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sábado, abril 14, 2007
EDITORIAL: "POPULARIDADE" OU CRISE DE "IDENTIDADE" ?
POPULARIDADE OU CRISE DE IDENTIDADE?
Não é estranho, muito estranho, que em meio ao caos que se “instalou” pela crise aérea e correspondente CPI, das discussões de aumentos de verbas e dos salários do Legislativo e também do Presidente, do nepotismo “regulamentado” pela Câmara e da possibilidade de implementação da TV pública, a mídia divulgue os resultados de duas pesquisas de popularidade do Governo Lula? Num intervalo de dois dias uma da outra, por dois Institutos de pesquisas (Census e Ibope) e por encomenda de duas Confederações, uma dos “transportes” (CNT) e outra da “indústria” (CNI)?
Na pesquisa divulgada pelo IBOPE, a avaliação ótima ou boa caiu para 49% neste mês (57% em dezembro/2006), enquanto a ruim ou péssima subiu para 16%, (na anterior, 13%).
Qual a finalidade dessas pesquisas? Desviar a atenção dos [e]leitores sobre o “caos” que tomou conta da Terra Brasilis, em razão da falta de segurança vista em todos os níveis (aérea, terrestre e “pluvial”) ou é muita “popularidade” saindo pelo ladrão [sem trocadilhos] e que as pesquisas “apenas” corroboram as evidências?
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A semana iniciou com o aceno de se efetivar a CPI do Apagão Aéreo por pressões da “oposição” (notadamente pelo PSDB) junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que depende de decisão desse Órgão para que a mesma se efetive. Por outro lado, diversas “ações” foram “encenadas em bastidores e em palcos diferentes” para que essa CPI não se concretize. Uma dessas ações ocorreu por conta da demissão de quatro integrantes da INFRAERO, entre eles, o diretor comercial da empresa, o superintendente de Planejamento e Gestão, e dois advogados da assessoria jurídica da estatal, contratados pela gestão anterior, em razão da “guerra” entre o ex-presidente da Infraero, deputado Carlos Wilson (PT-PE) e o seu sucessor no comando da empresa, brigadeiro José Carlos Pereira, e cujo imbróglio envolve uma licitação suspeita para compra de 79 ônibus no valor de quase R$ 50 milhões, que o brigadeiro terá de explicar [deu nos jornais!]. Nessa peleja se incluem outras denúncias que envolvem cifras mais modestas, como por exemplo o contrato de concessão de uso de uma área para exploração de um posto de combustível nas dependências do Aeroporto JK, em Brasília, e outras questões que envolvem a venda de combustíveis adulterados. Por essas e por outras que o PSDB e o DEM (ex-PFL) passaram a recolher assinaturas para a abertura de uma segunda CPI do caos aéreo, desta vez no Senado, sabendo-se da vantagem que teriam caso a nova comissão seja instalada, pois somando-se os votos dos senadores tucanos (16) e dos democratas (14), chega-se a 30, três a mais do que o necessário (27) num colégio de 81 senadores. A oposição (PSDB e DEM) sabe que a eventual abertura de uma CPI no Senado representará uma derrota para Lula. Por sua vez, o Governo sinalizou imediatamente, através de lideranças, que está disposto a instalar a CPI do Apagão Aéreo na Câmara, antes mesmo da decisão do STF, numa tentativa de desidratar a CPI do Senado.
Observamos ainda na semana, a ameaça de que 50 controladores de vôos deixariam o Cindacta-1, de Brasília, por questões de condições de trabalho haja vista as precárias condições dos equipamentos desde o caso do vôo 1907, bem como na atualidade, de aviões que “somem do mapa”, multiplicam-se ou mudam inesperadamente de altitude no sistema de controle de tráfego aéreo de Brasília, de acordo com documentos deste ano do Centro de Controle Aéreo 1, de Brasília, divulgados pela imprensa. E, sem contar os aspectos relacionados à reivindicação por melhores salários e pela desmilitarização do quadro funcional. Por tudo isto é impossível “apagar” a penúria em que se encontram as Forças Armadas. Em relação a desmilitarização (ou não) do controle do tráfego aéreo, nada de novo a partir do “duelo” travado no Planalto, em mais de duas horas [tendo o Presidente por testemunha] entre o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito e o ministro da Defesa, Waldir Pires.
Por lado, quase que “incólumes” a esses acontecimentos, os deputados federais (Câmara) voltaram a discutir a proposta de aumento da verba mensal de gabinete, atualmente de R$ 50,8 mil [usada no pagamento dos salários de até 26 assessores --que variam de R$ 601 até R$ 8.040] para R$ 65,1 mil, num reajuste de 28%, “devidamente justificado” pela correção da inflação acumulada dos últimos quatro anos. Em relação ao aumento dos próprios salários, segundo o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), terceiro secretário da Câmara, isso já é consenso, não há mais o que discutir. O mesmo reajuste de 28% aplicado elevaria os salários dos deputados de R$ 12,8 mil para R$ 16,3 mil. Na esteira dessas correções salariais foi colocada a correção salarial do presidente Lula.
Ainda em relação a Câmara, os líderes partidários e o presidente da Casa, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), reunidos decidiram por unanimidade que não haverá mais sessões de votação às segundas-feiras, à medida que nesses dias – independentemente do “apagão aéreo” - as sessões não estavam tendo quórum mínimo para votação. Outro aspecto que corrobora a falta de compromissos eleitorais vai ao encontro do nepotismo. O texto proposto pela presidência da Câmara, tornou-o mais “palatável” no entender de alguns deputados. O projeto mantém a proibição de contratação de parentes até o terceiro grau (cônjuges, pais, filhos, tios e sobrinhos) em todo o serviço público, contudo, permite a efetivação da parentela de quarto grau (primos e cunhados). A válvula de escape que motivou a aprovação é a manutenção da “nomeação indireta”, quando agentes públicos conseguem encaixar parentes na folha de salários de outro poder, a exemplo de um deputado poder acomodar a sua mulher no gabinete de um prefeito do mesmo partido [ou de outros parentes até o terceiro graus] e vice-versa.
Por outro lado, tentando desconcentrar o “poder de mercado” exercido pela Rede Globo que, conforme foi divulgado, detém cerca de 70% do total das verbas destinadas a publicidades na televisão, o presidente Lula voltou a falar sobre a “televisão pública”, onde em discurso disse que “não pretende reinventar a roda”, apenas que “pretende que a nova rede dê informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la". No entanto, essas palavras já não contêm certo “tom" de censura? Pois é possível perceber que o “pincel” ou a lata de “spray” ficará com o Presidente! Coincidentemente ou não, o novo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, disse que é por "preconceito" e por "resistência a tudo que não seja privado" que se critica a iniciativa do Presidente. Em termos de meios públicos de comunicação, é bom lembrar que o Presidente dispõe da Radiobrás e da TV Nacional de Brasília, além da prerrogativa de poder convocar a qualquer tempo os demais veículos para os pronunciamentos oficiais do Governo.
A propósito, os resultados da pesquisa ou os objetivos da pesquisa nos fizeram lembrar um programa de variedades, na TV, que começou numa “chácara” (granja), cujo apresentador geralmente (tra)vestido de palhaço jogava ao público “nacos” de bacalhau ou o premiava com um “troféu abacaxi”. O clássico “pão e circus”.
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