Medição de carbono vira diferencial competitivo
Autor(es): Sérgio Adeodato | Para o Valor, de São Paulo |
Valor Econômico - 20/06/2011 |
Clima: Fabricantes de papel já têm como identificar a pegada do produto "É forte a demanda externa para a iniciativa, que permite comparar produtos e embute o compromisso com a redução de emissões de gases do efeito estufa", aponta Marina Carlini, consultora de sustentabilidade da Suzano Papel e Celulose, empresa que saiu na frente ao medir o carbono associado às diferentes linhas de papel. A metodologia PAS 2050, desenvolvida pelo Departamento de Meio Ambiente do Reino Unido e Instituto Britânico de Padrões, tem a chancela do Carbon Trust - certificadora internacional que atesta e valida emissões. "É um trabalho que envolve desde os insumos florestais e fabris com suas emissões até a produção, comercialização, uso pelo consumidor e disposição final do papel após o descarte, abrangendo toda a cadeia", explica Carlini. No caso da marca mais popular da empresa, uma folha de papel sufite vendida no Brasil está associada a gases equivalentes a 6 gramas de dióxido de carbono (CO2). Em termos comparativos, toda emissão de gases-estufa do município de São Paulo corresponderia a cerca de 2,6 trilhões de folhas. O papel exportado para a Europa tem pegada de 8,5 gramas. Para os EUA, fica em 9,5 gramas, incluindo o carbono atrelado ao transporte e ao uso na região de destino. "O mais importante não é o número em si, mas o claro aceno para o mercado sobre o propósito de reduzir emissões, pois o Carbon Trust obrigatoriamente recalcula os dados da empresa a cada dois anos, propondo cortes gradativos", afirma. O selo Carbon Reduction Label, que estampa o desenho de um pezinho simbolizando a "pegada", já está nas embalagens da Suzano ao lado dos emblemas da reciclagem e da origem socioambiental. "Para uma empresa que exporta 40% da produção de papel, chegar primeiro é importante no cenário de concorrência acirrada", atesta Adriano Canela, gerente de estratégia e marketing. "É uma questão de credibilidade", diz o gerente, também válida para a celulose da empresa, 80% exportada. Vendida para a China, cada tonelada de celulose produzida em Mucuri (BA) "carrega" gases equivalentes a 900 quilos de CO2. Para a Europa, a pegada cai para 750 quilos. "A gestão do carbono funciona como um raio X de todo o processo de produção e, a partir da pegada de carbono, podemos detectar pontos críticos e mapear oportunidades de redução para futuramente estabelecermos metas", ressalta Canela. O próximo passo, segundo ele, é envolver no cálculo também a captura de carbono da atmosfera pelos plantios de eucalipto que alimentam as fábricas, o que depende de uma metodologia que tenha o consenso global. "Por conta da substituição de combustível fóssil na matriz energética, também olhamos para o mercado de crédito de carbono, mas é necessário aguardar as decisões dos países sobre o período posterior ao Protocolo de Kyoto, válido até 2012", revela o gerente. Mapas de carbono se tornaram rotina entre concorrentes, como a Fibria, que investe na medição sobre o potencial de suas florestas - inclusive as nativas. "As áreas de conservação têm grande poder de melhorar o balanço de carbono", estima João Augusti, gerente de meio ambiente florestal. Para cada tonelada de gases emitida na produção, seis são sequestradas da atmosfera pelas árvores. A companhia segue a metodologia do GHG Protocol, que não faz cálculos sobre a matéria-prima e o uso dos produtos, restringindo-se às emissões das operações internas. "Daremos prioridade à compra de insumos de quem estiver no mesmo processo", revela João Augusti. |
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