POR BOB FERNANDES, DIRETO DE CARACAS
 
À exceção da recuperação da saúde do presidente Hugo Chávez, e num prazo que não seja excessivamente longo, os cenários na Venezuela têm como caminho constitucional uma nova eleição presidencial. Terra Magazine, do portal Terra, acompanha os fatos em Caracas desde a madrugada de 18 de fevereiro, quando Chávez retornou de Havana. Portanto, e para tanto, tem buscado conversar com lideranças nos mais distintos polos de poder. Poder formal ou informal. E, assim, entrevistou Henrique Capriles Radonski, governador de Miranda, estado que abriga parte da capital.
 
A 7 de outubro passado, na disputa pela Presidência da República, Capriles teve 6 milhões e 700 mil votos, 44,9% do eleitorado. Foi derrotado por Hugo Chávez, reeleito com dez pontos à sua frente. 

Perguntado sobre uma eventual e próxima candidatura à Presidência Capriles disse que "ainda" não tomou "uma decisão", mas admitiu a Terra Magazine:
 
-… parece que as circunstâncias me obrigariam a voltar a ser candidato, porque eu creio que o que nós semeamos está ali. Eu não creio que seja algo que morreu com uma eleição.
 
No final de semana, a Mesa de Unidade Democrática – MDU-, que congrega diversos partidos da oposição, reuniu-se. Decidiu-se que, em caso de nova eleição, se buscará um candidato único.
 
Capriles, do Primero Justicia, partido do qual é líder e um dos fundadores, é obviamente um candidato, como deixa claro nesta conversa.
 
Descendente de judeus russos e poloneses, por parte da mãe, e de sefarditas de Curação, por parte de pai, o advogado Capriles Radonski tem 40 anos.
 
Ex-prefeito de Baruta por dois mandatos, ex-presidente da Câmara dos Deputados, Capriles diz na conversa abaixo:
 
- Nem ditadura, nem democracia. A Venezuela é um híbrido.
 
Capriles concorda que em 2002 houve "um golpe de estado".
 
- Um golpe midiático e militar? – é a pergunta. "Sim, isso é claro", é a resposta.
 
Na conversa a seguir, Henrique Capriles lembra, também, a tentativa de golpe de Hugo Chávez, ataca duramente o que vê como um "modelo econômico fracassado", o da Venezuela, e diz  ser "seguidor" do modelo do Brasil. O Brasil de Lula, e agora de Dilma, que, no seu entender, mescla Estado e iniciativa privada na dose adequada.
 
Capriles discorre, criticamente, sobre o papel que a história reservará para Hugo Chávez, e aponta o que considera erros do chavismo e graves problemas na economia.
 
Articulado, raciocínio rápido, olhar por vezes rútilo a pontuar a conversa, Henrique Capriles recebeu Terra Magazine em seu escritório de campanha.  Escritório da campanha passada. A próxima pode estar logo adiante.
 
A seguir, a entrevista:
 
Terra Magazine: Como está?
 
Henrique Capriles: Bem… eu vou ao Brasil.
 
Quando?
 
Muito em breve. Estou planejando minha visita ao Brasil.
 
E irá para onde? São Paulo, Brasília…
 
Provavelmente, São Paulo, Brasília e Rio.
 
Já tem alguns encontros marcados?
 
Estou trabalhando a agenda. No ano passado, estava marcado, mas lamentavelmente a dinâmica dos fatos não me permitiu. Mas devo sim ir ao Brasil, creio que seja já no próximo mês.
 
Já tem agenda marcada? Agenda política, imagino…
 
Estou trabalhando nisso. Terá de tudo um pouco. Mídia, políticos e economistas. Conversarei com gente que pode se interessar pela Venezuela.
 
Muita gente se interessa pela Venezuela. De alguns anos para cá, a Venezuela se tornou…
 
Claro. Acontece é que a relação com, digamos, o Brasil, realmente tem sido muito mais uma relação de contratos e de busca de contratos junto ao governo venezuelano do que propriamente para desenvolver uma atividade econômica…
 
…conjunta…
 
…ou independente. Com o setor privado brasileiro entrando, investindo e desenvolvendo atividades…
 
A que tipo de negócios, especificamente, você se refere?
 
Têm sido feitas contratações até agora, sobretudo, com o Estado… para temas de construção de obras… ou ligadas ao tema petroleiro.
 
Em números macro, como está, a seu ver, a economia na Venezuela? Quais são os números?
 
 A inflação geral… veja estes números… (Capriles folheia e mostra dados de um fichário) Entre 1999 e 2011, a inflação foi de 1009%. Olha onde está o Brasil?
 
Pelo que leio aqui, Brasil teve 117%. É isto?
 
Olha onde está o Equador, que acabou de passar por um processo eleitoral, 348%, e segue sendo muito inferior à Venezuela. Uma das mais altas, diante dos grandes amigos de Chávez. Equador, Argentina, Bolívia (que tem uma inflação baixa) e Nicarágua.
 
A inflação da Venezuela, hoje, ao que parece, é de 29%, é isso?
 
Sim. Acontece que este ano, já em janeiro, houve um aumento de 3.3%. Janeiro… Sabe, o que eu quero dizer é que, para fim do ano, projeta-se que a inflação da Venezuela esteja num patamar acima dos 30%. A mais alta das Américas, ao lado da do Haiti.
 
E quais são, na sua visão, os principais erros?
 
O modelo. Fracassado completamente.
 
Por quê?
 
No modelo estatista, estatizante, o setor privado vai se reduzindo, reduzindo, reduzindo… Muito diferente do que é feito no Brasil.
 
No Brasil, também há a mesma "acusação" por parte da oposição, que reclama de "muita intervenção" do governo, do Estado…
 
Não, não… Eu simpatizo com o modelo brasileiro. Porque o modelo brasileiro entendeu a política que garante o combate à pobreza…Nós temos esses programas e o Brasil também. Mas, no caso da Venezuela, o objetivo mais importante é como nós vamos reduzir a pobreza. Como faremos para que a Venezuela tenha menos pobres. Porém, não me refiro a reduzir a pobreza apenas na base de destinar um recurso, de dar um recurso. Para mim, o que elimina a pobreza é a possibilidade de que uma pessoa tenha um emprego, e que esse emprego seja estável.
 
Sim, mas como?
 
Como se faz isso? Isso é feito entre Estado e o setor privado. O Estado regula, dá garantias, promove. Mas o que gera o grande multiplicador de progresso é o setor privado. O modelo da Venezuela não se parece com o modelo brasileiro, mas sim com o modelo cubano. O Estado controlando todos os meios de produção.
 
E o modelo chinês?
 
Não. Porque a China está aberta aos investimentos. A China é comunista simplesmente em sua concepção política do exercício do poder. Porém, a China é capitalismo, praticamente. Eu não sou defensor do capitalismo, tampouco não sou defensor do socialismo. São conceitos de sua pura concepção. Eu creio num modelo tipo o do Brasil, um modelo que se adapta à realidade do país. O Estado não pode expropriar, destruir o investimento privado. Porque se não há o investimento privado, é impossível imaginar que o Estado possa financiar ou gerar esse progresso.
 
Há aí uma contradição, segundo o que vê e diz a oposição no Brasil… porque, do ponto de vista politico, há dez anos, com Lula e Dilma, o Brasil está pessoal e politicamente próximo a Chávez.
 
Eu, com todo respeito ao Brasil, porque, repito, sou um seguidor do modelo brasileiro… Lula e Dilma têm uma boa relação com Chávez porque a Venezuela se converteu em um mercado muito importante para o Brasil. O Brasil vende e consegue contratos na Venezuela. Porém, o Brasil não compra da Venezuela.
 
Então, nesta relação, a balança se inclina a favor do Brasil. Logicamente, o presidente do Brasil tem que buscar os melhores interesses para o seu país. Porém, eu, como venezuelano, te digo: a amizade não tem que ser comprada. O Brasil tem sido um grande ganhador da destruição provocada por este modelo estatizante venezuelano, esse modelo destruiu o investimento privado. Então, o Brasil tem sido um grande vendedor de alimento, um grande vendedor de coisas, de bens para a Venezuela.
 
Ainda, com todo o respeito, o brasileiro é muito pragmático. E você sabe disso. O brasileiro é… Então, estou seguro que, assim como há uma boa relação com meu governo, com o governo do meu país hoje, se eu fosse presidente, também haveria uma boa relação. Porque não é somente uma relação pragmática, e no Brasil tem instituições.
 
Disso falaremos em seguida. Agora, do ponto de vista…
 
Eu creio que Lula e Dilma são estilos distintos. São, têm estilos distintos…
 
Como você os vê?
 
Eu creio que Dilma é menos vinculada à imagem e ao carisma… que teria Lula, como foi com Lula. Já passou o tempo de Lula e agora é (com Dilma) mais um tema…mais institucional…
 
Do ponto de vista político, e falando com um pouco de distanciamento para não cairmos em questões muito locais, que cenário você imagina para a Venezuela em curto prazo?
 
Não sabemos. Honestamente. Não sabemos, porque a Venezuela vive um tempo de muitas incertezas. Incertezas que foram promovidas pelo próprio governo. Lula foi visitar Chávez em Cuba e não pode vê-lo. Foi a Cuba, queria vê-lo e não pode. Nada se sabe realmente. Nunca houve um laudo médico… Lula teve um câncer e o Brasil soube que Lula teve um câncer. Lula informou. Cedeu a informação do ponto de vista médico. O país soube.
 
Sim… 
 
Mas a Venezuela não é o Brasil. Aqui a informação vem em gotas. O presidente acaba de regressar, mas não há foto do presidente "regressado". Não há um laudo médico. Tudo é parte de uma grande intriga. Mas o que há por trás dessa intriga? Ninguém sabe.
 
Vai haver eleições na Venezuela. O governo colocou isso em debate quando o presidente Chávez disse: "Se eu não posso, aqui está quem eu quero que seja". E agora temos alguns senhores que estão exercendo a Presidência sem nenhuma legitimidade, porque não foram eleitos. A meu ver, quem ganhou foi Chávez, não foi o Maduro quem ganhou. E a mim faltavam apenas seis pontos para chegar aos 50% (dos votos)…
 
E você, certamente, será candidato havendo eleições…
 
Bom, ainda não tomei uma decisão… parece que as circunstâncias me obrigariam a voltar a ser candidato, porque eu creio que o que nós semeamos está ali. Eu não creio que seja algo que morreu com uma eleição.
 
Eu reforço a ideia para que o cidadão venezuelano decida: aqui está um modelo que, na nossa opinião, não funciona. Um modelo que não permite progredir. Aqui há outro modelo, que crê também na luta social para reduzir a pobreza, porém, com outra forma. Porque nós visamos o futuro e não apenas o curto prazo.
 
Falando de futuro, curto prazo e etc. Passado o calor dessas duríssimas batalhas políticas na Venezuela, que papel você imagina que mais adiante a história reservará para Hugo Chávez?
 
Na minha opinião, eu não gostaria de estar na história da Venezuela como alguém que dividiu o país…
 
…bem, quando vim pela primeira vez à Venezuela nesta fase, há 11 anos, o país não tinha sequer impostos… e o país já estava dividido na prática, na sua prática social, com 80% de pobres ou miseráveis…
 
Não reivindico o passado, eu creio que a Venezuela chegou a esse ponto devido a muitos erros. E isso explodiu. Eu creio que o presidente Chávez está perdendo uma oportunidade histórica, porque se eu analiso as condições que estão o país… Todos dizem que o país está melhor hoje.
 
Eu, que não sou defensor do passado, digo que o país não está melhor hoje. Eu não vejo que meu país hoje, com 21 mil mortos/ano pela violência, esteja melhor que há trinta ou há quarenta anos. Melhor do que quando eu tinha dez anos de idade… não me recordo que esse país tivesse uma violência como a de hoje, que aterroriza as crianças…
 
E nos aspectos sociais…
 
Positivos? Sim. No debate com Chavez… eu reconheço: deve se colocar na primeira linha o debate social. E a exclusão. E a necessidade de que o país tem em atender os pobres…
 
Que eram oitenta por cento…
 
Isso, sim… acontece que, para mim, na vida não é suficiente reconhecer o problema. É preciso resolver o problema.
 
Mas você não reconhece, digo, aqui em meu papel de provocador, que em grande parte houve programas e erradicação…
 
Sim, sim. Porém, os programas não são iguais aos do Brasil.
 
Em Londres, por exemplo, já há alguns anos, há regiões da cidade onde o poder público, o Estado, alocou habitações onde pobres agora vivem em habitações próximas às dos ricos, ou classes médias. Eu vinha com muita continuidade a Caracas, não vim por um tempo e agora e tenho visto uma quantidade imensa de habitações novas, apartamentos, casas, de viviendas… inclusive em algumas das principais avenidas… Uns dizem que foram entregues 350 mil…
 
Não. A cifra não é essa. É muitíssimo menos. Sim, eles estão construindo. Principalmente em Caracas. O problema é… são catorze anos. Se houvessem construído as viviendas desde o primeiro ano, provavelmente o déficit habitacional seria outro hoje.
 
O governo constroi 60 mil casas por ano. Poderia construir 150 mil. E por que não constrói 150 mil? Porque esse modelo não funciona. Porque esse modelo acabou com o cimento, acabou com o material que pemite se fazer a estrutura para o concreto… acabou com a produção de insumos para a construção. Hoje, importamos cimento, hoje, importamos muito… Hoje, pagamos muito mais caro.
 
Em 2002, a Venezuela importava 95%…
 
Não, não, não. Não é certo. Garanto que não. A taxa de importação da Venezuela no ano passado foi… (folheia papeis com dados). Aqui está. Tenho aqui os índices de importação desde o ano de 1999 até 2012. Aqui (em 99), eram 4 bilhões de dólares. Aqui (aponta para 2012), agora estamos com 18 bi,  20 bilhões de dólares, podemos arredondar porque segue crescendo. Tudo isso que você está vendo é a bonança petroleira na Venezuela. A situação da bonança petroleira entre 99… veja quanto estava o barril de petróleo, e veja como está agora.
 
Estava quanto e está quanto agora?
 
Em 98 chegou a estar entre 7 e 11 dólares. Agora, está acima dos cem dólares. É a bonança petroleira mais importante de toda a história da Venezuela. Havia uma bonança petroleira e o governo destinou parte dessa bonança petroleira para os programas sociais. Com o que estou de acordo, mas não creio que seja o suficiente.
 
Agora veja. No ano de 2012, o gasto público bateu recorde em toda a história da Venezuela… aumentou em 40% no ano passado. As importações chegaram a 55 bilhões. Nunca antes na história da Venezuela! E isso foi para quê? Para ganhar uma eleição e mais nada. Eu não enfrentei Hugo Chávez. Eu enfrentei todo o poder do Estado, da PDVSA (Petróleos de Venezuela SA.)
 
Como explicar que… creio que foram 16 eleições, referendos etc.,  e Chávez só perdeu uma. O que você diz basta para explicar isto?
 
Se você buscar, se você comparar em toda a América Latina, creio que são só dois ou três presidentes que ganharam a eleição e perderam a reeleição. A história da América Latina diz que…
 
Por quê?
 
Porque o exercício do poder concede umas vantagens que não as tem quem não está no  poder. A campanha que levou Chávez à Presidência da Venezuela supera a campanha do Brasil, supera a campanha de Obama, em termos de gastos públicos.
 
Quanto foi, quanto custou?
 
Somente de gastos públicos, nos últimos meses do ano prévio à eleição, foram 5,8 bilhões de dólares.
 
E sua campanha? Como foi?
 
Como?
 
Como você a financiou? Como conseguiu financiá-la?
 
Obviamente com doações, porém, minha campanha foi, frente à do governo, muito modesta. Minha campanha foi fundamentalmente…
 
Quantos votos você teve?
 
Seis milhões e setecentos mil. Isso dá quarenta e quatro, quase quarenta e cinco por cento dos votos.
 
E o presidente Hugo Chávez?
 
Cinquenta e quatro. Dez pontos de diferença.
 
Uma outra coisa…
 
Só te digo para investigar. Provavelmente foi a campanha mais custosa da América em muito tempo, a campanha presidencial da Venezuela.
 
Capriles, nós nos conhecemos há muito pouco tempo, porém, diante da sua atitude, tenho certeza de que você não participaria de uma farsa…partindo desse pressuposto, imagina-se então que as eleições aqui foram, pelo menos do ponto de vista legal, corretas. Porém, fora da Venezuela, no Brasil, por exemplo, o tempo todo se fala da Venezuela como uma "ditadura". Bem, durante as últimas noites, eu estava no hotel, e vi na televisão um programa chamado "Buenas Noches"… Confesso que poucas vezes vi tanta contundência nas criticas, às vezes até mesmo muita agressividade. Ok, isso, a crítica, é um direito, mas noto que aquilo que vi e ouvi não me parece próprio de uma "ditadura"…
 
Não, e eu não creio…
 
…é uma coisa até espantosa…
 
Aqui, ao definir o governo, não podemos dizer que é uma democracia… como tampouco podemos dizer que é uma ditadura. É um modelo atípico. Não se pode dizer que é um modelo democrático.
 
Tomai por um exemplo. Agora houve uma reunião com o vice-presidente. E os governadores. Sou um governador de Estado. Sou o governador do segundo Estado mais importante, Miranda. O primeiro politicamente, o segundo em população. Nesse Estado vivem três milhões de pessoas. A reunião foi realizada agora com o vice-presidente. Eu não fui convidado.
 
Sobre o que era a reunião?
 
Para falar de, pressuponho, todos os temas do Estado. Mas não me incluíram na reunião. Isso não é uma democracia. Isso é revanchismo! Assim como você disse que viu a Globovisión, veja o Canal 8…
 
Já vi também… e estou falando desse ponto de vista…
 
…te insultam… chamaram-me de "narcotraficante" e… qualquer coisa assim. Não há nenhum país que tenha essa situação. Eu sou o inimigo. Há uma luta de extremos.
 
O cidadão com uma informação "normal" no Brasil , ouve que a Venezuela é "uma ditadura", e que aqui não se pode dizer nada….mas eu já vim muitas vezes para cá e vejo que isto não é verdade…
 
Claro. O que acontece é que você viu o extremo, que é a Globovisión. Porém…
 
Em 2002 e, desde então, acompanhei muito tempo aqui…
 
Isso mesmo. E foi terrível!
 
Foi um golpe militar e…
 
um golpe de Estado!
 
…um golpe midiático e militar.
 
Sim, isso é claro. Porém, também Chávez tratou de dar um golpe de Estado. Não existe golpe bom e golpe mau…
 
…e são muitos os golpes, revoluções ou tentativas e insurreições na história da Venezuela. (NR: Algo como 12, desde 1835) Chávez, portanto, é uma decorrência natural da história da Venezuela…
 
Seguro que sim. A reflexão que eu te quero deixar é que os extremos se encontram. E você prova isso, vendo a Globovisión e vendo o Canal 8. Então, esses dois são os extremos. Agora, não é certo que aqui cada um pode dizer o que queira e isso não terá consequências. Não é certo dizer isso. Aqui há auto-censura, Bob. Tem muitos jornalistas que se auto-censuram porque o governo tem ameaçado as concessões das rádios que fazem oposição ao governo. Ou, digamos, não que faça oposição… mas para quem eu, por exemplo, fale, isso vai ter uma consequência sobre a emissora de rádio.
 
Mesmo na capital do Estado em que eu sou o governador. É incrível. Não há nenhum outro país democrático do mundo em que o governador de um Estado não pode ter acesso para falar à capital de seu Estado. Eu, em Miranda, não tenho acesso a nenhuma rádio da capital do meu Estado. Porque todas as rádios estão controladas pelo governo. Se eu quero falar a uma rádio na capital, não posso fazer. Isso não é democracia.
 
Ditadura? Nem ditadura, nem democracia. É um híbrido. Esse governo, que diz ser de esquerda, é de uma esquerda retrógrada porque as condutas do governo em algumas coisas parecem mais com a extrema direita, naqueles conceitos tradicionais de esquerda e direita. Você perguntava: "Qual é a visão ideológica do governo?" – Se diz de esquerda, porém, atua como extrema direita.
 
Isso não é, assim não é o Brasil. O fato de Lula ser amigo de Chávez ou que Dilma tenha boas relações com o governo de Chavez não quer dizer que o modelo brasileiro e o modelo venezuelano são amigos. Não, senhor. O Brasil tem um modelo radicalmente distinto do venezuelano. Este modelo se parece mais com o modelo cubano. Do estatismo. Do Estado que controla os bens, os meios de produção. E aí está o resultado. O resultado do fracasso. A mais alta inflação da América Latina. Enquanto os países da América Latina têm uma moeda que se faz forte, a moeda venezuelana é cada vez mais fraca.
 
Por fim…
 
Que mais que posso dizer? Que temos 20% de índice de desabastecimento, quando o normal de um país é 5%. Estamos em 20%. Você vai ao mercado e tem produtos que você não encontra. Por quê? Porque não se produz na Venezuela, se importa e a importação é falha, porque não há dólares.
 
Ok. Muito obrigado.