BC da China eleva juros pela primeira vez em três anos. Bolsas caem e dólar sobe no mundo.
O Banco Central chinês surpreendeu ontem os mercados ao anunciar o primeiro aumento da taxa básica de juros desde 2007, num esforço do governo para esfriar a superaquecida economia e conter o risco inflacionário. A decisão derrubou as ações nas principais bolsas do mundo e os preços de commodities (matérias-primas), como o petróleo. Em sentido inverso, o dólar americano se valorizou no mundo. No Brasil, a moeda subiu 1,26% no câmbio comercial e fechou a R$ 1,687. Foi a maior alta percentual desde 29 de junho deste ano (1,57%), quando incertezas sobre a China também pesaram nas moedas mundiais. O movimento foi reforçado, em menor escala, pelo aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros em renda fixa de 4% para 6%, que entrou em vigor ontem.
O dólar americano valorizou-se ontem também frente ao euro (1,50%), a libra (1,58%), ao dólar canadense (1,61%) e ao dólar australiano (2,09%), entre outras moedas.
Em seu comunicado, o Banco Central da China anunciou o aumento dos juros em 0,25 ponto percentual. A taxa de depósitos subiu para 2,25%, e a taxa básica de empréstimo, para 5,56%.
— A alta da taxa de juro ficou fora completamente das expectativas do mercado — afirma Zhu Jiangfang, economistachefe da CITIC Securities, em Pequim. — O aumento recente da inflação deixou o juro real em território negativo. E eu acho que essa é a razão pela qual o Banco Central precisa elevar os juros de forma tão precipitada.
Para Mantega, alta ajuda no câmbio
A inflação anual ao consumidor chinês foi de 3,5% em agosto, e economistas esperam um aumento para 3,6% em setembro. Mesmo assim, a alta dos juros surpreendeu porque vários líderes haviam expressado confiança sobre o controle da inflação, dizendo que juros mais altos poderiam atrair capital especulativo do exterior.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, elogiou a decisão do BC chinês, afirmando que ela vai contribuir para a alta do dólar em todo o mundo. Indagado se a medida ajudaria a aliviar a guerra cambial, fruto de disputa internacional, o ministro disse que sim: — Ajuda sim. Pode valorizar um pouco a moeda deles. Vai na direção certa. Eles estão colaborando.
— Eles fizeram isso agora porque os dados do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos no país) e da inflação serão muito fortes para eles— diz Dariusz Kowalczyk, economista sênior do Credit Agricole CIB em Hong Kong.
O desempenho do PIB no terceiro trimestre deste ano e uma série de dados macroeconômicos de setembro serão divulgados amanhã pela China.
Economistas consultados pela Reuters preveem que o crescimento chinês tenha desacelerado para 9,5% na comparação anual, menos que a expansão de 10,3% do segundo trimestre.
Jorge Knauer, diretor de Tesouraria do Banco Prosper, afirma que a maior parcela da alta do dólar ontem teve origem no aumento de juros na China.
— A alta dos juros na China derrubou commodities, como metálicas e petróleo. O mundo percebe uma grande economia desacelerando e corre para o dólar, porto-seguro dos investidores — diz Knauer.
Para João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora, o aumento da alíquota de IOF no Brasil e dos juros na China não alteram, porém, a trajetória de valorização do real frente ao dólar.
— O efeito da China apenas mostrou o ambiente externo está definindo os rumos da moeda. O IOF apenas permitiu que a alta fosse um pouco intensificada, mas a China pesou mais — afirma Medeiros.
A decisão da China influenciou também a Bolsa de São Paulo. Seu principal índice, o Ibovespa, recuou 2,61%, aos 69.863 pontos. Essa foi a maior queda desde 29 de junho (3,50%). As ações de commodities sofreram, como a queda das preferenciais (PN) da Petrobras (4,24%) e da Vale (2,08%).
Em Wall Street, o Dow Jones recuou 1,48% e o Nasdaq, 1,76%. Na Europa, a Bolsa de Londres caiu 0,67% e a de Paris, 0,71%. Na Ásia, Tóquio, Xangai e Hong Kong fecharam em alta, puxadas pelos resultados positivos de empresas, sobretudo o Citigroup.
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