Evo Morales admite que Bolívia exporta coca
Autor(es): Agencia o Globo |
O Globo - 18/10/2010 |
Presidente reconhece pela primeira vez que parte da produção é desviada para o narcotráfico internacional O presidente da Bolívia, Evo Morales, admitiu pela primeira vez que seu país exporta coca, contribuindo para o tráfico internacional de drogas. No sábado, durante a abertura de congresso da principal organização de cocaleros da Bolívia — da qual ele mesmo é líder —, Morales criticou os companheiros por desviarem a produção para abastecer os narcotraficantes e burlarem acordos que limitam a expansão do cultivo. — Vocês sabem que uma parte da nossa coca vai para o mercado ilegal — admitiu o presidente. — Se tudo fosse para o mercado legal, não haveria problemas, mas alguns desviam. Para Morales, “está na consciência dos camponeses” o fato de as cargas de coca que saem dos mercados primários não chegam aos mercados centrais da Bolívia porque são destinadas ao tráfico. A política de Morales baseia-se em acordos com os sindicatos para controlar a expansão do cultivo de coca. Ele impôs a cada família de camponeses cocaleros o limite de um “cato”, uma área de 1.640 metros quadrados, para o cultivo da planta. O presidente, porém, criticou o fato de que, para aumentar a produção, os cocaleros chegaram a inscrever crianças como proprietários dessas parcelas, pondo em risco o prestígio internacional de seu governo. — Temos que ser responsáveis conosco, com as novas gerações, com a Bolívia e com o mundo — alertou. — Nem livre cultivo de coca, nem coca zero. Segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano passado a área de cultivo de coca, matéria-prima da cocaína, cresceu pouco mais de 1% no país, de 30,5 mil para 30,9 mil hectares, dos quais 20 mil são legais e destinados a usos tradicionais. Ainda de acordo com a ONU, no ano passado apenas a região de Chapare produziu 26.800 toneladas de coca, das quais só 1.800 entraram nos mercados autorizados. Para Morales, o aumento das plantações “serve para que os gringos justifiquem” o descrédito à luta contra as drogas no país: já há alguns anos os EUA incluíram a Bolívia na lista de países que não cooperam com o combate ao narcotráfico. Morales ganhou destaque no cenário político boliviano nos anos 90 como líder do sindicato dos cocaleros da região de Chapare e, desde que assumiu a Presidência, já foi reeleito duas vezes como dirigente máximo da organização. Mas ele não controla todos os produtores bolivianos. Ainda no sábado, o sindicato dos cocaleros de Yungas de La Paz, região ao norte da capital, mantinha protestos que já duram seis dias contra o governo. Os manifestantes afirmam que o presidente atende melhor os camponeses do seu sindicato e fecharam a única estrada que conecta La Paz ao norte da Bolívia. Eles exigem que Morales anule uma nova lei que endurece o controle do comércio interno de folhas de coca, e pedem a demissão de dois ministros do governo atual. Mesmo com esses problemas, porém, a aprovação do presidente boliviano voltou a subir neste mês, após ter alcançado seu mais baixo nível em setembro. Segundo pesquisa do instituto Ipsos, publicada pelo jornal “La Prensa”, 52% dos bolivianos aprovam o presidente, contra os 46% registrados no mês passado. -------- (*) Frases de canções. "Apenas um rapaz latinoamericano" (Belchior). "Divino Maravilhoso (Caetano Veloso). --- |
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