A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
PENSAR "GRANDE":
[NÃO TEMOS A PRESUNÇÃO DE FAZER DESTE BLOGUE O TEU ''BLOGUE DE CABECEIRA'' MAS, O DE APENAS TE SUGERIR UM ''PENSAR GRANDE''].
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“Pode-se enganar a todos por algum tempo; Pode-se enganar alguns por todo o tempo; Mas não se pode enganar a todos todo o tempo...” (Abraham Lincoln).=>> A MÁSCARA CAIU DIA 18/06/2012 COM A ALIANÇA POLÍTICA ENTRE O PT E O PP.
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''Os Economistas e os artistas não morrem..." (NHMedeiros).
"O Economista não pode saber tudo. Mas também não pode excluir nada" (J.K.Galbraith, 1987).
"Ranking'' dos políticos brasileiros: www.politicos.org.br
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segunda-feira, novembro 30, 2009
OAB/TSE: JOSÉ ROBERTO ARRUDA
Na mira de OAB e TSE
OAB avalia denúncias como “muito graves” | ||||
Autor(es): # Ricardo brito | ||||
Correio Braziliense - 30/11/2009 | ||||
Presidente nacional da entidade compara suposta corrupção no governo Arruda com o caso do ex-presidente peruano Alberto Fujimori DEM decide futuro hoje
O comando do Democratas tomará hoje uma decisão sobre o futuro do governador José Roberto Arruda no partido. A cúpula nacional da legenda teme o desgaste que o escândalo no DF pode causar à legenda e espera do governador que tome a iniciativa de dar explicações públicas ainda hoje. Caso isso não ocorra, caciques do DEM falam em expulsão. No início da tarde, está prevista uma reunião dos caciques do partido com o governador do DF. A direção do DEM divulgou na madrugada de ontem nota em que exige “esclarecimentos convincentes” de Arruda. “O partido tem o compromisso com a verdade e aguarda a manifestação oficial do governador para poder se pronunciar”, dizia a nota assinada pelo presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), e pelos líderes do partido na Câmara e no Senado, Ronaldo Caiado (GO) e Agripino Maia (RN), respectivamente. “Não dá para fazer algum juízo sem antes ouvir o governador”, afirmou o deputado ACM Neto (BA), da Executiva do partido. “Os fatos são muito graves, mas o governador tem todo o apoio do partido”, disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), da Executiva Nacional. Demóstenes falou ontem por telefone com Arruda. Segundo ele, o governador estava tranquilo e se defendeu das acusações. Apesar das manifestações de apoio, nos bastidores integrantes do partido defendem que o governador precipite a sua saída para evitar avaria maior à legenda, que tem planos de se contrapor ao lado do PSDB à chapa governista para as eleições presidenciais do ano que vem. (RB e LT) Arruda se diz vítima O governador José Roberto Arruda (DEM) fez o primeiro movimento na tentativa de responder às denúncias de corrupção. Ontem à tarde, divulgou nota oficial em conjunto com o vice-governador, Paulo Octávio, na qual se diz vítima de uma “trama” para desestabilizar seu governo. No registro, o Executivo classifica a iniciativa do delegado aposentado e até semana passada secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa, como um ato de “vilania”. O governo se diz “tranquilo” e confiante no trabalho da Justiça (leia abaixo a íntegra da nota). Na manhã de ontem, o governo delineou qual será sua estratégia de reação. Contratou mais um escritório de advocacia e decidiu se expor. De acordo com assessores próximos ao Buriti, Arruda deve dar uma entrevista coletiva hoje, na qual contestará as acusações de integrar um esquema de pagamento de propina a deputados de sua base de apoio na Câmara Legislativa. “Temos subsídio para combater uma a uma as acusações e quem fará isso é o próprio governador”, avisou o secretário de Ordem Pública e Corregedor do Distrito Federal, Roberto Giffoni. Aliados de Arruda trabalham em duas frentes. Em uma delas, reúnem informações para o contra-ataque aos inimigos políticos. Na outra, buscam elementos para construir a tese de defesa. Um dos argumentos será o histórico de gastos com informática no governo, que segundo o GDF sofreu uma redução de R$ 600 milhões em 2006 para R$ 300 milhões atualmente. Isso, segundo afirmam os governistas, é uma evidência de que o Executivo teria acabado com o esquema de fraude em liciações, um dos motes das ações que correm contra Durval Barbosa. Temos subsídio para combater uma a uma das acusações e quem fará isso é o próprio governador” Roberto Giffoni,secretário de Ordem Pública e Corregedor do Distrito Federal
Nota oficial
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ARRUDA: ''MEIA'' VERDADE
VÍDEO TRAZ ALIADO DE ARRUDA ESCONDENDO PROPINA NA MEIA
NOVO VÍDEO MOSTRA ALIADOS DE ARRUDA ESCONDENDO DINHEIRO ATÉ NAS MEIAS |
Autor(es): Rodrigo Rangel e Leandro Colon |
O Estado de S. Paulo - 30/11/2009 |
Novos vídeos sobre o esquema de corrupção no governo do Distrito Federal revelado pela Operação Caixa de Pandora aprofundam ainda mais a crise política que pode custar o mandato do governador José Roberto Arruda, do DEM. As cenas mostram deputados escondendo dinheiro nos bolsos e até nas meias. As imagens, gravadas com uma câmera escondida pelo ex-secretário de Relações Institucionais de Arruda, Durval Barbosa, apresentam os bastidores do chamado mensalão do DEM e a divisão do dinheiro que, de acordo com a investigação, era proveniente de propina paga por empreiteiras e prestadoras de serviço. Deputados e aliados políticos de Arruda aparecem em gabinetes do governo embolsando dinheiro e falando abertamente sobre o esquema. O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente (DEM), aparece escondendo dinheiro nas meias e nos bolsos da calça e do paletó. Falta espaço na roupa do deputado para guardar os maços de notas de R$ 50. Os vídeos mostram ainda um encontro de Barbosa com Marcelo Carvalho, executivo das empresas do vice-governador Paulo Octávio (DEM). Barbosa disse à PF e ao Ministério Público que era Carvalho quem costumava receber a parte do dinheiro que cabia a Paulo Octávio. Nas imagens obtidas pelo Estado, o executivo recebe uma pasta preta de Barbosa. Boa parte das imagens foi gravada no escritório do ex-secretário, um dos responsáveis pela arrecadação de dinheiro entre empresas que mantinham contratos com o governo e pela distribuição dos pagamentos a integrantes do primeiro escalão e a políticos aliados. Conhecido em Brasília como "rei do grampo", por causa do hábito de gravar seus interlocutores, Barbosa resolveu revelar o esquema após fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público, que pode lhe garantir redução de pena em caso de condenação judicial. BOLSA Outros parlamentares aparecem nos vídeos. A deputada Eurides Brito (PMDB) entra rapidamente na sala e pergunta: "Cadê o Durval?" Barbosa pede que ela dê meia volta e tranque a porta. Os dois trocam poucas palavras, a deputada abre a bolsa de couro marrom e, na mesma velocidade com que chegou, joga para dentro cinco maços de dinheiro. A conversa prossegue. Eurides ainda ensaia uma crítica a Arruda. "Você não acha que o governador perdeu as estribeiras?", pergunta. Logo depois, sai da sala carregando a bolsa, agora cheia de dinheiro. Em outro vídeo, o deputado Rubens César Brunelli (PSC-DF) entra na sala, recebe um maço de dinheiro e o coloca no bolso. Numa das gravações, Brunelli aparece rezando com Barbosa e com Leonardo Prudente (veja a oração ao lado). "Sabemos que somos falhos, somos imperfeitos", diz o deputado, para em seguida pedir proteção à vida de Barbosa. "Somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para nossa cidade", diz Brunelli. O ex-secretário também gravou conversas com empresários apontados como contribuintes do esquema. Cristina Boner, dona da TBA, holding de Brasília que representa a gigante americana Microsoft, trata com Barbosa de um contrato a ser firmado com o governo do DF. Já nos minutos finais da conversa, o ex-secretário sentencia: "Vou fazer uma emergencial com você por cinco meses, mais a licença." No inquérito, há documentos indicando que R$ 50 mil pagos pela empresária a Barbosa foram repassados ao governador "para pagamento de despesas pessoais". Outro financiador que aparece nas imagens é José Celso Gontijo, dono de uma das maiores construtoras de Brasília. Gontijo, a quem o secretário se refere como "Zé Pequeno", abre uma pasta, retira dois pacotes de dinheiro e os entrega a Barbosa. Os pacotes, com notas de R$ 50 e R$ 100, são postos sobre a mesa. O escritório do ex-secretário era frequentado por lideranças de partidos aliados ao governo Arruda, que também aparecem recebendo dinheiro. Um deles é Luiz França, ex-presidente do PMN. Outro é o ex-administrador da cidade-satélite de Samambaia José Naves. Ele recebe oito maços com notas de R$ 50. Hoje, Naves é diretor-presidente da companhia de habitação do Distrito Federal. O ex-deputado Odilon Aires, atual presidente do Instituto de Previdência dos Servidores do DF, também foi gravado recebendo dinheiro. Oração da Propina "Somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade, porque o Senhor contempla a questão no seu coração. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele. Nós precisamos da Tua cobertura e dessa Tua graça, da Tua sabedoria, de pessoas que tenham armas para nos ajudar nesta guerra. Todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, todas nossas atividades, mas o Senhor nunca falha. O Senhor tem pessoas para condicionar e levar o coração para onde o Senhor quer. A sentença é o Senhor quem determina, o parecer e o despacho é o Senhor que faz acontecer. Nós precisamos de livramento na vida do Durval, dos seus filhos, familiares." ------------------ |
TSE/ARRUDA: PANETONE OU ''DETONE''
ARRUDA: TSE VÊ INDÍCIO DE CAIXA 2
"TEM CARA DE CAIXA DOIS" |
Autor(es): Carolina Brígido |
O Globo - 30/11/2009 |
CORRUPÇÃO DOCUMENTADA |
GOVERNO LULA/LULA [In:] ''FAMÍLIA A, FAMÍLA Ê..."
Brasil
Será que genro é parente?
Marcelo Sato, casado com a filha mais velha de Lula, aparece em investigação da Polícia Federal conversando com empresário acusado de formação de quadrilha, estelionato e corrupção
Michel Filho/Ag. O Globo |
Lula como o francês François Mitterrand e o americano Jimmy Carter, teve algumas tristezas causadas por parentes |
Não são raros os casos de chefes de estado que, vez por outra, se encontram na constrangedora situação de administrar fanfarronadas de parentes, amigos ou pessoas próximas. O presidente Lula não escapa dessa maldição. Ele já passou por essa situação algumas vezes, uma delas quando seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, foi pilhado pedindo dinheiro ("dois pau") a um empresário do ramo de jogos. Agora, um genro do presidente aparece como protagonista de atos ilegais em uma investigação da Polícia Federal. O genro é Marcelo Sato, casado com Lurian, filha mais velha de Lula. Sato foi flagrado pelos policiais negociando o recebimento de 10 000 reais de um empresário ligado a uma quadrilha investigada por lavagem de dinheiro, operações cambiais clandestinas, ocultação de bens e tráfico de influência. Equivaleria a um certificado de boa conduta se tudo o que esses parentes e meios-parentes de Lula tivessem obtido de benefícios próprios em sete anos de governo fossem os "dois pau" para Vavá e os 10 000 reais para Sato, que deveria repassá-los a Lurian, conforme as gravações da PF. Mas a questão não pode ser colocada em termos de valores absolutos. É grave o caso de Marcelo Sato, oficialmente empregado como assessor parlamentar.
O marido da filha do presidente prestava serviços a uma quadrilha, ora acompanhando processos em órgãos federais, ora usando sua condição de "genro" para agendar reuniões dos suspeitos com autoridades do governo.
É no terreno fértil das franjas do poder que florescem histórias desse tipo. VEJA teve acesso a relatórios policiais reservados da chamada Operação Influenza, que, durante dois anos, monitorou as atividades de uma quadrilha de empresários de Santa Catarina e de São Paulo apontados como responsáveis por desfalques milionários contra os cofres públicos. O genro do presidente, segundo a PF, funcionava como lobista do grupo. Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça mostram que Marcelo Sato mantinha relações estreitas com o empresário João Quimio Nojiri, preso em junho de 2008. Nojiri era quem determinava quais missões o genro deveria cumprir dentro do governo. No dia 21 de maio de 2008, a polícia gravou uma conversa entre o empresário e um amigo de Lurian, identificado apenas como Guilherme. Nojiri conta que recebeu uma mensagem da filha do presidente, que estaria passando por dificuldades financeiras. O empresário, então, mandou depositar 10 000 reais para Lurian na conta-corrente de Marcelo Sato. "Tem certeza que tem que ser na conta dele?", pergunta o amigo. Nojiri liga para sua secretária e manda fazer a transferência do dinheiro.
A ajuda, porém, foi dada de maneira bem peculiar. João Nojiri pediu à secretária que fizesse "dois depósitos de 5" – uma provável medida de precaução contra a vigilância das autoridades, já que os bancos são obrigados a informar e identificar toda movimentação igual ou superior a 10 000 reais. Dividindo o repasse em dois, são nulas as possibilidades de a transação despertar a atenção da entidade fiscalizadora. "Estou fazendo um negócio pra você, tá? Tô sabendo que você tá precisando", informou o empresário a Marcelo Sato.
Lurian negou ter pedido dinheiro ao empresário Nojiri. "Não conheço esse homem. Nunca ouvi falar dele e não sei de dinheiro nenhum", garantiu ela. Marcelo Sato contradisse a esposa e admitiu a proximidade do casal com o investigado Nojiri, com quem teria uma amizade de dez anos. A versão dada por Marcelo Sato para justificar o repasse de 10 000 reais para sua conta exige que a tese da amizade longa e sólida seja verdadeira. O dinheiro seria fruto de um empréstimo pessoal feito por Nojiri e que já teria sido pago por Sato. João Nojiri, por sua vez, confirmou o vínculo com a família Sato, mas não se recorda nem da doação, nem do empréstimo, nem do pagamento do empréstimo. Disse Nojiri: "Não me lembro desses detalhes".
A relação entre empresário e assessor não era uma via de mão única. Se Nojiri prontamente atendia às carências do amigo, também recebia a contrapartida. Em inúmeras conversas registradas pela PF, Marcelo Sato agenda almoços, reuniões e audiências em Brasília com políticos graúdos. Ele conta com o apoio do deputado federal Décio Lima, do PT catarinense. O parlamentar, compadre do casal Sato, é íntimo dos acusados, mas também não se lembra de muita coisa: "Não tenho nenhuma relação com esse pessoal". Décio Lima pode ter esquecido, mas é sabido que ele com frequência tinha à sua disposição um avião da quadrilha investigada pela Polícia Federal. Em 14 de fevereiro de 2008, Sato, Décio e Nojiri estavam em Brasília. Sato disse que levaria o empresário para uma conversa com o presidente Lula, no Palácio do Planalto, tão logo encerrasse a agenda oficial do dia. A Presidência da República informou que não há registro do encontro.
Fotos Moser/Ag. Rbs e Beto Barata/AE |
O PODER DA SOMBRA O deputado Décio Lima embarca em um avião cedido pela quadrilha, que tinha o empresário João Nojiri (ao lado) como o responsável por cuidar dos interesses junto ao governo |
RELAÇÕES PERIGOSAS
Diálogos captados pela Polícia Federal revelam que o empresário paulista João Noriji deu 10 000 reais para Lurian Cordeiro Lula da Silva, filha do presidente Lula. Segundo a PF, a doação aconteceu na mesma época em que o marido de Lurian, Marcelo Sato, estava usando sua condição de "genro do presidente Lula" para ajudar a abrir portas no governo para a quadrilha que tinha João Nojiri como um dos principais integrantes. Noriji: Eu precisava do rádio, do ID do rádio da Lurian. Guilherme: Eu não tenho. N: Achei que você tinha o radio dela. G: Não, não tenho. N: E como você fala com ela? G: MSN N: Tá bom, então. Eu estou conversando com ela por e-mail. Diz a ela que eu estou resolvendo a questão dela, de uma necessidade, G: Tem certeza que tem que ser na conta dele? Porque ele não vai dizer a ela que entrou e ele não autoriza a ficar checando conta...
Noriji: Josi, aquele depósito. A Sacha te falou que tinha que fazer? Secretária: Depósito do Village? N: Não, o outro. Do Marcelo (Sato). S: Tá aguardando um ok do senhor, se é pra fazer na conta dele ou na conta da esposa. N: Faz na conta dele mesmo. Dois depósitos de 5, tá bom?. S: Tá ótimo então. Vou falar pra fazer na conta dele. Vinte minutos depois, João Nojiri liga para Marcelo Sato e informa sobre o depósito: Nojiri: Oi, querido. Marcelo Sato: Fala, querido. Tudo bem? N: Eu estou fazendo um negócio pra você, tá? Tô sabendo que você tá precisando. Conta com isso. S: Tá. Bom, a gente conversa direitinho... |
DENTRO DO PALÁCIO
Marlene Bergamo/Folha Imagem |
A Polícia Federal responsabilizou o genro do presidente Lula por tráfico de influência. Nas conversas captadas pela PF, Marcelo Sato promete colocar o empresário João Nojiri, que viria a ser preso meses depois, em contato com o presidente Lula.
Nojiri: Tá, mas que horas você acha que é bom ir pra lá?
Sato: Ah, porque hoje ele vai receber o presidente de Guiné Equatorial. Era pras 15h. Ele tá atendendo agora a agenda das 13h45. Aí depois tem o presidente, tem a Dilma, tem o Múcio, aí a gente.
N: Então, mas que horas você acha que a gente tem que ir pra lá?
S: Umas 18h30, por aí. Em princípio, o Múcio tava pra umas 19h. Acho que ele vai antecipar tudo e a gente conversa com ele. Ele vai pro Chile e volta domingo. (...)
N: Onde você tá?
S: Agora eu tô aqui saindo do (Palácio da) Alvorada.
N: Você não quer encontrar antes da gente ir lá pro anexo?
S: Se você quiser ir pra lá, pode ir. Porque eu já vou acertar direitinho lá no gabinete agora, entendeu?
N: Pode deixar marcado. Deixa tudo certo. Tô falando pra conversar com você antes de eu te encontrar, pra ir junto pra lá.
Que que você quer fazer?
S: Quero sentar lá no Palácio agora, falar: "Vem pra cá tal hora, certinho, que a gente vai falar"
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http://veja.abril.com.br/021209/sera-que-genro-parente-p-076.shtml
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BRASIL: ARMANDO AS FORÇAS
Guerra é guerra
O governo brasileiro vai importar da Rússia cinco baterias antiaéreas para espalhar pelo território nacional. As atuais estão obsoletas, porque só podem abater aviões a seis quilômetros de altitude. As novas alcançam o dobro da distância.
Começa a fazer sentido toda essa camaradagem com o Irã (e, agora, a vexaminosa abstenção do Brasil na condenação da ONU ao segredo nuclear iraniano). A América do Sul praticamente duplicou seus gastos militares nos últimos cinco anos, na toada da revolução chavista. O pessoal está levando a sério a brincadeira de afrontar o império ianque.
Enquanto Lula e seus amigos brincam de soldado, lá se vão mais de 30 bilhões de reais do contribuinte brasileiro no banho de loja das forças armadas. Está certo. É preciso se fortalecer contra o inimigo externo.
O diabo é o inimigo interno. Vai para três semanas o fatídico 10/11, sem uma sombra de conclusão sobre o que deixou meio país às escuras. Vai ver o apagão virou tática militar, para esconder os alvos do bombardeio iminente.
Quantos bilhões de reais estarão destinados ao reforço das linhas de transmissão energética, aparentemente suscetíveis a um soluço de São Pedro? Ao que se saiba, nenhum. Mas não precisa. Se apagar tudo de novo, em no máximo 48 horas Dilma aparece para explicar que no governo Fernando Henrique foi pior. É a era do apagão relativo.
Urgente mesmo é instalar logo as baterias antiaéreas russas. Se o inimigo demorar a nos atacar, o general Top Garcia – que já chamou Obama para briga – poderá dar ordem de fogo contra as nuvens negras que ameaçam o sistema elétrico nacional. Não vai sobrar um só raio se metendo a besta contra as instalações delicadas de Itaipu.
As baterias antiaéreas também poderão ir sendo usadas para saudar a chegada do Ano Novo, ou até na festa de lançamento do filme do filho do Brasil. Esses shows pirotécnicos andam muito fajutos. O messias do ABC merece coisa melhor.
Como se vê, não há perigo de o novo arsenal para abate de aeronaves a doze quilômetros de altitude ficar ocioso. A única coisa que ele não pode abater é ideia de jerico nos céus de Brasília.
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(*)
Guilherme Fiuza
Jornalista, é autor de Meu nome não é Johnny, que deu origem ao filme. Escreveu também os livros 3.000 Dias no Bunker, reportagem sobre a equipe que combateu a inflação no Brasil, e Amazônia, 20º Andar, a aventura real de uma mulher urbana na floresta tropical. Em política, foi editor de O Globo e assinou em NoMínimo um dos dez blogs mais lidos nessa área. Este espaço é uma janela para os grandes temas da atualidade, com alguma informação e muita opinião.- ----------------
- http://colunas.epoca.globo.com/guilhermefiuza/2009/11/27/guerra-e-guerra/
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BRASIL/POLÍCIA: SALÁRIO, QUALIDADE, VIOLÊNCIA
Danilo Venticinque
Basta que uma crise na segurança pública no país ganhe espaço no noticiário para que a remuneração dos policiais volte a virar tema de debate. Das conferências sobre segurança em Brasília às páginas de comentários de ÉPOCA, essa discussão tem ganho cada vez mais espaço. O consenso, na maioria das vezes, é que os policiais são mal-remunerados – o que afetaria diretamente a qualidade de seu trabalho.
Para discutir a relação entre o salário do policial e a segurança pública, ÉPOCA realizou um levantamento para verificar quanto ganha um policial militar no início da carreira. Os valores mostram que a realidade dos policiais varia muito de Estado para Estado. Para soldados em início de carreira, a diferença entre o salário mais alto (DF) e o salário mais baixo (RS) é de mais de R$ 2.700. O Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro pagam os piores salários: R$ 1.138,17 e R$ 1.277,67, respectivamente. A média nacional é R$ 1.814,96. (Leia mais no quadro abaixo, via sitio)
Nos dois Estados, representantes do governo reconheceram o problema, mas atribuíram os baixos salários à política de governos anteriores. “Durante muitos anos o Rio Grande do Sul deu reajustes maiores a servidores que já eram bem remunerados, em detrimento de categorias como a segurança e o magistério, que correspondem a 90% do funcionalismo”, afirma Mateus Bandeira, secretário do Planejamento do Rio Grande do Sul. Para o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, “há uma defasagem evidente e agora é preciso que o Estado recupere aquilo que não foi dado nos governos passados”.
As informações foram fornecidas pelo Comando Geral da Polícia Militar ou pelas secretarias de Administração e Segurança Pública de cada Estado. Os valores correspondem ao salário bruto de um soldado após concluir o curso de formação, incluindo gratificações mensais para alimentação e fardamento. Horas extras e adicionais para trabalho noturno não foram levados em conta.
Os números não correspondem, necessariamente, ao valor exato recebido pelos policiais ao fim do mês. No Rio Grande do Sul, por exemplo, são poucos os soldados que não fazem até 40 horas extras para aumentar a remuneração. No Rio de Janeiro, o alto valor dos descontos faz o salário líquido recebido pelos soldados ficar na casa dos R$ 900. “Não conheço nenhum soldado que ganhe mais de R$ 1.000 no Rio”, diz Vanderlei Ribeiro, presidente da Associação de Praças da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
No início do mês, uma pesquisa feita pelo Ministério da Justiça em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e divulgada em primeira mão por ÉPOCA revelou que os baixos salários são a principal preocupação de 92% dos policiais do Brasil. “O soldado não tem recursos para suprir as necessidades básicas da família e é forçado a fazer bicos. Muitos casais se separam”, diz Ribeiro. Além de afetar a vida pessoal dos policiais, o trabalho informal e as horas extras também teriam impacto direto sobre a segurança pública. “O excesso de trabalho é desgastante para qualquer pessoa e mais ainda para quem põe a vida em risco durante o período de trabalho. Isso se reflete em excesso de violência, ações não-planejadas e erros”, afirma Fabiano Monteiro, coordenador de um treinamento para policiais na ONG Viva Rio.
O combate às horas extras e à informalidade deu origem a iniciativas para tentar obrigar os Estados a aumentar a remuneração dos soldados. Entre elas está a Proposta de Emenda Constitucional 300/08, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados. Ela propõe equiparar os salários de todos os Estados ao valor pago aos soldados no Distrito Federal (R$ 3.869,56), criando um piso nacional para a categoria. Para o secretário-executivo do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Ronaldo Teixeira, o projeto é inviável. “Nenhum Estado hoje pode sair de um patamar de R$ 1.000 e passar para R$ 4.000. Seria uma repercussão muito pesada”, diz. Segundo Teixeira, é incorreto usar o Distrito Federal como parâmetro: por abrigar a capital do país, o DF recebe recursos da União para custear despesas com segurança, educação e saúde. Os Estados, por sua vez, dispõem apenas de sua própria arrecadação.
“A iniciativa é bastante positiva, mas não podemos criar ilusões. A lei não tem o poder de criar recursos, e o orçamento dos Estados é rígido”, diz Bandeira, secretário de Planejamento do Rio Grande do Sul. “Um reajuste desse porte implicaria um aumento de mais de R$ 700 milhões nas despesas do governo do Rio Grande do Sul”. Segundo ele, isso acabaria tendo de ser compensado por um aumento na carga tributária.
Entre os críticos da proposta, há também os que afirmam que o aumento salarial não provoca necessariamente uma melhora na segurança pública. “O piso nacional descaracteriza o federalismo e não é sinônimo de eficiência e de resultado. Existe um grande problema de segurança pública no Distrito Federal”, afirma a pesquisadora Paula Ballesteros, do Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP). Apesar de seus policiais contarem com os melhores salários do Brasil, o DF viu sua taxa de homicídios crescer 9,8% entre 2007 e 2008. A alta foi quase dois pontos percentuais maior que registrada no Rio Grande do Sul, Estado com os salários mais baixos. Mesmo que a relação não seja direta, a pesquisadora acredita que é necessário remunerar melhor os policiais. “Existe uma pressão da sociedade civil para que o profissional da segurança pública seja mais bem remunerado”, diz Paula. “Um bom salário mostra que o Estado respeita aquela função.”
Em vez do estabelecimento de um piso, tanto o Pronasci quanto os governos estaduais defendem medidas de longo prazo para valorizar a profissão dos soldados. A iniciativa foi adotada no Sergipe, onde um acordo determinou um aumento salarial escalonado ao longo de mais de um ano. Atualmente, os soldados no Estado ganham R$ 1.625. O valor vai aumentar gradualmente até dezembro de 2010, quando chegará a R$ 3.218. No Rio Grande do Sul, os reajustes devem se estender por mais tempo. “Há uma lei que atrela os reajustes à poupança do governo e privilegia os salários menores, mas não é possível prever uma data para que eles cheguem à média nacional”, afirma Bandeira.
O Rio de Janeiro, por sua vez, deve apostar nas gratificações, que reforçam a remuneração dos policiais sem a necessidade (e os benefícios) de um reajuste salarial. A partir de 2010, todos os policiais plenos do Rio de Janeiro passarão a receber R$ 350 a mais. Além da gratificação oferecida pelos Estados, o Pronasci oferece uma bolsa de R$ 400 para soldados que ganham até R$ 1.700 e participam de cursos de especialização. No Rio de Janeiro, 22 mil policiais se beneficiam da medida. A expectativa do Pronasci é que, nos próximos cinco anos, os Estados passem a incorporar essa gratificação aos salários. “A melhoria precisa ser contínua e por um bom tempo até chegarmos a níveis satisfatórios”, diz Beltrame. Tanto o Rio de Janeiro quanto o Rio Grande do Sul reconhecem que é necessário remunerar melhor os soldados, com reajustes ou gratificações, mas não arriscam estabelecer um prazo.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/1,,EMI107281-15228,00.html
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LITERATURA: AUTOAJUDA. AJUDA DO ''ALTO''?
Especial
Nas asas da autoajuda
O gênero que se propõe a auxiliar e confortar as pessoas nas questões espinhosas da vida é um fenômeno editorial que só faz aumentar: nunca tantos escreveram para orientar, e nunca tantos leram em busca de orientação
Silvia Rogar
Montagem com fotos de Pedro Rubens |
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"Nenhum homem é uma ilha", escreveu o inglês John Donne em 1624, em uma frase que atravessaria os séculos como um dos lugares-comuns mais citados de todos os tempos. Todo lugar-comum, porém, tem um alicerce na realidade ou nos sentimentos humanos - e esse não é exceção. Donne foi um dos poetas extraordinários de seu idioma, conhecido sobretudo pelos versos sugestivamente eróticos. Mas, quando distinguiu os homens, dependentes uns dos outros por natureza, das ilhas, isoladas por definição, em sua Meditação XVII, estava em outra etapa de sua trajetória. Aferrara-se ao anglicanismo e virara pregador. Procurava, com essa estrofe célebre, expressar um tipo diverso de amor: o sentido de conexão que quase todos experimentamos com nossos semelhantes. "Cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; (...) a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano", prosseguia sua Meditação. Durante toda a história da espécie, a biologia e a cultura conspiraram juntas para que a vida humana adquirisse exatamente esse contorno, o de um continente, um relevo que se espraia, abraça e se interliga.
A vida moderna, porém, alterou-o de maneira drástica. Em certos aspectos, partiu o continente humano em um arquipélago tão fragmentado que uma pessoa pode se sentir totalmente separada das demais. Vencer tal distância e se reunir aos outros, entretanto, é um dos nossos instintos básicos. E é a ele que atende um setor do mercado editorial que cresce a saltos largos: o da autoajuda, e em particular de uma autoajuda que se pode descrever como espiritual. Não porque tenha necessariamente tonalidades religiosas (embora elas, às vezes, sejam nítidas), mas porque se dirige àquelas questões de alma que, desde que o tempo é tempo, atormentam os homens. Como a perda de uma pessoa querida, a rejeição ou o abandono, a dificuldade de conviver com os próprios defeitos e os alheios, o medo da velhice e da morte, conflitos com os pais e os filhos, a frustração com as aspirações que não se realizaram, a perplexidade diante do fim e a dúvida sobre o propósito da existência. Questões que, como séculos de filosofia já explicitaram, nem sempre têm solução clara - mas que são suportáveis quando se tem com quem dividir seu peso, e esmagadoras quando se está só.
Ernani d’Almeida |
CATIVADA PELA LEITURA A ex-modelo Luiza Brunet, que há mais de vinte anos lê todos os dias, para si mesma ou para os filhos, algum trecho de O Pequeno Príncipe: mensagens de "bondade e simplicidade" |
As mudanças que conduziram a isso não são poucas nem sutis: na sua segunda metade, em particular, o século XX foi pródigo em abalos de natureza social que reconfiguraram o modo como vivemos. O campo, com suas relações próximas, foi trocado em massa pelas cidades, onde vigora o anonimato. As mulheres saíram de casa para o trabalho, e a instituição da "comadre" virtualmente desapareceu. Desmanchou-se também a ligação quase compulsória que se tinha com a religião, e que dava ao padre, ao pastor ou ao rabino o posto de conselheiros de todas as horas. As famílias encolheram drasticamente, não só no número de filhos, mas na sua extensão. Em lugar daqueles ajuntamentos ruidosos, que reuniam dezenas de tios, primos, avós e agregados de parentesco vago, mas firme, tem-se agora pequenos núcleos - pai, mãe e um filho ou, vá lá, dois. Nem esses núcleos resistem como antes. Nos Estados Unidos, a pátria da autoajuda enquanto gênero próprio, quase metade dos casamentos acaba em divórcio. No Brasil, onde até 1977 havia no máximo desquite, e ele era um escândalo, a taxa anda pelos 25%. A vida profissional, ainda, se tornou terrivelmente competitiva, o que acrescenta ansiedade e reduz as chances de fazer amizades verdadeiras no local de trabalho. Também o celular e o computador fazem sua parte, aumentando o número de contatos que se desfruta, mas reduzindo sua profundidade e qualidade. Com um grãozinho de misantropia, pode-se concluir que, bem, isso significa muito menos gente dando palpites indesejáveis. Não deixa de ser verdade; mas, maior do que esse ganho, é a perda daquela vasta rede de segurança que, desde que a humanidade começou a se organizar em agrupamentos codependentes, mantinha cada um de nós ancorado. Uma rede que, é certo, originava fofoca e intromissão, mas também implicava conselhos e experiência, amparo e solidariedade, valores sólidos e afeição desprendida, que não aumenta nem diminui em função do sucesso ou da beleza. Essa é a lacuna da vida moderna que a autoajuda espiritual vem se propondo a preencher: esse sentido de desconexão que faz com que, em certas ocasiões, cada um de nós se sinta como uma ilha desgarrada do continente e sem meios de se reunir novamente a ele.
CONSELHOS EM LARGA ESCALAAlguns dos campeões do ramo no mundo que fazem sucesso também no Brasil
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Nenhum homem ou mulher, de qualquer era, esteve livre de se sentir assim. A diferença é que, nas últimas décadas, essa angústia vem adquirindo proporção epidêmica. Considerado o embrião da autoajuda no país, o livro de conselhos e reflexões Minutos de Sabedoria, de Carlos Torres Pastorino, é há 49 anos um best-seller: já vendeu mais de 10 milhões de exemplares, e a cada ano movimenta algo como 300.000 novas cópias. Sua editora, a Vozes, acaba de relançar a obra com dez capas diferentes, na expectativa de aumentar as vendas em 50%. Se 10 milhões de cópias é uma marca espantosa em qualquer mercado editorial, no brasileiro, em que as tiragens médias são de 3.000 exemplares, ela é ainda mais impressionante. Outros títulos também exibem cifras grandiosas. O psiquiatra Augusto Cury, autor de Você É Insubstituível e outros best-sellers, e Zibia Gasparetto, espírita que se afirma escritora de mensagens transmitidas por entidades elevadas, já venderam, cada um, mais de 10 milhões de livros, e em muito menos tempo do que Pastorino. A autoajuda brasileira conta, ainda, com pesos-pesados como os psiquiatras Roberto Shinyashiki e Ana Beatriz Barbosa Silva, o guru de ioga professor Hermógenes, o cabalista Ian Mecler e religiosos como o padre Fábio de Melo. "Um dos fatores que impulsionam esse fenômeno é o fato de que hoje há muito mais especialistas nas diversas áreas do comportamento do que antes", opina a terapeuta de família Lidia Aratangy.
O acontecimento editorial do momento no país é O Monge e o Executivo, de James Hunter, desde novembro de 2004 na lista de livros mais vendidos de VEJA. Em 1997, em crise de meia-idade, Hunter decidiu escrever um texto para a filha pequena. "Eu queria que, se houvesse alguma fatalidade, ela soubesse como eu pensava. Em vez de dizer isso diretamente, preferi criar uma parábola, como fazia Jesus." O personagem principal do texto é um empresário bem-sucedido que abandona tudo para virar monge em um mosteiro beneditino. Nos Estados Unidos, caiu no gosto dos administradores de empresa. No Brasil, onde o autor já esteve dezesseis vezes para promover a obra e dar palestras, seu público desafia classificações. Vai de estudantes a gente idosa, abrangendo o vasto universo que há entre esses dois polos. "O brasileiro é muito espiritualizado, e quer ler sobre amor e dedicação", acredita Hunter. Saldo final: dos 3,5 milhões de exemplares que ele já vendeu no mundo, 2,5 milhões foram comercializados aqui. Mais extremo ainda é o caso do teólogo e psicólogo californiano Mark Baker, que defendeu em três livros já publicados a tese de que não existe conflito entre deitar no divã e ter fé em Deus - com ênfase nesse último elemento. Baker acredita que os ensinamentos de Jesus são a maior de todas as fontes de paz interior e argumenta que quem tem fé em Deus está menos sujeito a ter problemas com bebida ou drogas e leva uma vida mais saudável. Seu maior êxito é Jesus, o Maior Psicólogo que Já Existiu. Nos Estados Unidos, mal piscou no radar, com menos de 30 000 exemplares. No Brasil, aproxima-se da marca de 1 milhão de cópias. "Aqui, as pessoas estão abertas a diferentes ideias. Nos Estados Unidos, conservadores e liberais deixam o debate muito polarizado", disse Baker a VEJA.
Livros como Minutos de Sabedoria ou O Pequeno Príncipe - o decano do "texto-mensagem", preferido das misses e da ex-modelo Luiza Brunet, que há mais de vinte anos encontra todos os dias no clássico de Antoine de Saint-Exupéry lições de "bondade, generosidade e simplicidade" para si e para os filhos - sempre representaram um bom negócio. Mas eram quase que categorias em si mesmos. Hoje, nenhuma editora dá melhor medida da voracidade dos brasileiros por esse tipo de leitura que a carioca Sextante. A empresa foi criada, em 1998, já com o intuito de ser referência em autoajuda. Geraldo Jordão, que fundou a editora ao lado de seus filhos, Tomás e Marcos Pereira, percebeu o apelo do tema em meados dos anos 90, quando ainda estava no comando da editora Salamandra e lançou no país títulos de Brian Weiss, psiquiatra americano e guru da terapia de vidas passadas. Escritos para um público que extrapolava os limites religiosos, seus livros começaram a atingir a média de 80 000 exemplares vendidos por ano - patamar então impressionante. Quando fundou a Sextante, Jordão levou Weiss para o catálogo, bem como uma mistura eclética que, logo de início, reuniu do Dalai-Lama, o líder espiritual tibetano, ao médium James van Praagh, produtor executivo da série de televisão Ghost Whisperer, sobre uma moça que ajuda fantasmas a resolver as pendências deixadas em vida. "Queríamos falar sobre espiritualidade, mas não de uma maneira dogmática. Nosso critério sempre foi a abrangência dos temas. E a publicação em uma editora não religiosa ajudou a tirar o preconceito que existia em torno desse tipo de livro", diz Tomás Pereira. Atualmente, o filão da autoajuda espiritual e emocional responde por 75% do negócio da Sextante, o que representa quarenta lançamentos por ano e 4 milhões de exemplares vendidos no mesmo período. É da Sextante o êxito O Monge e o Executivo, assim como outro sucesso recente - A Cabana, do canadense William Young, sobre um pai que volta ao local em que sua filha foi assassinada e conversa sobre vida, morte, dor, perda e outros dilemas da alma com ninguém menos que a Santíssima Trindade.
Estima-se que 70% dos leitores de autoajuda espiritual sejam mulheres, a quem, por tradição cultural como também por contingência da vida moderna, cabe liderar e amparar a família nas questões da alma. E a experiência da editora católica Paulinas mostra o êxito de fechar a mira nas leitoras. Em 2005, ela firmou um acordo com a marca de cosméticos Avon para vender por meio de seu catálogo uma coleção de autoajuda, com títulos como Preocupe-se Menos... E Viva Mais! e Desenvolva Sua Inteligência Emocional e Tenha Sucesso na Vida. Pouco mais de 170 000 exemplares foram vendidos pelas vias normais. Já a parceria com a Avon comercializou 1,1 milhão de cópias. "As pessoas buscam nesses livros as respostas para os dilemas que vivem no cotidiano. Antes nosso público era mais tradicional, interessado nos livros católicos. Agora temos um grande número de leitores em busca de obras que tratem de espiritualidade de uma maneira mais abrangente", diz a editora Andréia Schweitzer.
Por mais que os leitores cultivados torçam o nariz para um gênero pontuado por clichês e uma narrativa em nada refinada, o certo é que muitos brasileiros hoje debitam a essa vertente editorial o amparo e a inspiração em momentos difíceis. O ator Jackson Antunes, hoje com 49 anos, protagonizou um desses casos dramáticos. Aos 22, desesperado com as tentativas fracassadas de se estabelecer como ator, ele estava entregue ao álcool e com vontade de desistir de tudo. "Fui levado a terreiro de umbanda, padre, pastor, e nada resolvia", conta. "Um dia, achei o livro Mergulho na Paz, do professor Hermógenes, esquecido em um ônibus. Ao abri-lo, deparei com a frase ‘Enquanto caía, pensava um pingo de chuva: que importa deixar o céu se estou indo fertilizar a terra?’. Aquilo bateu em mim de tal maneira que era como se tivesse dado uma volta por todo o meu organismo até se instalar na minha alma. Li tudo e entendi que a vida é muito mais do que sofrer, muito mais do que uma profissão. É afeto e compaixão. Hoje, em dezesseis anos de televisão, nunca tive uma desavença com ninguém", relata. Antunes tanto leu a obra do professor Hermógenes que terminou por ficar amigo do autor.
Muitos especialistas na ciência de ajudar as pessoas a compreender e superar seus problemas, contudo, são céticos quanto ao poder de transformação da autoajuda. "Esses livros são úteis quando tratam de temas como saúde e envelhecimento, porque trazem informações objetivas", diz a escritora e psicanalista Betty Milan. "Mas, quando lidam com problemas sentimentais, podem ser até nefastos. Nesses assuntos, a regra geral é a pior coisa que pode existir", afirma Betty, que há dois anos tira dúvidas sobre amor, sexo, casamento e família em sua coluna Consultório Sentimental, em VEJA.com - prática em que, por se atender a solicitações específicas, argumenta ela, é possível lidar com as subjetividades e singularidades de cada um. Visão semelhante tem Lidia Aratangy. De acordo com a terapeuta, a sensação do leitor de que encontrou uma boia nos conselhos de um guru pode aliviar seu desamparo e, assim, até ser positiva - o erro é interpretá-los como instruções práticas. "Quando o problema é com o marido, os livros ensinam a conversar com o seu, com o da vizinha, o da prima, como se todos fossem iguais. Na educação dos filhos, é a mesma coisa. Ou seja, as soluções sugeridas só vão funcionar em parte - ou simplesmente não vão funcionar", afirma.
Dê-se algum crédito, porém, ao leitor. Como observa Fábio Herz, da rede de livrarias Cultura, cada vez mais o interesse dos seus clientes migra dos meros manuais com que o gênero deslanchou para uma interpretação mais ampla do conceito de autoajuda - a mesma que se está exercitando nesta reportagem. E, nesse território, feito o rescaldo do que os autores têm a dizer, vê-se que impera a simplicidade: amar, aceitar, ter paciência, cultivar a alegria, desprender-se das miudezas do cotidiano, trabalhar por um mundo melhor para si e para os outros são os conselhos que estão no fundo de cada um dos novos best-sellers. Conselhos antigos e que, apesar de já terem sido oferecidos de graça muitas vezes antes, continuam valendo ouro.
Com reportagem de Sandra Brasil,
Sérgio Martins e
Raquel Salgado
À MODA DA CASAAlguns dos autores brasileiros de autoajuda espiritual mais lidos Ian Mecler Pílula de sabedoria:
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CONSELHOS QUE RENDEM OURO
Como a autoajuda espiritual ganha espaço no mercado brasileiro
• Em meados dos anos 90, um livro de muito sucesso no gênero vendia algo como 80 000 cópias
• Hoje, só a Sextante, a maior editora do setor no país, lança 40 novos títulos na área por ano, e vende 4 milhões de cópias, que respondem por 75% de seu negócio
• Há uma década, quando a rede francesa Fnac chegou ao país, tinha 15 000 títulos de autoajuda em suas prateleiras. Hoje, esse número saltou para 50 000
• Um livro de autoajuda custa em média 20% a 25% menos que um título de literatura.
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