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Tabaco e álcool: vilões na legalidade
Álcool e tabaco entram na berlinda |
Autor(es): Luiz Urjais Marcelo Fernandes |
Jornal do Brasil - 07/06/2010 |
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Apesar de terem o consumo permitido por lei, o cigarro e as bebidas alcoólicas não deixam de figurar entre as substâncias consideradas tóxicas, e muito menos de serem caso de saúde pública. Integrante da OAB lembra que morrem mais pessoas por causa do consumo excessivo de álcool do que pelo uso de drogas ilícitas. No caso do tabaco, doenças ligadas ao fumo terão vitimado mais de 10 milhões de pessoas por ano até 2030. Especialistas lembram aumento do número de mortes pelo abuso de substâncias lícitas. Quando se debate os problemas decorrentes do abuso de drogas ilícitas, surge sempre o questionamento daquelas substâncias legalizadas, mas que também são enquadradas na definição de tóxicos – notadamente a bebida alcoólica e o tabaco.
Coordenador geral da Comissão de Combate às Drogas da OAB-RJ, o mestre em Direito Rogério Rocco, pondera: – Uma colega da OAB fez um levantamento e concluiu que morre mais gente no Brasil de complicações resultantes do alcoolismo que do consumo de todas as outras drogas juntas.
Sobre o cigarro, uma pesquisa da Agência Internacional de Pesquisa do Câncer aponta que o número de óbitos por ano causados por doenças relativas ao fumo será de 10 milhões até 2030. Já em relação ao álcool, um estudo do Ministério da Saúde mostrou que entre os anos 2000 e 2006, o número de mortes relacionadas ao consumo aumentou de 0,7 para 12,64 por grupos de 100 mil habitantes.
– O álcool altera a capacidade motora e a habilidade social. Sem contar o fator cognitivo, pois uma pessoa inteligente, bêbada, começa a falar coisas sem sentido. E ainda há as doenças decorrentes, como cirrose, e a destruição de células cerebrais – explica o médico Jorge Jáber, especialista em dependência clínica.
Segundo o conselheiro em dependência química Sergio Couto, o álcool é uma substância depressora do sistema nervoso central.
Ele funciona como um “abre-portas“ para deprimir a censura.
– Geralmente a pessoa diz “estou triste, vou tomar uma cerveja”, mas o que ela não sabe é que o álcool é uma droga que deprime ainda mais – explica o conselheiro.
No caso da maconha, Couto lembra um de seus piores efeitos: – Ocorre o que denominamos síndrome amotivacional, na qual a pessoa começa a se isolar e a não ligar para a aparência, por exemplo.
O antropólogo e membro do grupo Princípio Ativo (que organiza a Marcha da Maconha, em Porto Alegre), Rafael Gil, afirma que o debate vai além dos malefícios que o uso dessas substâncias pode causar. Segundo ele, debater sobre drogas ainda é um tabu em nossa sociedade e que, diferente de um remédio que possui uma bula de contra-indicações, não dá para generalizar os efeitos da substância nas pessoas.
– No momento em que for aberto um diálogo, será possível analisar não só os malefícios físicos das substâncias, como provocar a reforma das políticas públicas. |
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(*) É PROIBIDO PROIBIR. Caetano Veloso (composição), 1968. III Festival Internacional da Canção. A título de memória, Caetano foi vaiado enquanto apresentava (cantava) essa música.
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