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terça-feira, junho 16, 2009

AIR FRANCE: FRANÇA vs. BRASIL (SARKOZY vs. LULA)

França desmente declaração de Lula
Desentendimento sobre indenizações


Jornal do Brasil - 16/06/2009

O governo da França apressou-se em desmentir a declaração do presidente Lula de que seu colega francês, Nicolas Sarkozy, havia garantido indenização aos parentes das vítimas do voo 447. Lula esteve com Sarkozy em Genebra, em um encontro da OIT, onde pediu que sindicatos e trabalhadores ajudem a formar uma nova ordem econômica.

Governo francês nega que se responsabilizará por pagamentos, como declarou Lula ontem


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva protagonizou, ontem, em Genebra, na Suíça, juntamente com o governo da França, um pequeno desentendimento em relação à maneira como as indenizações de parentes de vítimas do voo 447 da Air France serão conduzidas. Lula disse, após encontro com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, que o governo da França havia se responsabilizado por todas as indenizações a serem pagas a familiares, no que foi desmentido pelas autoridades francesas.

De acordo com um porta-voz do Ministério dos Transportes francês, as indenizações ficarão por conta da companhia aérea. A própria Air France confirmou à agência de notícias Associated Press que seria o seguro da empresa, e não o governo, que se ocuparia das indenizações.

Ontem, as equipes de buscas da Marinha e da Aeronáutica informam que militares a bordo das aeronaves avistaram destroços a cerca de 950 quilômetros de Fernando de Noronha, em área próxima ao local onde materiais foram encontrados anteriormente. Não foram avistados novos corpos. A Fragata Bosísio está em deslocamento para Fernando de Noronha com os seis corpos anteriormente encontrados pela Marinha Francesa e transferidos para o navio brasileiro. A previsão é de que a embarcação chegue hoje à costa brasileira.

Substituição

A Air France informou ontem que substituiu todos os sensores externos que medem a velocidade da aeronave, o pitot, em sua frota de aviões Airbus A330 e A340, por modelos de nova geração. A afirmação foi feita à agência France Presse pelo porta-voz do SNPL, sindicato majoritário da companhia aérea, Erick Derivry. O porta-voz disse ter sido informado no fim de semana pela direção da Air France sobre a substituição de todas as peças nos aviões de longo percurso por modelos de nova geração. Estes sensores, que permitem medir a velocidade durante o voo, foram citados como possível causa do acidente com o voo 447 por causa dos dados contraditórios enviados.

– A Air France acelerou a substituição dos sensores em relação ao calendário inicial – explicou Derivry. A companhia já havia trocado "pelo menos duas sondas" das três normalmente instaladas nas aeronaves destes modelos, depois da ameaça feita na semana passada pelos pilotos "de não voar até que a substituição fosse concluída". A Air France havia se comprometido a substituir o terceiro sensor antes do dia 5 de julho.

O diretor geral da Air France-KLM, Pierre-Henri Gourgeon, havia confirmado na última quinta-feira a aceleração do programa de substituição dos sensores Pitot nos Airbus A330 e A340, apesar de se declarar "não convencido" de que o instrumento tenha sido responsável pela tragédia do voo AF 447.

– Nosso programa foi acelerado porque sabemos que, neste acidente, houve um problema na medição da velocidade – afirmou à imprensa Pierre-Henri Gourgeon. No dia 27 de abril, depois de ter constatado incidentes nestes sensores, a companhia lançou um programa de substituição em toda a sua frota de A330 e A340 – 15 aparelhos A330 e 19 do tipo A340.

As conclusões do Escritório de Investigação e Análise da França (BEA), encarregado da investigações, indicam uma "incoerência das velocidades medidas" por estes sensores. O presidente da Air France informou que os primeiros carregamentos de novos sensores "pitot" para os A330 e A340 solicitados pela companhia chegaram à empresa no dia 29 de maio, três dias antes do acidente do AF 447.

Familiares

A Air France informou ontem que desmontou o centro de hospedagem para os parentes das vítimas do voo 447, no hotel Guanabara, no centro do Rio. Segundo a companhia, apenas um posto de informações exclusivo para as famílias dos passageiros permanecerá no local.

Ainda de acordo com a Air France, a estrutura foi cancelada porque os dados necessários para as investigações do acidente já foram coletados pela Policia Federal, pela companhia e sua seguradora. De acordo com a gerência do hotel, todos os parentes das vítimas deixaram o centro de hospedagem no domingo, assim como os psicólogos, médicos e voluntários que prestavam atendimento para a companhia.

Os integrantes da Marinha e da Aeronáutica, que estavam hospedados no mesmo lugar também já deixaram o hotel. Eles eram responsáveis por passar as informações sobre as buscas para os parentes das vítimas. A Air France ofereceu desde o dia 2 hospedagem aos parentes das vítimas. Até o dia 9, as famílias ficaram hospedadas no hotel Windsor, na Barra da Tijuca, sendo transferidas para o hotel Guanabara devido ao término do período de reserva em seguida. (Com agências)

terça-feira, junho 09, 2009

''AIR FRANCE'': TAXIANDO...

Grupo de pilotos faz ameaça de paralisação
Pilotos exigem troca de sensor e podem parar



Autor(es): MARCELO NINIO
Folha de S. Paulo - 09/06/2009


Um grupo de pilotos da Air France ameaçou parar de voar até que a empresa substitua os sensores de velocidade da frota de Airbus. Mensagem enviada pelo avião que caiu indicava problema nos sensores externos. Para os pilotos, a falha pode ter causado o acidente. O maior sindicato da categoria na França confirmou as suspeitas, mas disse estar satisfeito com as medidas já tomadas pela companhia.Aeronáutica e Marinha já resgataram 24 corpos de vitimas do voo 447. Cinco navios e 14 aviões mantêm as buscas dia e noite.
Membros de sindicato minoritário criticam Air France por não suspender voos mesmo após admitir problemas em sensores de velocidade Grupo, que representa cerca de 10% dos comandantes, disse acreditar que falha está entre as principais hipóteses para queda de Airbus no mar Um grupo de pilotos da Air France ameaçou ontem parar de voar até que a empresa substitua os sensores de velocidade da frota de Airbus.
Membros de um sindicato minoritário, o Alter, que representa cerca de 10% dos comandantes da Air France, criticam a empresa por não ter suspendido os voos dos Airbus-A330 e A340 mesmo após admitir, no sábado passado, que os sensores desses modelos haviam apresentado problemas.Uma das mensagens automáticas enviadas pelo Airbus que caiu no Atlântico, com 228 pessoas, indicava problema nos sensores externos.Para os pilotos, a falha está entre as principais hipóteses para o acidente. "Queremos proteger nossos tripulantes e passageiros", disse o sindicalista Christophe Presentier à emissora France Info.
No sábado, a agência francesa que investiga o acidente confirmou que a peça já havia mostrado falhas nos A330 e A340 e que a Airbus havia recomendado a troca. E acrescentou que o avião que caiu no dia 31 não havia passado pela atualização.Cada avião tem três dessas peças, chamadas pitots. São tubos instalados na dianteira do avião, que medem a velocidade do vento e enviam os dados para outros sistemas.
Uma das mensagens automáticas enviadas pelo Airbus em seus minutos finais indica problemas na medição dos pitots, dentro da sequência de panes que o aparelho acusou.
Uma das hipóteses é que, com isso, o computador do avião tenha interpretado dados errados e induzido os pilotos a fazer manobras inadequadas.
Sem admitir ligação com o acidente, a Air France anunciou no sábado que iria "acelerar" a troca dos sensores. Ontem, disse que todos os aviões A330 e A340 já estão com pelo menos um sensor novo."Em nove aviões já foram trocados dois ou três dos sensores", disse a porta-voz da Air France, Veronique Brachet.
A Air France tem 15 aviões do modelo A330 e 19 do A340. Segundo Brachet, a troca de apenas um dos sensores é suficiente para dar segurança imediata ao avião. Ela disse que a substituição total será "rápida", mas não falou em prazos.
A porta-voz disse não temer uma greve de pilotos (a empresa tem 4.000), já que a ameaça partiu de uma minoria.Outro sindicatoO maior sindicato de pilotos da França, o SNPL (Sindicato Nacional dos Pilotos de Linha da França), também diz existir a suspeita que o desastre esteja ligado ao sensor, mas afirma estar satisfeito com as medidas adotadas. "O ideal seria a troca imediata dos três sensores, mas ter um trocado já dá uma boa garantia de que os dados de velocidade serão enviados corretamente", disse o vice-presidente do SNPL, Pascal Guerin.Para Guerin, comandante de um A340, ainda é cedo para dizer o que derrubou o Airbus, mas está claro que uma falha simultânea dos três sensores coloca o piloto em apuros. "Sem eles o piloto perde todas as indicações de velocidade."Ele classificou de "excessiva" a exigência do sindicato Alter, que orientou seus membros a se recusarem a voar enquanto ao menos dois dos sensores não forem trocados.Indagada por que a troca não havia sido feita antes do acidente, a porta-voz da Air France disse que a explicação está no comunicado emitido pela empresa no sábado.
Nele, a Air France afirma que se antecipou à proposta da Airbus de realizar uma experimentação dos novos sensores e decidiu trocar todas as peças a partir de 27 de abril.E conclui: "Sem pressupor uma ligação com as causas do acidente, a Air France acelerou este programa de troca".Por meio de sua assessoria em São Paulo, a Airbus disse que recomendações como a de troca dos sensores "são frequentes e não relacionadas a incidentes específicos". Afirmou que a intenção "é melhorar a performance do equipamento, e não a segurança". A empresa não respondeu aos outros questionamentos para "não prejudicar a apuração".
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sábado, junho 06, 2009

EDITORIAL: "MEDO DE AVIÃO"* [ROTAS & NOTAS ROTAS]

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AIR FRANCE, VOO 447
Essa viagem para o vazio

Por Eugênio Bucci em 5/6/2009

Reproduzido do Estado de S.Paulo, 4/6/2009; intertítulos do OI

Para tudo na vida há um poema de Drummond. Para quase tudo na morte, também. Para um desastre aéreo, por exemplo, lá está ele, Carlos Drummond de Andrade, com as palavras necessárias:

"A morte dispôs poltronas para o conforto/ da espera. Aqui se encontram/ os que vão morrer e não sabem./ (...)/ Sinto-me natural a milhares de metros de altura,/ nem ave nem mito,/ guardo consciência de meus poderes,/ e sem mistificação eu voo,/ sou um corpo voante e conservo bolsos, relógios, unhas,/ ligado à terra pela memória/ e pelo costume dos músculos,/ carne em breve explodindo./ (...)/ Ó brancura, serenidade sob a violência/ da morte sem aviso prévio,/ cautelosa, não obstante irreprimível/ aproximação de um perigo atmosférico/ golpe vibrado no ar, lâmina de vento/ no pescoço, raio/ choque estrondo fulguração/ rolamos pulverizados/ caio verticalmente e me transformo em notícia."

Os versos de "Morte no avião" compareceram, ainda que em silêncio, ao noticiário da semana. Sempre é assim quando somos sobressaltados por um acidente aéreo de proporções tão graves como o do voo 447 da Air France. A gente quase não fala desses versos, talvez para não provocar mais dor sobre a dor já instalada, mas eles estão ali, presentes, doendo. O Airbus A330-200, que sumiu do mapa às 23h14 do domingo, quando sobrevoava o Atlântico, não pousou em Paris, como programado, mas nas páginas dos jornais. Cada uma das 228 pessoas a bordo "caiu verticalmente e se transformou em notícia". Exatamente como Drummond avisa.

Último ritual

A palavra "notícia" fecha o poema como se o cortasse bruscamente. Ela é chave para compreendermos como o jornalismo, nesses casos, nos ajuda a aplacar o sofrimento. No verso final, a palavra "notícia" subverte o que seria a ordem natural das coisas. A "notícia" ocupa o lugar de "cadáver" ou mesmo de "espírito": surge como o destino certo dos que encontram a morte no avião. Dificilmente eles poderão ter um funeral como outros mortos normais, pois seus corpos se perderam. Nessas circunstâncias tão "antinaturais", é pelas manchetes que eles são velados – e é assim, velando-os, que as notícias confortam os que ficam.

Os jornais os velam, verdadeiramente, mas os velam a seu modo: não pelo silêncio, mas pelo excesso de palavras, em letras garrafais. É o que se passa agora, com o voo 447. Os noticiários se desdobram para resgatar não os corpos, mas a biografia das vítimas. Suas histórias e suas fotografias ocupam o lugar dos restos mortais. São elas, as biografias sintéticas e as fotografias, que são pranteadas. A moça que tinha medo de avião – e que, por isso, adiou o embarque por vários dias – está lá. O casal em lua de mel, também. O tripulante brasileiro que falava muitas línguas sorri. Nós os vemos em seus álbuns de família. Os parentes comparecem às mesmas páginas, desolados em saguões. É uma cerimônia fúnebre e ruidosa ao mesmo tempo. É o modo que a notícia tem de fazer seu luto.

Para alguns, a cobertura peca pelo sensacionalismo, mas não é bem assim. Nesses casos, pelo menos, não só assim. A própria poesia de Drummond fala em "choque, estrondo, fulguração", fala em "pulverização" de corpos humanos. Ela chama para si as cores espetaculares da catástrofe. Mais que denunciar "sensacionalismo", ela localiza na notícia a "morada final" desses mortos. A notícia sobre eles cumpriria uma função não declarada de consolar os que sobrevivem, atônitos. Sem o jornalismo nós talvez não tivéssemos como recobrir com palavras o vazio deixado pelos desaparecidos, e sem essas palavras não teríamos como superar a perda. Nessas ocasiões, as notícias seriam, então, o ritual que nos resta.

Saturados de notícias

Assim é que, diante do que se passou com o voo AF 447, os jornais não descansam. Não conseguiriam descansar. As reportagens, as entrevistas com os especialistas – entrevistas exaustivas, mais que exclusivas –, as revelações das investigações sobre as causas do acidente, tudo se multiplica. Os jornais lidam com o trauma quase insuportável deixado por um avião que cai do ar e depois naufraga no oceano. Eles representam uma ansiedade que é de todos: a ansiedade de explicar o inexplicável, de processar a aceitação do inaceitável, simbolizar um sepultamento que na prática é inviável.

Na capa dos jornais de quarta-feira (3/6) apareceu a foto de um militar francês que, da janela de uma aeronave, olhava para o mar, com binóculos. Procurava sinais. Olhava para o que ainda não enxerga. Tentava ver o invisível. Estamos todos assim, à espera de um sinal, de uma forma de decifrar o desastre, precisamos de algo que nos convença de que existe, em algum lugar, de algum modo, uma explicação para o que aconteceu, uma falha mecânica, um erro humano. Precisamos de algo que nos autorize a acreditar que tudo não passou de um lamentável engano, uma distração que poderia ter sido evitada pela técnica e pela ciência.

Ainda na quarta-feira, no meio do dia, surgiram pistas: uma mancha de óleo, um objeto de sete metros de diâmetro, estilhaços flutuantes. A isso nos vamos apegar, a partir de agora. O noticiário vai-se abastecer desses resquícios e das ilações que eles permitirem. É assim que as notícias cuidarão de fechar a ferida que nos pôs cara a cara com o vazio que engoliu o Airbus 330-200. Cuidarão de soterrá-la. Quanto mais elas falarem do avião, menos pensaremos sobre o pesadelo que elas encobrem. Depois, a comoção vai passar. Aos poucos, saturados de notícias, nós vamos nos esquecer do acidente, do poema de Drummond e do vazio que nos espreita.

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AIR FRANCE, VOO 447
Falta amarrar as pontas

Por Alberto Dines em 5/6/2009

Nas grandes comoções, quando a curiosidade se acopla à solidariedade, a imprensa torna-se verdadeiramente investigativa. Nestes raros momentos, jornalistas e leitores compartilham os mesmos impulsos.

A tragédia do vôo AF 447, interrompido no meio do Oceano Atlântico, vem combinada a um espesso mistério. Se acontecesse em terra, teria testemunhas, a perícia nos destroços seria imediata. No meio do mar, sem qualquer pista sobre a exata localização do desastre, sem o desesperado diálogo entre os pilotos, a imprensa mundial só pode trabalhar com hipóteses.

A caixa preta aqui não é retórica, não é uma esperança, sua ausência é um ponto final. Como escreveu na quinta-feira (4/6) Eugênio Bucci no Estado de S. Paulo (pág. A-2, ver aqui), o preito às vítimas não se faz através do silêncio, mas através de palavras. E através das palavras, discretamente, começa a filtrar-se uma hipótese.

Mistérios insondáveis

Os especialistas começam a mencionar a intensificação das tormentas aéreas e o gigantismo dos sistemas de cúmulos-nimbos (CB) altamente eletrificados em determinadas rotas.

As mudanças climáticas começam a ser cogitadas como vilãs. No entanto, o aquecimento global foi praticamente excluído do noticiário sobre as enchentes no Norte-Nordeste e sobre a seca que assola a Argentina e o sul do Brasil.

As duas ocorrências são extraordinárias, inclusive pela simultaneidade, porém a mídia insiste em ignorar as drásticas alterações no meio ambiente. Embora cada veículo tenha o seu "ecochato", o ambientalista de plantão, encarregado de chamar a atenção do público para os perigos ambientais, raramente são ouvidos.

Diariamente desfilam na TV lindas "meteorologistas" lendo as previsões do tempo, porém incapazes de relacionar os fenômenos correntes com as grandes e lentas mutações planetárias.

A mídia sabe cultivar os insondáveis mistérios, mas detesta encarar os inequívocos perigos cotidianos.

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www.observatoriodaimprensa.com.br

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(*) MEDO DE AVIÃO (Belchior)

Foi por medo de avião

Que eu segurei pela primeira vez na tua mão

Um gole de conhaque, aquele toque em teu cetim

Que coisa adolescente, James Dean.

Foi por medo de avião (...)
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www.vagalume.com.br
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sexta-feira, junho 05, 2009

TECNOLOGIA [In:] "TEMPOS MODERNOS" II [HAL 9000]*

A MÁQUINA CONTRA O HOMEM
MÁQUINAS QUE VENCEM HOMENS


Autor(es): Marcelo Ambrosio
Jornal do Brasil - 05/06/2009

Especialistas questionam sistema de controle do Airbus

A queda do avião da Air France fez subir o tom do debate sobre a confiabilidade da tecnologia. Para especialistas, uma pane no sistema de controle computadorizado, projetado para substituir o piloto, passou a neutralizar a capacidade do ser humano de sair de situações de alto risco. As críticas ao modo como a Air France tem conduzido o repasse das informações obrigaram o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, a defender a companhia aérea em sua visita ao Rio: "Não estamos escondendo nada". O governo do Brasil informou que tentará negociar as indenizações para as famílias dos 53 brasileiros que estavam a bordo.

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As discussões em torno da queda do A330 da Air France e as dificuldades na busca aos destroços no Atlântico estão perdendo terreno para um debate em torno da confiabilidade da tecnologia. Afinal, que influência a filosofia dos Airbus, baseada primariamente na pilotagem por computadores, teve na interrupção do voo AF447, cuja degradação é a única parte conhecida da tragédia? Para muita gente, uma pane inesperada em um sistema projetado para substituir o piloto passou a ser um perigoso fator de neutralização da capacidade insuperável do ser humano de achar saídas novas em situações de crise. Especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil no Brasil e na França se dividem quando o assunto é o que fazer, ou não, com esse modelo daqui para a frente.

O clamor em torno de uma revisão integral desse sistema cresceu especialmente após a divulgação do alerta de segurança da agência de segurança aérea da Europa para problemas com o controle computadorizado. Em outubro do ano passado, um A330 da australiana Qantas teve problemas com o ADIRU, o centro nervoso do jato. Como se tivesse vida própria, o equipamento inventou uma pane inexistente e reagiu mergulhando duas vezes sem controle até ser dominado.

Reação

As suspeitas levaram o ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, a reagir contra a hipótese de um recall do Airbus A330, a retirada de operação para uma revisão. Koucher garante que o Airbus – fabricado por um consórcio europeu no qual a França é um dos principais acionistas – é seguro. Pode ser, mas há ressalvas: para o especialista em segurança de aviação e investigação de acidentes, comandante Douglas Machado, a questão é da definição operacional:

– Nos Airbus, a prioridade do controle é da segurança do projeto. São 30 km de fios em cada jato.

Isso significa, por exemplo, que enquanto nos outros jatos manobras pouco usuais são acompanhadas de alarmes de alerta, no caso do controle por computador o automatismo impede esse tipo de reação.

– É o avião que monitora o piloto – completa Machado.

Um exemplo dramático ocorreu no acidente com o A320 em Congonhas, em 2007. Na ocasião, como o piloto deixou uma das manetes de potência em aceleração mínima, o computador central entendeu que deveria proteger o voo e entrou em ação, bloqueando o funcionamento dos spoilers (freios aerodinâmicos nas asas) e dos freios dos trens de pouso. Acidente similar já havia ocorrido com outro A320 em Taipé, Formosa, quase à mesma época. Felizmente, todos a bordo do vôo TNA536, da Transasia, se salvaram. Ambos os incidentes despertaram a mesma discussão, mas o assunto acabou esquecido.

Procurados pelo JB, representantes do sindicato dos pilotos da França reagiram com firmeza às suspeitas. "Computadores sempre podem ser desligados e os pilotos tem instruções de como desconectar tudo e voar no básico. Estão ali para tornar voos longos mais confortáveis, mas se necessário um A330 pode ser comandado da mesma forma que um Cessna", responde, de Paris, o comandante Cedric Maniez, vice-presidente da União dos Pilotos Comerciais da França e habilitado para o A330 e o A340.

A diferença está justamente nesse tempo de reação. Diferentemente das aeronaves comuns, no sistema automatizado o comandante precisa domar o computador, como os australianos fizeram, antes de procurar o que fazer. E esse tempo pode ter sido tudo que a tripulação do AF447 não pôde ter diante das circunstâncias.

– O piloto é a Maria ali, tem de resolver tudo. Mas nesse caso o jato é autosuficiente – define o comandante Machado, ressalvando que os parâmetros de segurança do A330 são bons. – Um modelo precisa ter 10 milhões de horas de voo para ser consolidado, e esse tem.

Em defesa da tecnologia, há que se levar em conta um dos únicos pousos bem sucedidos na água realizados até hoje, o feito pelo A320 da USAirways no Rio Hudson, há alguns meses. Ali, depois de perder as duas turbinas em choques com gansos, o comandante não tinha tempo ou energia elétrica para voar, desativou os computadores e conduziu o jato como um planador até pousar suavemente, dentro do possível, nas águas geladas. As condições gerais do jato, no entanto, eram melhores. E a tecnologia o impediu de afundar, ao selar todas as aberturas do casco.

Indenizações: Tarso propõe ajuda às famílias

Ministro quer mediar acordos com empresa aérea

Brasília

O ministro da Justiça, Tarso Genro, revelou ontem que o governo vai tentar intermediar com a companhia Air France as indenizações para as famílias dos brasileiros que estavam a bordo do voo 447. Tarso afirmou que, em até 45 dias, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, ligada ao ministério, entrará em contato com os familiares das vítimas propondo que elas participem da Câmara de Indenizações. Existe a possibilidade, no entanto, de que o Ministério da Justiça aguarde o pedido de ajuda das famílias para intervir no processo. Segundo informações do próprio ministério, somente se requisitada a intermediação poderia ser feita.

Na câmara, o governo reúne parentes das vítimas, representantes da empresa aérea, a seguradora envolvida e integrantes do Ministério Público Federal. A ideia é acelerar o pagamento das indenizações. No encontro, a SDE propõe um valor inicial para as negociações, levando em consideração decisões do Superior Tribunal de Justiça em situações semelhantes. Pela previsão do governo, com a medida, as indenizações podem sair em até três meses. O valor proposto pelo governo em alguns casos chega a ser 30% superior ao proposto pelas seguradoras. A secretária de Direito Econômico, Mariana Tavares, explicou, no entanto, que as indenizações deverão ser tratadas de forma individual.

– É possível criar a câmara, mas esse é o momento de respeitarmos o luto das famílias. Estamos acompanhando junto com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) a prestação do dever de assistência e no momento adequando, se as famílias assim desejarem, estaremos a disposição – disse Tavares.

A Câmara de Indenizações já foi utilizada anteriormente pelo governo em tragédias aéreas com vítimas brasileiras. Uma das situações foi o acidente com o voo 3054 da TAM que se chocou contra um prédio da empresa ao lado do Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul de São Paulo, e pegou fogo, causando a morte de 199 pessoas. A câmara foi responsável pelo acordo para o pagamento de indenização de 59 famílias das vítimas. Segundo Archelal Xavier, da associação de vítimas do voo 3054 da TAM, esse apoio do governo é importante.

– Enquanto por um lado as famílias e crianças estão chorando, do outro lado, existem negociadores especialistas tentando derrubar e diminuir o valor das indenizações – observou Xavier. A associação de vítimas do voo da TAM esteve ontem em Brasília, reunida com Tarso, justamente para tratar detalhes das indenizações.

Auxílio

O presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin, recomenda aos parentes dos passageiros do acidente com o A330 da Air France, que se unam e escolham um curador, ou responsável, para auxiliá-los nos procedimentos necessários ao pagamento de indenizações e a outros processos que surjam daqui para a frente. Segundo ele, o curador é importante para resolver tarefas como dar entrada nos processos e acompanhá-los, sobretudo na Justiça.

– Os parentes mais próximos, herdeiros e sucessores, não devem aceitar qualquer tipo de acordo proposto pela companhia aérea sem ouvir seu advogado. É comum apresentarem um termo de acordo, mas as circunstâncias exigem a análise por um profissional alheio ao choque emocional – alertou Tardin.

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HAL 9000 (Heuristically programmed ALgorithmic computer, ou Computador Algorítmico Heurísticamente Programado em tradução livre) é um personagem ficcional da série Odisséia Espacial, de Arthur C. Clarke, e foi imortalizado pela adaptação cinematográfica feita por Stanley Kubrick do primeiro volume da mesma, 2001: A Space Odyssey, de (1968).

www.pt.wikipedia.org

www.adorocinema.com.br

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