A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
PENSAR "GRANDE":
[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.
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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).
"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).
"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br
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segunda-feira, julho 08, 2013
E TUDO SERÁ COMO ANTES...
Dilma não erradicará a pobreza extrema até
2014, diz especialista
DO RIO
Daniel Marenco/Folhapress | ||
A economista Sônia Rocha, especializada em programas sociais, em sua casa, no Rio |
segunda-feira, junho 24, 2013
''ABAIXO O ZÉ-DO-PERIQUITO !'' (Fala de Mazzaropi, in: ''O Corintinano'', 1966)
24/06/2013 | |
segunda-feira, junho 17, 2013
O SONHO QUE VIROU PESADELO
Habitação: Casa própria mais longe da classe C
Nova classe média distante do imóvel |
Correio Braziliense - 17/06/2013 |
A compra das unidades de R$ 200 mil exige entrada de R$ 40 mil e prestações de R$ 2 mil, o que dificulta o acesso da nova classe média ao financiamento, mesmo facilitado por programas do governo.
Empreendimentos com unidades de R$ 200 mil, que esgotavam no lançamento, agora levam mais de um ano para alcançar 70% de vendas. Entrada de R$ 40 mil e prestações de R$ 2 mil inviabilizam o financiamento para a maior parte das famílias
Realizar o sonho da casa própria voltou a ficar difícil no Brasil, principalmente para a nova classe média. Endividadas e com o poder de compra corroído pela inflação, famílias não estão conseguindo arcar com os financiamentos, mesmo com a ainda abundante oferta de crédito imobiliário.
Quando simulam formas de pagamento, compradores têm se deparado com valores de entrada impraticáveis e prestações que não mais se encaixam no orçamento já bastante comprometido.
Imóveis avaliados em até R$ 200 mil, incluindo os que envolvem programas habitacionais do governo, exigem desembolso imediato de pelo menos 10% do valor total. Ainda que as condições oferecidas pelos bancos sejam muito melhores se comparadas com épocas anteriores, o atual cenário econômico apertou as contas das famílias, adiando por tempo indeterminado os planos de se livrar do aluguel.
Empreendimentos populares antes viabilizados no lançamento ou em no máximo dois meses, agora levam mais de um ano para terem 70% das unidades comercializadas. "Para o mercado, o principal ponto de alerta hoje é o endividamento das famílias", atesta o diretor da Associação Brasileira de Mercado Imobiliário (Abmi), Pedro Fernandes, antes de ponderar que a oferta de imóveis se mantém alta, o que também contribui para diminuir a velocidade de vendas.
Perda de rendaOs programas do governo continuam atraindo as classes mais baixas, sublinha Fernandes, mas a desaceleração da massa salarial real prejudicou o segmento. "Renda as pessoas têm, mas como estão endividadas não conseguem viabilizar a compra", comenta. O ideal, segundo especialistas, é que as parcelas do imóvel não comprometam mais do que 30% da renda familiar, além de ter metade do valor do bem depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou em outras aplicações.
A pensionista Antônia Aparecida Lemos Neto, 59 anos, foi contemplada com o programa Morar Bem, do Governo do Distrito Federal (GDF), mas a dificuldade de pagar a entrada a impediu de agarrar a oportunidade. "Além de não poder ter outro bem financiado, tinha que pagar R$ 32 mil de sinal", detalha ela, que ainda precisaria arcar com mensalidades de R$ 2 mil por uma casa orçada em R$ 200 mil no condomínio Jardins Mangueiral.
Empolgada com a chance de comprar o imóvel, Antônia levou dois meses para reunir toda a papelada necessária, antes de constatar que não seria possível dar continuidade ao processo. "Não deu certo e ainda gastei R$ 200 para juntar todos os documentos", reclama ela, que diz não perder a esperança da casa própria. "Espero encontrar uma residência cujo valor de entrada seja compatível com meu orçamento", completa.
O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Adalberto Valadão, observa que o crescimento da inadimplência leva os bancos a, naturalmente, ficarem mais rígidos nas análises de crédito. Mas, desta vez, avalia ele, o cenário econômico exerceu um peso maior para arrefecer as vendas no segmento popular. "As pessoas estão demorando mais para decidir pela compra", afirma.
As prestações de até R$ 1,5 mil não seriam o principal problema do bombeiro militar Michael Ferreira Moura, 25 anos, que espera não demorar a comprar a primeira casa. "Difícil é ter R$ 18 mil para dar de entrada", lamenta ele, que confessa não ter condições de, atualmente, encarar o financiamento do imóvel estimado em R$ 180 mil. Por enquanto, Moura terá de garantir o aluguel no Guará — R$ 600 por mês —, onde mora com a noiva.
Para conquistar a casa própria, o bombeiro trabalha com um planejamento financeiro para os próximos 15 meses. Ele tem separado todo mês cerca de R$ 800 do salário, para conseguir juntar o valor da entrada: 30% ele aplica na poupança e o restante é investido na compra de bezerros, em um negócio da família que ele considera rentável. "Meu tio fazendeiro identifica a oportunidade, cuida do gado e eu entro com o dinheiro", conta.
CautelaO consumidor está desconfiado e cauteloso, reforça o sócio-diretor da Apex Engenharia, Eduardo Aroeira. "Ninguém quer se endividar mais neste momento", comenta o empresário, que aposta em retomada do ritmo de vendas à medida que o estoque de unidades no mercado vá diminuindo. "Enquanto houver muita opção, ainda que esteja com renda livre, o cliente tende a ficar na expectativa de encontrar algo melhor e, por isso, adia a compra", argumenta.
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terça-feira, junho 04, 2013
''THE DREAM IS OVER'' (John Lennon)
O fim de uma era: Consumo menor e calote fazem banco frear crédito
Dinheiro em caixa |
Autor(es): Ronaldo D"Ercole |
O Globo - 04/06/2013 |
Mais seletivos na concessão de crédito, bancos elevam aplicações em operações de curto prazo
SÃO PAULO
A maior cautela dos bancos privados na concessão de financiamentos - motivada pelos ainda elevados índices de inadimplência e pelas incertezas quanto à recuperação da economia - fez aumentar significativamente o volume de dinheiro no caixa das instituições.
E, em vez de direcionar este montante ao crédito de pessoas e empresas, um enorme volume de recursos está sendo girado em aplicações de curto prazo entre os próprios bancos e o Banco Central.
O enxugamento do dinheiro para crédito coincide com um momento de vendas fracas e queda no consumo.
Estudo da Austin Rating, com base nos balanços de 126 bancos, mostra que, enquanto o total das operações de crédito cresceu 16,4% no ano passado, totalizando R$ 2,23 trilhões, os recursos que os bancos tinham em operações de curto prazo, como aplicações interfinanceiras de liquidez (AIL) e em títulos mobiliários, avançaram 33,5%, atingindo R$ 2,14 trilhões. Ou seja, para cada real emprestado a clientes os bancos tinham quase a mesma quantia alocada no mercado aberto. Na prática, o crescimento menor dos empréstimos significa menos dinheiro para investimentos de empresa e consumo de pessoas físicas.
Para manter a rentabilidade, as instituições privadas têm buscado aumentar as receitas com serviços, como seguros e cartões. Os balanços do primeiro trimestre confirmam que a postura dos bancos pouco mudou em relação a 2012. Dados de 23 bancos analisados pela Austin mostram que as operações de liquidez saltaram 47,1%, contra 16,7% do crédito.
- A contrapartida da redução da taxa de crescimento do crédito, nos bancos privados principalmente, foi o crescimento do volume de ativos, da liquidez do sistema - afirma Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin.
descompasso entre banco público e privado
Por trás desse aumento da liquidez no sistema bancário estão as próprias medidas do governo para estimular o crédito, como a redução dos depósitos compulsórios (que os bancos são obrigados a recolher no Banco Central) no ano passado. Os bancos também estão captando mais depósitos com o contínuo aumento do número de correntistas, decorrente do aumento da renda e da ascensão da chamada nova classe média.
As compras de dólares pelo Banco Central a fim de calibrar a taxa de câmbio, que o obriga a vender títulos da dívida pública para gerar reais, também são usadas pelos bancos para remunerar o excesso de caixa.
- Diferentemente do que desejava o governo, o dinheiro adicional que tem entrado no sistema bancário não tem ido para a economia real, na forma de mais investimentos para empresas ou renda ao consumo, mas está girando no mercado aberto - diz Santacreu.
O esforço dos bancos privados para "limpar" suas carteiras e baixar a inadimplência teve efeito direto no ritmo de contratação de novos financiamentos, observa Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. Mais seletivos e exigentes, essas instituições encerraram 2012 com volume de créditos 7,6% maior que o do ano anterior. Porém, o calote (medido pela taxa de atrasos com mais de 90 dias em seus financiamentos) passou de 5,1%, em dezembro de 2011, para 5,4% no final do ano passado.
No mesmo período, a inadimplência dos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) permaneceu estável em 1,8%, enquanto eles aumentaram em 27,9% os seus financiamentos. O descompasso se repete este ano. De janeiro a abril, o crédito nos bancos privados avançou 6% em relação a igual período de 2012, enquanto o calote recuou a 5,2%. Nos públicos, os empréstimos subiram 29% e a inadimplência foi a 2%.
- A inadimplência cai muito lentamente e isso faz com que os bancos privados reajam também lentamente. Daí essa montanha de dinheiro no mercado aberto. A torneira dos bancos privados está entupida - diz Rabi, acrescentando que os bancos tiveram R$ 92 bilhões em perdas com calote em 2012.
Se a inadimplência não contribui para destravar o crédito, tampouco a perspectiva de alta dos juros ajuda. O ciclo de aperto monetário, com a alta da Taxa Selic de 7,25% para 8% pelo Comitê de Política Monetária (Copom), encarece o crédito e dificulta a queda na inadimplência - condição que, em tese, tende a manter a oferta de crédito restrita.
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segunda-feira, junho 03, 2013
OVOS DE COLOMBO
Aécio na linha direta de FHC
Autor(es): Renato Janine Ribeiro |
Valor Econômico - 03/06/2013 |
Não surpreende que Aécio Neves seja o candidato à Presidência da República ungido por Fernando Henrique Cardoso. É que seu programa no horário político do PSDB, iniciando de fato a propaganda eleitoral, traduz em linguagem televisiva e popular um artigo seminal do ex-presidente, que causou impacto dois anos atrás, mas confinado na época a um debate quase acadêmico. Refiro-me a "O papel da oposição", que saiu no número 13 da revista "Interesse Nacional", criada pelo embaixador Rubens Barbosa, um dos melhores cérebros próximos a FHC. O artigo pode ser lido no site da revista e em outros endereços na internet.
O que dizia o artigo? Se resumirmos não só o que Fernando Henrique disse com todas as letras, mas também as implicações menos visíveis mas inegáveis, seria o seguinte.
O PSDB não tem como rivalizar com o PT junto aos mais pobres. As propostas tucanas são para a classe média. Mas esta última cresce. Os petistas não terão muito o que lhe dizer. O PSDB terá.
E deve em especial lutar no âmbito de uma nova forma de relações sociais, que são as virtuais, as proporcionadas pela comunicação via internet. Falou assim primeiro o cientista político, ao mostrar os limites dos discursos tanto petista quanto tucano, e depois o sociólogo, ao pensar em novas relações sociais - o sociólogo que, quando foi presidente da República, se entusiasmava em dizer que estamos à beira de uma nova Renascença, o presidente que tinha por amigo Manuel Castells, um dos grandes teorizadores das possibilidades que nos abre a rede mundial de computadores. Para tanto, aliás, FHC criou a rede Observador Político, iniciativa que pretendia ser não-partidária e abrir um canal de discussão mais rico sobre a política.
Vamos reconhecer que a segunda parte do que disse FHC continua no plano das intenções, mas isso não é falha sua. Nossa sociedade, dominada pelo narcisismo, tem dificuldade em dialogar com o outro, em especial se for mesmo diferente de nós. As oportunidades que abre a Internet são destroçadas pela multiplicação de Narcisos. Mas isto fica para outro dia. O fato é que a primeira grande tese de FHC foi muito bem compreendida por Aécio Neves e está na raiz do que ele disse na TV.
Quando o senador mineiro diz que devemos ir além do Bolsa Família, está implicitamente reconhecendo o êxito e até a autoria petista da grande expansão dos programas sociais. Sim, ele recorda que foram tucanos os que os começaram. Mas isso é "pro forma". O fato é que os governos Lula e Dilma são os grandes responsáveis pela transformação de nossa pirâmide social em losango - o processo pelo qual as classes mais pobres deixaram de ser as mais numerosas, papel que hoje é da chamada classe C; entre 2005 e 2010, cerca de 50 milhões passaram das classes D e E para a nova classe média. Então, por que brigar com a realidade? Por que atacar isso, quando o segredo que desvenda FHC é que esse processo pode ter como beneficiário, justamente, o PSDB?
Em outras palavras, se o sonho de Dilma Rousseff é fazer do Brasil "um país de classe média", e se quem sabe falar à classe média e dar-lhe o que ela quer é o PSDB, então o interesse maior dos tucanos é que a presidenta e seu partido tenham pleno êxito em seu projeto. E o problema do PT, que os tucanos terão enorme prazer em apontar, seria tratar-se de um partido bom para vencer as grandes mazelas sociais, mas incapaz de dar um passo adiante - um partido bom para a emergência social em que vivemos estes séculos, com níveis de miséria e discriminação absolutamente indignos, mas incapaz de garantir, depois disso, um crescimento econômico e um desenvolvimento social sustentáveis. (E com esta ideia de sustentabilidade o PSDB pode também fazer acenos aos que apoiaram ou apoiam Marina Silva, cuja palavra de ordem foi deixando de ser "o verde", ou o meio ambiente, para se tornar a sustentabilidade em geral).
O PT seria capaz de medidas emergenciais. O Bolsa-Família pode ser o melhor programa de inclusão social do mundo, mas ninguém vai - ou deve - prosperar graças à assistência. É preciso criar empregos e empreendedorismo. A desigualdade étnica no País é escandalosa e as ações afirmativas são importantes para reduzi-las. Mas, em ambos os casos, trata-se de medidas pontuais, que têm de ser provisórias, pois apenas serão eficazes se tiverem data de conclusão próxima de nós no tempo. Assim, esperam FHC - e, agora, Aécio - construir, com políticas liberais, uma alternativa mais bem sucedida ao PT na conquista deste público, a classe média baixa.
Pela primeira vez desde 2002, o PSDB pode ir à campanha propondo, de fato, o que Serra formulou em palavras - mas que não convenceram o eleitorado - em 2010: continuidade em relação aos êxitos petistas. Ele passa a ter claro interesse em que o petismo realize o sonho de Dilma. Exagerando, ele pode até ser educadíssimo com o PT... Comparando, estamos numa situação análoga, ainda que com sinais invertidos, à de 2002. Lula tinha interesse em que o Brasil, que ia receber de FHC, estivesse bem. E a "herança maldita" estava longe de ser tão má, porque passar o cargo a um presidente eleito de esquerda era algo inédito em nosso país.
Parece que o país quer continuidade com mudanças, ou mudanças com continuidade. Quem nos convencer que fará isso ganha. Pessoalmente, não acredito que 2014 seja já a vez de Aécio; mas sua estratégia é boa, e o é porque deve muito a este artigo de FHC, que merece ser lido por quem ainda não o conhece. E fica o alerta para o PT. O desafio aumenta. Não vai ser fácil guardar a hegemonia política no país.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras.
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sexta-feira, maio 03, 2013
''SER POBRE NÃO É CRIME'' (Como vovó já dizia)
Não há "coitadinhos", há criminosos
terça-feira, abril 16, 2013
O SONHO ACABOU (Se é que existiu!)
16/04/2013 | |
Calote volta a subir
Inflação pressiona e inadimplência avança 3,6%. Provável alta de juros vai apertar mais orçamento piora no crédito
SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA
Além de ter ultrapassado, em março, o teto da meta do Banco Central (BC), a inflação alta acabou freando o movimento de queda da inadimplência. De acordo com o Indicador Serasa de Inadimplência do Consumidor, no mês passado houve um aumento de 3,6% nos registros de calotes em relação a fevereiro. Na comparação com março de 2012, a alta foi de 8,7%, pouco menor que o avanço de fevereiro, de 10,1% sobre o mesmo mês do ano anterior. Assim, a provável alta nos juros básicos da economia, que deve ser decidida pelo BC esta semana, encontrará o consumidor brasileiro com o orçamento mais apertado não só pela alta dos preços, como também por dívidas em atraso.
A inflação acumula alta de 6,59% nos últimos 12 meses, ou seja, acima do teto da meta perseguida pelo governo, que é de 6,5%. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne hoje e amanhã para decidir a nova taxa básica Selic. E, na previsão da maioria dos analistas, o BC deve subir a taxa, atualmente em 7,25% ao ano. Desde julho de 2011 não há uma elevação na Selic. Uma alta nos juros teria impacto imediato no custo de dívidas com taxas flutuantes, como o rotativo dos cartões de crédito e o cheque especial.
mercado vÊ Selic maior esta semana
A pequisa da Serasa Experian constatou um aumento da inadimplência em todas as modalidades de dívida. O maior avanço foi dos calotes com cheques sem fundos, que aumentaram 26,4% em relação a fevereiro. As dívidas não bancárias - com cartões de crédito, financeiras, lojas e prestadores de serviços, como telefonia e fornecimento de energia e água -, que têm peso maior, cresceram 2,5%.
Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian, observa que março, por razões sazonais, como a concentração de muitos pagamentos de impostos (IPVA, IPTU etc.) e das despesas escolares, é tradicionalmente um período de aumento na inadimplência. E neste ano, particularmente, o indicador de março ainda teve a contribuição da inflação. Com exceção de outubro, por causa do Dia das Crianças, quando o indicador subiu 5%, a inadimplência apresentava queda desde junho do ano passado.
- Não dá para dizer, ainda, que o cenário de mais inflação e a provável alta dos juros vai mudar a tendência de queda da inadimplência - diz Almeida, da Serasa Experian.
O analista de processo Jobson Vieira Lima, de 24 anos, deve R$ 800 a uma operadora de celular por causa de uma assinatura cancelada em 2011. Na época, a conta que deixou de pagar era de R$ 71. Agora, tenta negociar uma redução na dívida.
- Eles estão irredutíveis - reclama.
Segundo pesquisa feita pela Bloomberg News com 45 economistas, o Copom deve elevar amanhã a Selic em 0,25 ponto percentual, para 7,50% ao ano. Pelo levantamento, 60% dos economistas apostam em uma alta da Selic e outros 40% na manutenção da taxa. Entre os que veem a possibilidade de elevação, 15 apostam numa alta de 0,25 ponto percentual e outros 12, em meio ponto.
Para Marcelo Carvalho, economista do banco BNP Paribas, o ciclo de aumento dos juros chega com atraso.
- O aumento de preços não ocorreu apenas no tomate, mas também em serviços. Virou um assunto popular. Nessa altura do campeonato, não subir juros parece impensável. E subir 0,25 ponto parece muito pouco - disse Carvalho.
As taxas de juros futuros nos contratos negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam em alta pela sexta sessão consecutiva ontem. O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em julho de 2013 subiu de 7,53% para 7,60%.
- A curva de alta aponta mais para uma alta de meio ponto percentual do que para 0,25 - disse João Júnior, especialista em mercado de juro da Icap Brasil.
Os analistas diminuíram a previsão para a inflação este ano, pela segunda semana seguida. A expectativa para o IPCA caiu de 5,7% para 5,68%, de acordo com a pesquisa semanal Focus, do BC.
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quinta-feira, abril 04, 2013
MINHA CASA, MINHA (DÍ) VIDA
04/04/2013 | |
Brasileiro deve 43,4% da renda
O endividamento do brasileiro cresceu no ano passado, chegando a dezembro a 43,4% da renda total das famílias, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira, divulgado ontem pelo Banco Central.
O indicador era de 42,07% em janeiro de 2012 e havia alcançado 43,2% em junho. Boa parte desse aumento se deveu à expansão do crédito imobiliário.
Apesar de os financiamentos para compra da casa própria terem se ampliado, o crédito total do sistema financeiro perdeu força ao longo do ano passado.
Em dezembro, o volume de empréstimos e financiamentos registrava uma expansão de 16,4% no acumulado de 12 meses, contra altas de 18,8% em 2011, e de 20,6% em 2010. O estoque total de crédito atingiu R$ 2,37 trilhões, o equivalente a 56,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
A tendência, segundo o BC, é que a trajetória de desaceleração continue. A redução do crédito e dos juros diminuiu os lucros dos bancos.
No entanto, para o BC, que fez simulações sobre a capacidade das instituições de resistir a turbulências, elas estão mais resistentes a crises. “O Sistema Financeiro Nacional continua solvente e mostrando resiliência grande”, resumiu o diretor de Fiscalização, Anthero Meirelles, ao divulgar o relatório.
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segunda-feira, abril 01, 2013
INFLAÇÃO: O DRAGÃO PREFERE A CLASSE C
01/04/2013 | |
Inflação é maior para quem ganha até 2,5 salários
Alta de alimentos impacta mais consumidor de baixa renda do que a média da população, informa FGV
O Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC - C1), indicador que mede a inflação entre a população com renda até 2,5 salários mínimos calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi de 6,94% em fevereiro, superior ao da média dos brasileiros, de 6,04%. A alta foi puxada pela disparada de preços dos alimentos adquiridos por esses consumidores, que subiram mais do que os da média da população nos últimos 12 meses. Em fevereiro, a inflação dos alimentos foi de 13,94% no IPC-C1, ante 12,29% da inflação geral, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor - Disponibilidade Interna (IPC - DI). A previsão é de que a desoneração de parte da cesta básica, adotada pelo governo em março, represente um alívio para esse consumidor de baixa renda. A desaceleração, porém, deve ser lenta, de acordo com especialistas, e não ocorrerá em menor de três meses.
Inflação dos alimentos afeta mais a baixa renda
Em 12 meses, preços dos alimentos mais consumidos por quem ganha até 2,5 salários mínimos subiram mais que os da média da população.
Fernanda Nunes
O aumento dos preços dos alimentos ao longo dos últimos meses vem tirando o fôlego e comprometendo a capacidade de compra de um grupo em especial: o consumidor de baixa renda. Para esse segmento, base da festejada “nova classe média”, a inflação pesa mais. O indicador que mede a variação de preços em 12 meses para as famílias com ganho mensal de até 2,5 salários mínimos, em fevereiro, foi de 6,94%, nível superior ao da média dos brasileiros, que registrou 6,04%. A diferença da inflação por classe de renda ocorre, na verdade, desde julho do ano passado. A Fundação Getúlio Vargas (FGV), que calcula o índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-Ci, a chamada inflação da baixa renda) e o índice de Preços ao consumidor - Disponibilidade Interna (IPC-DI), vem registrando o deslocamento. Isso acontece porque os preços dos alimentos adquiridos pelos consumidores de rendimento mais baixo dispararam. Para a população mais pobre, 30% do salário são destinados às compras de supermercado, enquanto para a média dos brasileiros os alimentos representam 20% das despesas. Em fevereiro, último indicador divulgado, a inflação dos alimentos variou 13,94% no IPC-Ci e 12,29% no IPC-DI. A inflação para a baixa renda • Queda ANDRÉ BRAZ ECONOMISTA “A tendência da inflação dos alimentos é desacelerar. A medida do governo de desoneração da cesta básica, cedo ou tarde, terá resultado. Mas essa desaceleração deve ser lenta.” E, passou a ser mais sentida neste início de ano, com o fim de alguns programas de incentivo ao consumo, como a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bens duráveis. Mas o maior peso vem dos alimentos e a tendência, segundo o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)da FGV,é que a alta de preços desseS produtos perca o fôlego daquf pàra frente. Com isso, diz Braz* a baixa renda pode ter um alívio nos próximos meses. Enquanto isso, a expectativa é que o governo mire suas ações exatamente no alívio do orçamento desse grupo de consumidores, que vem puxando o aumento do consumo das famílias na economia. O professor da Faculdade de Economia e coordenador da Fipe Rafael Costa Lima acredita que as medidas devem ter como foco a inflação como um todo, porém, com atenção especial a setores que atendam à “nova classe média”. Ainda assim, a avaliação do economista é que, com a renda do trabalho se mantendo em alta, o consumo pela população de baixa renda continuará forte. “Não imagino que a inflação vai corroer tanto o poder de com: pra dessa população”, afirmou. Para o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Bruno Fernandes, no entanto, a variação de preços para esse grupo de consumidores é preocupante. Idosos. Além dos pobres, a população idosa é outro grupo que também é mais punido com a inflação dos alimentos. O último dado disponível do IPC-3Í, que mede a inflação das famílias com indivíduos com mais de 60 anos, mostra que, em 2012, o indicador teve alta de 5,82%, enquanto o IPC-DI foi de 5,74%. A FGV apura a inflação dos mais idosos trimestralmente, portanto, os resultados deste ano ainda não são conhecidos. Braz, da FGV, diz que, na atual conjuntura os idosos sentem mais os efeitos da inflação por consumirem mais alimentos in natura, que têm sido os vilões dos preços. O economista pondera, no entanto, que essa alta pode ser contrabalançada pelo fato de os mais idosos sentirem menos os efeitos do reajuste de transporte público, porque boa parte deles tem passe livre no ônibus. / COLABOROU M.C.
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segunda-feira, outubro 15, 2012
CLASSE D [In:] ''NOS PEGUE PAGUES DO MUNDO ..." *
POR QUE A CLASSE D É O ALVO DA VEZ
CLASSE D É NOVO FOCO DO CONSUMO |
Autor(es): ANTONIO TEMÓTEO |
Correio Braziliense - 15/10/2012 |
Depois de aproveitar expansão da camada intermediária de renda, empresas miram famílias com salário médio de R$ 952
O crescimento da classe média brasileiro nos últimos anos colocou o país no radar das grandes empresas globais, tanto das que já possuíam operações aqui quanto dos que ainda não haviam acordado para a importância do nosso mercado. O foco desse impulso foi a classe C. Agora, as empresas que pretendem expandir seus negócios já dedicam atenção ao estrato mais baixo, a classe D. Em 2011, esse grupo de consumidores movimentou R$ 363,3 bilhões na economia, devendo neste ano ampliar essa presença para R$ 409 bilhões, segundo pesquisas do Instituto Data Popular e da Whirpool, multinacional norte-americana que é dona de várias marcas de eletrodomésticos, incluindo a Brastemp. De acordo com o critério da Data Popular, a classe D é composta por famílias que têm renda média de R$ 952. Esse segmento, juntamente com os do estrato inferior, teve ganho de renda de 28% nos últimos dez anos. A classe intermediária (C) teve aumento maior, de 54%. Mas as classes mais ricas (A e B) avançaram menos do que as mais pobres: 18% (leia quadro abaixo). O sócio-diretor do Data Popular Renato Meirelles explica que as pessoas de baixa renda, que antes não tinham sequer geladeira ou fogão, passaram a incluir esses produtos na lista de compras. Dados da Whirpool mostram que, em 2002, apenas 64% dos lares da classe D tinha um televisor, 70%, uma geladeira, e só 10%, um celular. Em 2012 a realidade mudou e a presença da TV subiu para 97%, da geladeira para 96% e do celular para 86% (leia quadro ao lado). Apesar do peso conquistado no mercado, a classe D tende a diminuir nos próximos anos porque o ritmo de crescimento de renda continua acelerado e esse estrato ascenderá socialmente. “As empresas que souberem se relacionar com esse público terão mais chance de dar certo no mercado e conquistar esses consumidores”, completa o diretor do Data Popular. Ele relata que muitas grandes redes de varejo estão abrindo lojas na periferia exatamente para ficar mais perto desse público. O professor de economia de empresas do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Otto Nogame ressalta que, mesmo com a disposição de ir às compras, parte significativa dos gastos da classe D é com alimentação e transportes. Na opinião do especialista, somente após atender as necessidades básicas, esses brasileiros pensam em adquirir produtos de linha branca ou de higiene pessoal. “Há grande preocupação com a estética, sobretudo entre as mulheres. O creme de pele, que antes era um luxo, ganhou espaço no orçamento”, destaca. Bom pagador Além de ser exigente, quem tem renda média familiar de R$ 952 mantém as contas em dia. Conforme o sócio da consultoria de varejo e planejamento Neocom Informação Aplicada, Alexandre Ayres, a condição de bom pagador é predominante porque somente pelo acesso ao crédito esse tipo de consumidor consegue satisfazer o desejo de ter uma máquina de lavar ou uma televisão em casa. Ayres também afirma que os programas de transferência de renda e promoção social conduzidos pelo governo foram fundamentais para reforçar o orçamento dessas famílias. “Boa parcela desses benefícios está concentrada no Norte e Nordeste, regiões onde essas classes são representativas”, observa. Sob encomenda Interessada em faturar com vendas para esse público, a Phillips — gigante holandesa que produz eletrodomésticos e eletrônicos — traçou uma estratégia para impulsionar os negócios com televisores de LED para a classe D. Alessandra Aguiar, gerente de marketing de produtos da TP Vision Brasil, responsável pela divisão de TVs da Philips, informa que uma linha desse produto, no valor médio de R$ 1 mil, é a aposta da marca para atrair esse público. Até o fim do ano a empresa deixará de fabricar aparelhos LCD e apostará nas duas linhas LED que já estão no mercado. “Pesquisas mostram que 95% dos lares brasileiros ainda têm televisão de tubo. Haverá uma corrida para trocar esses aparelhos e o modelo mais simples que produzimos consome 10% menos energia do que as de LCD. Apostamos na classe D e sabemos o poder de compra que ela tem.” » Participação crescente Renda média e variação por classe nos últimos dez anos Faixas (Em R$) Crescimento A 14.561 18% B 6.275
C 2.341 54%
D 952 28% E 479
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(*) Raul Seixas.
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segunda-feira, setembro 24, 2012
NOVA CLASSE C, ACORDA (''THE DREAM IS OVER'')
Endividado, brasileiro não paga condomínio
Calote em condomínio dispara |
Autor(es): » BÁRBARA NASCIMENTO » ANA CAROLINA DINARDO |
Correio Braziliense - 24/09/2012 |
Inadimplência média chega a 20%, três vezes mais que os 7% considerados aceitáveis. Endividadas, famílias escolhem, no fim do mês, as contas que serão pagas em dia
Com 43% da renda comprometida com dívidas, muitas famílias estão sendo obrigadas a escolher as contas que serão pagas no fim do mês. E, para desespero de muitos síndicos, a fatura está sobrando para os condomínios. Como a multa por atraso é de apenas 2% mais juro de 1% mensal e as administradoras relutam em encaminhar os nomes dos inadimplentes para o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), a opção está sendo quitar o cartão de crédito e reduzir os débitos no cheque especial, cujas taxas de juros giram em torno de 10% ao mês. Não à toa, o calote nos condomínios disparou, girando em torno de 20% no Distrito Federal e na maior parte do país, índice três vezes maior do que os 7% considerados aceitáveis.
Na avaliação dos sindicatos da habitação de condomínio estaduais (Secovi) e da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), ainda que o atraso não tenha alcançado um nível alarmante, os números atuais mostram que os riscos de descontrole são grandes, pois a inadimplência está avançando mesmo com o forte aumento da renda dos trabalhadores — pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o ganho real (acima da inflação) foi de 8,3% nos últimos dois anos. A ideia dos síndicos é fazer uma ampla campanha de recuperação de crédito para estancar a sangria no caixa dos condomínios.
Bola de neveO síndico Aloísio Araújo Silva tem a exata noção do que é administrar um condomínio em dificuldades, onde os moradores simplesmente deixam de honrar seus compromissos. Em 2004, quando assumiu o comando das contas de dois prédios com 672 apartamentos do Residencial Europa, no Gama, mais da metade — exatos 53% — das residências não pagava o condomínio de R$ 100. "A situação estava caótica. As pessoas tinham esquecido que a taxa do condomínio é a divisão dos gastos dos prédios. Eu tinha menos da metade do dinheiro necessário em mãos para manter os edifícios em ordem", relembra.
Para piorar, as dívidas do Residencial Europa, segundo Aloísio, eram astronômicas: R$ 174 mil em contas de água, R$ 37 mil em energia elétrica, funcionários com até três meses de salário atrasados, R$ 315 mil com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e R$ 80 mil com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). "Nenhum síndico durava no cargo. Além de não pagarem o condomínio, muitos moradores não honravam o financiamento imobiliário. Por não ter dinheiro para investir, aqui era conhecido como favelão", conta, a contragosto.
Ciente de que tinha de reverter os problemas o mais rapidamente possível, Aloísio ajudou na renegociação das dívidas dos financiamentos imobiliários com a Caixa Econômica Federal e recorreu à Justiça para receber todas as taxas atrasadas. Deu resultado. Hoje, a inadimplência no Residencial Europa caiu para 20%, o piso dos dois prédios foi trocado; os elevadores, modernizados; a pintura, refeita; e o sistema de água, individualizado. "O índice de atraso, no entanto, ainda é alto. Muitas vezes, temos que cobrar taxas extras para fazer melhorias, o que provoca muita discussão entre os que pagam o condomínio em dia. Eles são obrigados a arcar com os custos de quem não paga", lamenta.
No Residencial Rhodes, também no Gama, o síndico João José Neto chega a comemorar a taxa de inadimplência de apenas 3%. O problema é o valor das dívidas acumuladas: R$ 50 mil. Com o atraso, ele ressalta que os projetos de melhoria do prédio estão parados. A reforma do piso do estacionamento, prevista há dois anos não tem prazo para acontecer. "Só conseguiremos fazer as melhorias quando recuperarmos os débitos em atraso", diz. Motivo: o arrecadado atual só é suficiente para cobrir os gastos fixos, como água e energia, que variam de R$ 16 mil a R$ 17 mil. "Tento ao máximo evitar maiores problemas aos moradores. Mas todos precisam colaborar", afirma.
JustiçaPara o advogado do Sindicato dos Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal (Sindicondomínio-DF), Délzio Oliveira, o aumento do calote nos condôminos foi estimulado depois da publicação, em 2002, do novo Código Civil, que reduziu de 20% para 2% a multa sobre o atraso. Além desse encargo, o inadimplente paga juros mensais de 1% e correção monetária. "Se atrasar o condomínio, a pessoa arcará com encargos entre 15% e 16% ao ano. No cartão de crédito, por exemplo, a taxa sobe para 238% ao ano, em média. Por isso, o brasileiro prefere ficar devendo para o condomínio", explica.
A presidente da Abadi, Deborah Mendonça, aconselha aos síndicos que, em casos graves de inadimplência, recorram à Justiça. "A associação estimula a cobrança das dívidas formalmente, pois um condomínio com alto índice de inadimplência é um condomínio falido", define. Ela explica que, geralmente, os síndicos procuram os tribunais somente depois de três meses de calote na dívida. "Primeiro há o diálogo e o envio de cartas de cobrança. Depois, a ação na Justiça", completa.
O advogado Ricardo Trotta vai além e lembra que, desde 2008, os síndicos ganharam o direito de protestar a dívida, o que permite negativar o devedor no SPC com mais agilidade. Para ele, no entanto, falta iniciativa, por parte dos administradores, na hora de recorrer à Justiça. "Por mais que o número de ações tenha crescido, ainda não é comum que os síndicos recorram aos tribunais. Eles querem evitar o desgaste dentro do condomínio. Afinal, você cruza com os devedores todos os dia no elevador", diz.
Diante da postura mais flexível dos síndicos, o advogado e especialista financeiro Luiz Felizardo Barroso aconselha aos devedores que renegociem os débitos com o condomínio, pedindo até desconto das multas se for comprovada a real incapacidade de pagamento. Não se pode esquecer que ninguém está livre do desemprego ou de doenças graves na famílias, que exigem gastos elevados e inesperados. Segundo ele, os acordos administrativos são mais comuns do que parecem e podem ser fechados em, no máximo, um mês, diferentemente das ações judiciais que podem levar mais de dois anos para serem concluídas. "É relevante que o morador tenha consciência de que a cobrança é necessária", afirma.
Barroso alerta, no entanto, aos que pagam condomínio que fiquem atentos às cobranças indevidas. "É importante conferir, por exemplo, se as taxas extras são legais. Se não, podem caracterizar improbidade administrativa por parte dos síndicos. "Nesses casos, os moradores podem e devem relatar o caso por meio de uma ação judicial", aconselha.
» No vermelho
Veja o percentual médio de inadimplência nas principais
capitais do país
Cidades Índice de atraso
Rio de Janeiro 11% a 15%
Brasília 10% a 20% São Paulo 14% a 20% Fortaleza 15% a 20% Curitiba 15% a 20%
Fontes: Condomínios, sindicatos estaduais
da habitação (Secovi) e Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi) |
segunda-feira, dezembro 12, 2011
BRASIL/DROGAS [In:] DROGA-SIL II
De olho no Brasil, máfias da cocaína disputam a Bolívia
Autor(es): Por Fabio Murakawa | De São Paulo |
Valor Econômico - 12/12/2011 |
De olho no crescente mercado para a cocaína no Brasil, e na facilidade para obter matéria-prima, redes internacionais de traficantes transformaram a Bolívia em território prioritário para expandir os seus negócios, segundo especialistas ouvidos pelo Valor. Antes mero exportador da folha de coca para laboratórios na Colômbia e no Peru, a Bolívia se converteu nos últimos anos em um importante corredor da droga produzida nesses vizinhos e enviada a Brasil e Europa, via território brasileiro, além de refinar cada vez mais cocaína em seu território. Esse fenômeno vem na esteira do aumento da demanda no Brasil, que se tornou na última década o segundo país consumidor de cocaína no mundo. "O Brasil passou, nos últimos dez anos, de país de trânsito a um país de consumo [de cocaína]", afirma o diplomata brasileiro Murilo Vieira Komniski, que atua no setor de Direitos Humanos e Ilícitos Transnacionais da Embaixada do Brasil em La Paz. "É o que eu chamo de um efeito colateral de uma política social bem sucedida." Komniski explica que as 30 milhões de pessoas que saíram da linha da pobreza e entraram na classe média na última década ajudaram a formar um novo mercado para a droga. "A chamada nova classe média passou a ter acesso à cocaína e a uma droga relativamente barata, que é o crack." De acordo com diferentes fontes, entre 60% e 80% da cocaína boliviana tem como destino o mercado brasileiro, hoje estimado pela ONU em 900 mil usuários, atrás somente dos Estados Unidos e da União Europeia. Com o aumento do consumo no Brasil, máfias colombianas, mexicanas, peruanas e brasileiras começam a se estabelecer na Bolívia para exportar para cá o produto acabado. E isso já começa a ter reflexo em operações policiais nos dois países. Em 19 de outubro, a Força Especial de Luta Contra o Narcotráfico (FELCN) da Bolívia estourou um dos maiores laboratórios de cocaína já encontrados no país. Instalado dentro do Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), na Amazônia boliviana, ele tinha capacidade para produzir 100 kg diários da droga e instalações para abrigar 25 pessoas. "Era uma casa gigantesca, com vários cômodos, de dimensões que eu jamais tinha visto", disse ao Valor um policial que participou da ação. A operação resultou na apreensão de 114 kg de cocaína, fuzis M-16 e AK-47 e na morte de um policial. Um traficante morreu e outro ficou ferido. Ambos eram colombianos. Os demais fugiram pela mata, mas presume-se que tenham a mesma nacionalidade. Uma semana depois, a Polícia Federal desbaratou no Brasil uma quadrilha de traficantes formada por brasileiros, paraguaios, colombianos, bolivianos e europeus, que trazia cocaína da Bolívia para distribui-la por aqui e também encaminhá-la à Europa. Foram expedidos 54 mandados de prisão, 11 deles no exterior, via Interpol, sendo que três eram de grandes traficantes colombianos que viviam em mansões na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra, conta Ivo Roberto Costa da Silva, o delegado que comandou a operação. "Trata-se de uma associação de traficantes de diferentes nacionalidades, cada qual com seu papel na produção, transporte e comercialização da droga. São como grandes multinacionais do tráfico", diz. Além disso, informes da inteligência boliviana, aos quais o Valor teve acesso, dão conta da movimentação de traficantes colombianos, mexicanos e de organizações criminosas brasileiras na Bolívia. Um deles, elaborado em 2010, descreve a "guerra" entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho pelo controle do tráfico no Departamento (Estado) de Santa Cruz. O documento descreve como membros desses grupos se matavam uns aos outros em disputas por território, além de assassinatos de policiais bolivianos que tentavam extorqui-los. "O PCC e o Comando Vermelho, hoje, são considerados grandes compradores [da cocaína], tanto quanto outros", afirma o Diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Oslaim Campos Santana. "Mas temos traficantes com estrutura melhor, como os pegos durante a Operação Semilla." Outro documento, do mesmo ano, afirma que um filho não identificado de um dos maiores traficantes mexicanos, Joaquín "Chapo" Guzmán, frequentava uma escola de pilotos em Santa Cruz de La Sierra. A informação foi confirmada em entrevista à rede mexicana Univisión pelo traficante brasileiro Maximilano Dourado, preso na Bolívia e deportado ao Brasil em janeiro. Líder do temido Cartel de Sinaloa, Guzmán figura em 55º lugar na lista dos homens mais poderosos do mundo em 2011, elaborada pela revista Forbes. Sua fortuna é estimada em US$ 1 bilhão. "Estamos em um período de acomodação entre os diferentes grupos na Bolívia. Às vezes violento, às vezes não tão violento, mas onde estão jogando todos os grupos", afirma Douglas Farah, pesquisador sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia, nos Estados Unidos. Segundo ele, a queda dos grandes cartéis colombianos, a partir de meados da década de 1990, deixou um campo aberto para que os bolivianos começassem a fabricar a sua própria droga e para a penetração de máfias de outros países. "Esses "narquitos" bolivianos não têm redes internacionais para mover o produto, quando está terminado", diz ele. "Entram aí os grandes grupos brasileiros, porque é um mercado muito fácil de alcançar. E também os mexicanos, buscando alternativas para a sua linha de produção. Todos estão ali, tratando de armar as suas redes." Com 3.500 km de fronteira seca com o Brasil, além da proximidade com os mercados também emergentes de Chile e Argentina, a Bolívia tem muito mais vias para escoar sua cocaína para cá do que o Peru e a Colômbia. Nos dois últimos casos, a Amazônia forma uma imensa barreira natural, que torna a rota mais complicada. Isso também tem ajudado a atrair máfias brasileiras, mexicanas e colombianas ao território boliviano. "No último ano e meio, o Brasil se converteu em uma das mais importantes rotas da droga peruana rumo à Europa", diz Jaime Antezana, especialista em narcotráfico no Peru. No início deste mês, ao divulgar uma lista traficantes detidos na Bolívia em 2011, o vice-ministro de Defesa Social, Felipe Cáceres, se disse "preocupado com o crescimento de presos estrangeiros nos últimos dois anos". Peruanos, colombianos, brasileiros, espanhóis, argentinos e mexicanos lideram o ranking. Além da extensa fronteira seca com o Brasil, outros fatores tornam a Bolívia atraente para as redes internacionais: a fartura da produção de folha de coca e o absoluto descontrole sobre a sua comercialização. Segundo a ONU, o país é o terceiro maior produtor mundial da folha, com uma área plantada de 31 mil hectares, atrás de Peru e Colômbia. Não há, no entanto, uma estimativa precisa sobre qual seria a área ideal para atender à demanda interna. Uma lei de 1998 reconhece apenas 12 mil hectares como legais para o uso tradicional. Mas o governo anunciou na semana passada que pretende atualizar essa lei. O fato é que o país não tem um dado oficial recente sobre o quanto consome de folha de coca. Há mais de três anos, está em curso um estudo, em parceria com a União Europeia, sobre a demanda interna na Bolívia. Os resultados deveriam ter sido apresentados em seis meses. O atraso ocorre, segundo o Valor apurou, por conta de divergências entre europeus e bolivianos sobre seus resultados. "Informalmente, nos indicam que o estudo já está pronto e que seriam necessários menos do que 20 mil hectares. Aparentemente, não chega a isso", diz uma fonte, sob a condição de anonimato. Para César Guedes, representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) na Bolívia, essa "é a peça que falta no quebra-cabeças" para determinar o quanto da folha de coca boliviana é desviada ao narcotráfico. A produção boliviana divide-se em duas grandes regiões. A primeira delas, a dos Yungas, fica no altiplano boliviano, próximo a La Paz. Há ali uma área estimada em cerca de 20,5 mil hectares, com uma produção de 28 mil toneladas, segundo Guedes. A segunda, fica na região conhecida como Chapare, perto de Cochabamba, onde apenas 10,1 mil hectares rendem 27,5 mil toneladas da folha. "De qualquer maneira, isso é muito mais do que se pode mascar ou fazer chá", afirma Bo Mathiassen, representante da UNODC no Brasil. "A Bolívia ainda tem uma produção muito maior do que a demanda. O resto deve estar indo para o lado errado." Segundo dados do próprio governo boliviano, 65% da folha produzida nos Yungas passa pelo mercado legal de Villa Fátima. Já no Chapare, apenas 4% da produção é negociada no mercado de Sacaba, responsável pela comercialização da produção local. O fato de que a folha do Chapare não é considerada própria para o uso tradicional - por ser mais ácida e de menor qualidade - só faz aumentar a suspeita de que boa parte da produção seja desviada para o tráfico. Há diferentes interpretações sobre o papel do presidente Evo Morales em relação ao respeito às tradições locais quanto ao uso da folha da coca e ao combate ao narcotráfico. Para alguns, como Douglas Farah, o governo boliviano está envolvido até o pescoço com atividades ilegais, em grau muito maior do que ocorre na Colômbia e no Peru. "Há países onde o narcotráfico opera com impunidade nas esferas mais altas, como na Venezuela e na Bolívia", diz ele. "Há uma criminalização generalizada desses governos. Seu plano econômico é insustentável e todos se vinculam ao narcotráfico, às Farc [narcoguerrilha colombiana] e a outros grupos criminosos como forma de sobreviver economicamente." Já César Guedes, da ONUDC em La Paz, vê uma atuação positiva. "A ONU reconhece que é um esforço muito grande para um país como a Bolívia, cujo PIB é de US$ 45 bilhões, dedicar US$ 30 milhões para o combate ao narcotráfico", afirma. "A Bolívia precisa de escolas, hospitais, estradas. É preciso ter uma responsabilidade compartilhada para alivar as pressões. Todos reclamam, mas os outros países precisam fazer mais." Morales surgiu para a vida política como um líder sindical dos cocaleiros na região do Chapare, na década de 1980. Nos anos 1990, notabilizou-se pelos enfrentamentos com o governo de Hugo Banzer Suárez, que prometeu a erradicação total da folha de coca no país. Na Presidência boliviana desde 2006, ele acumula o cargo de presidente da Federação de Cocaleiros do Trópico de Cochabamba. Durante seu governo, a área plantada com coca na Bolívia subiu de 25,4 mil hectares para 31 mil hectares no ano passado. Mas houve uma estabilização nos últimos dois anos, graças a programas de erradicação plantações consideradas ilegais. Somente neste ano, segundo dados oficiais, 10 mil hectares foram erradicados, mas a previsão é de que a área cultivada não caia. Para o diplomata Komniski, há o risco de que o governo esteja, de forma involuntária, fazendo um trabalho de renovação das plantas que seria feito pelo próprio produtor. "Na medida em que o Exército erradica as plantas, pode-se plantá-las novamente seis meses depois", diz ele. "Como não há um decréscimo substantivo na área plantada, ou estão sendo abertas novas áreas ou está havendo um replantio." As rusgas do governo boliviano com os Estados Unidos também atrapalham o combate ao narcotráfico, segundo as fontes. A crise nesse campo piorou em 2008, quando Morales expulsou do país, junto com o embaixador Philip Goldberg, a agência antidrogas DEA. Na época, Morales acusou o órgão de ingerência política, espionagem e de realizar operações por conta própria em território boliviano. No mês passado, os dois países assinaram um convênio para normalizar as relações, mas a Bolívia descartou a volta da DEA. "Do ponto de vista logístico e da capacidade de inteligência das forças de combate ao narcotráfico, a expulsão da DEA foi prejudicial", afirma Komniski. As divergências com os americanos também estão atrasando a assinatura de um convênio entre os dois países e o Brasil para o mapeamento dos plantios da folha de coca na Bolívia. Pelo acordo, o Brasil forneceria imagens de satélite e atuará na capacitação da polícia boliviana para a leitura desses dados. Já os americanos forneceriam equipamentos de GPS e outros para fazer a medição dos cultivos excedentes. Mas, diante da resistência de setores do governo Morales, a formalização desse acordo vem sofrendo sucessivos adiamentos. |