleições para a presidência nacional. Aécio seria um nome para ganhar visibilidade para uma futura candidatura ao Planalto? Não acho que isso venha a ser uma questão de divisor do partido. Qualquer que seja o nome, ele tem de ter habilidade para unir. Na hipótese de ser Aécio o candidato, haveria problema para trabalhar o eleitorado paulista? São Paulo é grande demais para se ter essa ideia que tem de ser sempre só paulistas. O problema é o da mensagem. Se o candidato se apresentar em sintonia com que o povo está pensando, ele ganha. Então, tem de ouvir o povo. Não adianta ficar a discussão entre nós. Tem de sentir o que a população deseja. Fui candidato, ganhei em primeiro turno nas duas vezes, com votação em todo o Brasil. Ninguém questionou se eu era de São Paulo. Aliás, os últimos presidentes não nasceram em São Paulo. Eu não nasci lá, o Lula não nasceu lá, o Jânio Quadros não nasceu lá, o Washington Luís não nasceu lá. O último que nasceu lá foi Rodrigues Alves. Faz mais de 100 anos. Mostra que São Paulo é um estado aberto. Acho que o candidato tem de ganhar a população paulista. E qual seria o discurso? As últimas candidaturas a presidente do PSDB não defenderam o seu governo. Você não pode centrar uma campanha no passado. Tem de centrar no futuro. Essa que é a minha preocupação e a de todos os que têm responsabilidade no PSDB: o que vamos propor. A crítica já está sendo feita e vai ser acirrada, porque o governo está indo mal em muitos setores. Isso vai suscitar críticas, mas não só do PSDB. Basta ler na imprensa que há muitas restrições sobre o modo como o governo está resolvendo problemas de infraestrutura, questões orçamentárias, uma espécie de perda de rumo diante das circunstâncias internacionais. Mas, mais do que isso, temos de apresentar o lado positivo, o que vamos oferecer. Agora e, finalmente, de quem vier a ser candidato. Não podemos colocar na boca de alguém algo que não sente. Qual é o cenário político que o senhor considera para o ano que vem? Como está posto o quadro hoje, o PSDB terá candidato, a presidente Dilma será candidata. A Marina Silva explicitamente se coloca como postulante ao cargo. Eduardo Campos não assumiu, mas as ações são nessa direção. Eu sei lá se outros vão aparecer. De repente, o Fernando Gabeira vai ser candidato também. Não sei por que o governo precipitou o lançamento formal quase, já está usando aquele símbolo, até ficou feio na foto que vi, me pareceu uma coisa meio soviética, o lado pior do sovietismo, de um personalismo muito forte. Mas lançou. E normalmente quem está no governo não quer que lance candidatura porque atrapalha. Tudo o que a presidente Dilma fizer vão dizer: é eleitoreiro. Mas eles lançaram. Isso faz com que os outros comecem também a funcionar com muita antecipação. O senhor acha que Aécio, como potencial candidato, deve começar a percorrer o Brasil? Acho que um líder de expressão nacional precisa percorrer o Brasil. Qualquer líder que queira ter peso tem de percorrer e tem de falar. Pode escrever o que quiser que a influência é menor do que a fala e a presença, multiplicadas pela televisão e pelo rádio. O maior engano que pode incorrer o candidato é imaginar que, ao falar no Congresso ou no partido, está fazendo muita coisa por sua candidatura. Não está. As pessoas só se popularizam quando assumem risco, tomam posição e essa posição é visível. |
FHC: RETROSPECTIVAS E PERSPECTIVAS
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Em evento com Aécio, FHC afirma que Dilma "cospe no prato em que comeu"
- Rodrigo Lima/O Tempo/Estadão ConteúdoEncontro do PSDB em Belo Horizonte tem a presença do senador Aécio Neves, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e do governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse, nesta segunda-feira (25), em Belo Horizonte, que a presidente Dilma Rousseff (PT) é "ingrata". Na semana passada, durante ato de comemoração dos 33 anos do PT, Dilma afirmou não ter recebido herança de governo. "Não me deixaram nada", disse Dilma.
"O que podemos dizer de uma pessoa ingrata?", perguntou FHC. "A presidente cospe no prato em que comeu", afirmou o ex-presidente. "O PT usurpa o poder", disse o tucano.
As afirmações foram feitas durante evento do PSDB na capital mineira. Nome do PSDB como possível candidato à presidência da República, o senador Aécio Neves (PSDB) participa do evento, em um hotel na zona sul.
EM REUNIÃO, FHC DIZ QUE PT COPIOU PROJETOS DO PSDB
O encontro "Minas Pensa o Brasil", além de servir para reforçar a pré-candidatura de Aécio, dando início às discussões de seu programa de governo e sinalizando que ele deve ser o candidato tucano, serve, de acordo com FHC, como contraponto ao discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, semana passada, lançou a presidente Dilma Rousseff (PT) na corrida para um segundo mandato em 2014.
FHC usou a ironia para atacar o PT. "O PT tinha duas metas. O socialismo e a ética. Sobre o socialismo nunca mais falaram. Sobre a ética, meu Deus, não precisamos nem falar", disse o ex-presidente.
Diferentemente das outras campanhas, onde FHC foi jogado para escanteio, a estratégia do senador mineiro é destacar o governo do ex-presidente tucano. O ex-presidente teria um papel de protagonista, principalmente, por conta da influência que exerce sobre o PSDB de São Paulo.
FHC afirmou ainda que o senador tucano é o "único" candidato do PSDB. "Não há resistências [ao nome de Aécio]. Nunca soube de resistências ao nome do Aécio. Pode ter havido alguma coisa no passado", afirmo o ex-presidente. "Tem mais alguém que pode ser candidato dentro do PSDB?", perguntou.
"O PT deturpou e usurpou (...) O Aécio é renovação no estilo de falar. Tem uma leveza capaz de sacudir o país. Um candidato dinâmico. Jovem. O Brasil está com fadiga de quem está no governo", afirmou o ex-presidente.
"Mas não estamos lançando candidaturas. Estamos construindo uma candidatura", disse. "Para acabar com o bloco que controla o país, deixando-o prisoneiro de um só lado, temos de manter essa candidatura."
Aécio evita embate com Ciro Gomes
Aécio usou seu discurso para rebater críticas do o ex-ministro Ciro Gomes (PSB).
Neste sábado (23), o ex-ministro Ciro Gomes (PSB) usou o horário que tem numa rádio do Ceará, como comentarista esportivo, para criticar o senador Aécio Neves (PSDB-MG), possível candidato à Presidência da República pelo PSDB, além do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e da ex-senadora Marina Silva (Rede), ambos também possíveis candidatos à Presidência da República em 2014. Na sua fala, transmitida pela rádio "Verdes Mares", Ciro disse que nem o Aécio, nem o governador de Pernambuco, nem Marina têm proposta para o país.
Segundo Aécio, Ciro "tem seu estilo próprio" e evitou polemizar com o socialista. "Vou convidá-lo para uma conversa. Vou mostrar para o Ciro o conjunto de boas idéias que temos para o país", disse Aécio. O senador disse ainda que o "PSDB não é tão bom em propaganda, mas em administração", referindo-se ao ex-governador do Ceará.
Rádio
O senador tucano evitou comentar a iniciativa do Ministério Publico em investigar uma rádio de sua propriedade em Minas Gerais.
"Acho que as explicações já foram dadas", se limitou a afirmar o ex-governador de Minas Gerais, quando perguntado a respeito do caso.
De acordo com reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", o Conselho Nacional do Ministério Público vai decidir se a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público de Belo Horizonte poderá investigar repasses publicitários feitos pelo governo de Minas Gerais à Rádio Arco-Íris, que tem como sócios o senador e sua irmã, Andrea Neves. O CNMP deverá decidir esta semana se a competência é do procurador-geral de Justiça ou do coordenador de Defesa do Patrimônio de Belo Horizonte, João Medeiros.
Carlos Eduardo Cherem
Do UOL, em Belo Horizonte
Do UOL, em Belo Horizonte