EFEITO JAPÃO SE ESPALHA NA ECONOMIA
MERCADO FAZ CONTA COM A TRAGÉDIA NO JAPÃO |
Autor(es): Daniele Camba |
Valor Econômico - 15/03/2011 |
Todo o comércio será afetado de imediato, pois a infraestrutura japonesa sofreu abalos consideráveis e os portos do nordeste foram destruídos. E com fábricas paralisadas, o desembarque de encomendas tende a ser um problema a mais para as empresas japonesas. "Num primeiro momento deve acontecer a suspensão de contratos, depois o can- celamento de alguns", prevê José Augusto de Castro, vice-presidente da Asso- ciação de Comércio Exterior do Brasil. Os analistas acreditam que as principais beneficiadas devem ser as empresas que, de alguma forma, podem contribuir para a reconstrução do país. Nessa linha de raciocínio, as siderúrgicas devem ser as maiores ganhadoras. Isso explica, inclusive, a valorização desses papéis na sexta-feira e ontem. As notícias dão conta de que as cinco principais siderúrgicas japonesas (Muroran e Kimitsu, da Nippon Steel; Chiba e Keihin, da JFE Holding; e Kashima, da Sumitomo Metal Industries) paralisaram ou reduziram significativamente a produção. O chefe de análise da corretora SLW, Pedro Galdi, lembra que, além de ter que importar aço de outros países, o Japão provavelmente deixará de exportar, o que deve causar um equilíbrio entre oferta e demanda e contribuir para um aumento nos preços da commodity no mercado internacional. "As siderúrgicas brasileiras devem ganhar mais com a melhora do cenário para o aço do que propriamente com a exportação para o Japão, já que, por uma questão de logística, o país deve importar muito mais de outras siderúrgicas asiáticas", explica.
Já sobre a Vale, existe uma discussão de como ela deve ficar com a tragédia. Galdi lembra que, num primeiro momento, a mineradora perderia, já que 11% do seu faturamento vem das exportações para as siderúrgicas japonesas, sendo que algumas estão parando suas operações. Ele acredita, no entanto, que a Vale deve ganhar vendendo minério de ferro para as outras siderúrgicas que precisarão produzir mais do que nunca para bancar a reconstrução do país. Na visão economista-chefe da Way Investimentos, professor de finanças da ESPM-RJ e do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo, esse possível crescimento nas vendas pode deixar em segundo plano problemas que pairam hoje sobre as ações da Vale. "Existe uma nuvem negra em cima da companhia, por causa das questões dos royalties e pelas incertezas sobre a possível saída de Roger Agnelli", lembra o professor. A outra gigante do mercado brasileiro, a Petrobras, também pode ganhar com a tragédia chinesa, acredita Espírito Santo. Os problemas nas usinas nucleares, com a possibilidade de vazamentos, deve provocar falta de energia, se refletindo sobre o preço do petróleo. Junte-se a isso os conflitos no Oriente Médio e no norte da África, que já estão pressionando o preço da commodity. Galdi, da SLW, também acredita que empresas de alimentos, como Brasil Foods, Marfrig e JBS, também devem ganhar com a exportação para a China. "O país precisará de tudo um pouco para se reerguer, de comida à matéria-prima para construir casas, ruas, estradas etc." Ele cita as produtoras de madeira, como a Duratex. Daniele Camba é repórter de Investimentos |
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