O vôo governista dos tucanos
Brasília. A novela da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) fez o PT aprender que os meandros políticos levam o poder a se curvar, em alguns casos, aos adversários para conseguir o que deseja. E, num episódio inédito em praticamente cinco anos de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, o PSDB, rival declarado, fechará uma parceria com o Planalto. A bancada tucana no Senado vai ajudar o governo a prorrogar a contribuição, mas, ciente de seu poder no cenário político, cobrará o seu preço. Tudo está sendo planejado entre os senadores e governadores tucanos e o Palácio. O PSDB dará os votos que o governo precisa para aprovar a Proposta de Emenda Constitucional sem destaques e, em troca, os Estados e redutos dos senadores terão prioridade na liberação de verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os petistas, contrários à prorrogação quando o presidente era o tucano Fernando Henrique Cardoso, agora estão nas mãos do PSDB, que possui 13 dos 81 senadores na Casa. Peças-chave para corroborar o que for aprovado a favor do governo na Câmara, onde o Planalto tem folgada maioria, os tucanos vão ajudar Lula a conseguir o mesmo cenário no Senado. Hoje, o governo teria 41 dos 81 votos a favor - precisa de no mínimo 49, ou 3/5 do total. Fontes do Planalto admitem que a batalha vai ser dura. Como o Democratas fechou questão contra a prorrogação, caberá aos senadores tucanos engrossarem a lista dos governistas. O Planalto espera conquistar os votos de pelo menos nove da bancada oposicionista. - O governo não terá os 49 votos sem o PSDB - sentencia o líder da bancada tucana no Senado, Arthur Virgílio (AM). - Estamos conversando com nossos governadores. E a conversa passa também por recursos, pela liberação de verbas. Virgílio nega que o caso seja uma barganha política. A bancada do PSDB manterá firme a grita sobre a redução da alíquota da contribuição de 0,38% para 0,20% até 2011, o que o governo não quer. Mas isso, aliado ao movimento dos seis governadores do partido - que reivindicam a partilha da receita com Estados e municípios - é visto pelo Planalto como mera pressão para que o governo atenda aos interesses tucanos. No plenário, o presidente do partido, Tasso Jereissati (CE), foi taxativo. Por hora, oficialmente não. Tudo nos bastidores. O ministro da Fazenda, que conversa com os governadores, recebe hoje proposta do grupo: uma reforma tributária que desonere os Estados, em troca de apoio na votação no Senado pela CPMF. Mantega, dizem interlocutores, está confiante. Ele, o ministro da Coordenação Política, Walfrido Mares Guia, e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, são os contatos de Lula com o grupo. Esperam anunciar um acordo que prorrogue sem pesadelos a CPMF. Pode ser amanhã, na reunião da coordenação política, depois que o Palácio der o aval sobre a proposta dos governadores. - Aguardamos a proposta da reforma tributária. Vamos trabalhar para que ela saia este ano - adianta Roseana Sarney (PMDB-MA), líder do governo no Congresso. Enquanto isso, o governo manda o recado para o PSDB no Senado. Lembra que o Orçamento para 2008 depende também da CPMF, e que já existe "um compromisso grande com a saúde" - foco da arrecadação da contribuição. Observa ainda que a CPMF é imprescindível para o equilíbrio das contas públicas, independentemente de qual partido esteja no poder. O recado foi claro. Embora o PT deseje a presidência, tudo pode mudar nas eleições de 2010. Sabe que o PSDB tem dois candidatos fortes, os governadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), que também não abrirão mão da CPMF se subirem a rampa do palácio. Leandro Mazzini, JB Online.
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