Os sem-rosto
:: Carlos Alexandre
Uma característica dos protestos que desde a semana passada vicejam pelo país é a ausência de um rosto. Não se sabe quem são os líderes dos movimentos contra os vinte centavos na tarifa de ônibus de São Paulo, tampouco os próceres das manifestações em Brasília. Há uma dificuldade em se identificar porta-vozes dessa grita generalizada, que se organiza nas redes sociais e vai às ruas para protestar.
Até o momento, o que se observa é uma grande balbúrdia, promovida até pelas autoridades. A ação da Polícia Militar em São Paulo provocou indignação, com jornalistas e público feridos seriamente, e a suspensão do uso de balas de borracha indica que houve excessos. Mas é preciso ressaltar que ativistas destruíram o patrimônio público, como paradas de metrô. Estamos, pois, no pior dos cenários: manifestantes vândalos e policiais despreparados. O governador Geraldo Alckmin, para complicar a confusão, avaliou os protestos como ato político. Como se houvesse algum demérito na livre expressão de brasileiros, um direito assegurado pela Constituição.
Em Brasília, os grupos contrários aos gastos exorbitantes da Copa enfrentaram a força a partir do momento em que queriam interferir na entrada dos torcedores rumo ao estádio. Havia crianças no local. Com a exaltação dos ânimos, bastava um instante para a situação fugir do controle. O que se poderia fazer? É sabido que todo aparato de segurança age com força para reprimir, de forma inequívoca, abusos em manifestações. Não há como pedir gentilmente a 2,5 mil jovens que se afastem da área isolada do estádio para evitar que o pânico se instale no local onde estão mais de 60 mil pessoas.
Evidentemente, é possível que tenham ocorrido abusos das forças policiais. Existem instâncias que têm, por dever, investigar e coibir procedimentos inadequados. No mais, o que se observa é a política do grito. Enquanto os governistas afirmam — sem apresentar provas irrefutáveis —que os manifestantes foram pagos para perturbar a ordem, a internet está recheada de ataques generalistas a políticos. Para um país que poderia transmitir ao mundo uma imagem positiva, a foto não é das melhores.
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