terça-feira, março 17, 2009

APOSENTADORIA: BUROCRACIA E "MARKETING"

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Doei minha aposentadoria!

Autor(es): Lúcia Stela de Moura Gonçalves
O Globo - 17/03/2009

Trabalho desde os 17 anos. Após quatro idas ao posto de Copacabana - RJ, na expectativa de aposentadoria proporcional, desisti desta fase do processo - por tantos entraves inexplicáveis - e optei pela aposentadoria por idade, pós 60 anos. Na quinta ida ao posto, dia 2 de março de 2009, decidi doar ao INSS as minhas mais de 160 contribuições, conforme meus documentos que comprovam pagamentos.

Recebi carta, na qual me cobram pagamento de fevereiro de 2008, quando meu carnê comprova pagamento, inclusive, em data anterior ao vencimento, mas que, meses após, ainda não estava no sistema.

Foi-me solicitado comprovante de recolhimento ao INSS de período em que exerci cargo de DAS pelo Ministério do Meio Ambiente. Apresentei documento, na primeira fase do processo, que foi aceito; entretanto, agora, é novamente solicitado - embora conste do sistema -, ou o atual processo não caminhará.

Declarações anuais de recolhimento ao Instituto, tanto da Prevdata (fundo de pensão da Dataprev) como da Central de Cooperativas de Crédito do Estado do Rio de Janeiro, não serviram como comprovação, embora tenham servido para o Imposto de Renda. Como entender a diferença de conceitos?

Ao assinar declaração desse novo pedido de aposentadoria - repito, agora por idade - vi que minha área de atuação era "comércio" e que sou "empresária". Argumentei que sou jornalista desde 1979, jamais trabalhei em comércio e não sou empresária. Ouvi que o sistema não lista todas as profissões, mas só algumas áreas, como comércio, indústria, tecnologia...

Surpresa maior foi, em 2008, quando ouvi de atendente que aguardasse em casa uma carta do INSS com nome e agência do banco onde receberia a aposentadoria, já que tudo estava correto. Semanas após, recebi uma carta - recusando, por mais algumas pendências.

O governo, nota 10 em marketing, apregoa atendimento em 10 minutos para os que têm mais de 60 anos. Agendei em janeiro para atendimento em março, às 10h15m. Realmente, em 10 minutos, peguei a senha na agência - única vez em que não amanheci na calçada, por mais de hora, com dezenas de outros brasileiros. Só fui atendida às 11h30m e de lá saí por volta de 13 horas.

Desisti da aposentadoria a que tenho direito. E solicitei o montante de contribuições que fiz. Quis saber quanto estou doando ao INSS e contribuindo para futuras ações governamentais de marketing "pró-companheiros": não consegui saber.

LÚCIA STELA DE MOURA GONÇALVES é jornalista.

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