'Escravos' sustentam 'boom' do etanol no Brasil, diz 'The Guardian'A indústria brasileira do etanol está apoiada sobre um exército de 200 mil migrantes pobres que trabalham como cortadores de cana em condições que muitos classificam como similar à escravidão, segundo afirma reportagem publicada nesta sexta-feira pelo diário britânico The Guardian. O texto, que acompanha outra reportagem sobre a visita do presidente George W. Bush à América Latina, que no Brasil tem o etanol como principal ponto da agenda, relata a realidade dos trabalhadores sazonais que buscam trabalho nas zonas de plantação de cana durante a época de colheita. A reportagem, feita na cidade de Palmares Paulista, no interior do Estado de São Paulo, comenta que “no ano passado, o açúcar e o álcool ficaram em segundo lugar na lista dos produtos agrícolas de exportação do Brasil, com uma receita estimada em US$ 8 bilhões”. O jornal afirma que os produtores esperam que a produção cresça 55% nos próximos seis anos, por conta da demanda crescente da Europa e dos Estados Unidos, mas que “com um passeio pela periferia de Palmares Paulista, aparece uma imagem muito mais sombria do que o presidente Lula classificou como ‘revolução energética brasileira’”. “De um lado, densas plantações verdes de cana-de-açúcar que se estendem até onde os olhos podem ver; de outro, casebres tortos de tijolo aparente amontoados, abrigando centenas de trabalhadores empobrecidos que arriscam suas vidas e seus membros para prover cana-de-açúcar para as usinas locais”, diz a reportagem. O texto relata que ativistas dizem “que os cortadores de cana são efetivamente escravos e reclamam que a indústria brasileira do etanol é, de fato, um mundo obscuro de aliciadores e abusos aos direitos humanos”. A reportagem diz que, entre os problemas enfrentados pelos trabalhadores estão “turnos de 12 horas sob o calor escaldante e ganhando apenas cerca de R$ 2 pela tonelada de cana cortada, antes de regressarem aos abrigos superlotados alugados para eles a preços extorsivos por proprietários de terra inescrupulosos, muitas vezes eles mesmos ex-cortadores de cana”. “Diante de um trabalho exaustivo em temperaturas de mais de 30º C, alguns deles morrem”, diz a reportagem, citando um levantamento da Pastoral do Migrante que indica que 17 trabalhadores morreram entre 2004 e 2006 como resultado de excesso de trabalho ou exaustão. “Mas o êxodo anual do nordeste continua, e conforme aumenta o investimento estrangeiro na indústria do etanol, os números devem subir ainda mais”, afirma o Guardian. (BBC Brasil, foto idem).
Nenhum comentário:
Postar um comentário