Na bica de obter a aprovação da CPMF na Câmara, o governo começou a contar votos no Senado.
Concluiu o óbvio: sem a ajuda da oposição, não conseguirá prorrogar o imposto do cheque até 2011, como deseja. Faltam-lhe entre seis e oito senadores para atingir 49 votos, o mínimo necessário para aprovar uma emenda à Constituição. O quadro adverso fez com que Lula e seus operadores passassem a admitir, entre quatro paredes, algo que negam em público: falam abertamente em fazer concessões. Mencionam, por exemplo, a hipótese de redução da alíquota do tributo, hoje de 0,38%. Estudam, alternativamente, a idéia de reduzir outros tributos.
Na Câmara, a principal arma do Planalto, é a fisiologia. Trocam-se votos por verbas e cargos. No Senado, acredita-se que, além do toma-lá-dá-cá, o governo terá de negociar o conteúdo da emenda constitucional da CPMF, combinando os seus interesses com os do PSDB. Lula e seus auxiliares imaginam que, cedendo no mérito da proposta, conseguirão rachar a unidade da oposição no Senado.
Parte-se do pressuposto de que o PSDB, por considerar-se uma alternativa real de poder na sucessão de Lula, em 2010, está bem mais propenso a aprovar a CPMF do que o DEM. De fato, a uniformidade de tucanos e ‘demos’ é frágil. No momento, as cúpulas das duas tribos estão unidas por um objetivo comum: fustigar Renan Calheiros, forçando-o a afastar-se da presidência do Senado. Mas é nítida a diferença de timbre dos líderes das duas legendas no que diz respeito à CPMF. O DEM adotou em relação ao tributo um procedimento que, no jargão congressual, é chamado de “fechamento de questão”. Significa dizer que os ‘demos’ que votarem a favor da CPMF sujeitam-se à expulsão. No discurso, o PSDB também é contra a prorrogação do imposto. Mas a oratória dos tucanos soa como entreato de uma peça cujo epílogo será a negociação. Nesta terça-feira (25), conforme noticiado
aqui, o líder de Lula no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), reúne-se com o líder de tucanos e ‘demos’. Estrategicamente, Arthur Virgílio (PSDB-AM) e José Agripino Maia (DEM-RN) resolveram excluir a CPMF da pauta da reunião. Afirmam, em uníssono, que não é hora de tratar desse assunto. Jucá vai à mesa disposto a celebrar um acordo que ponha fim à obstrução oposicionista que paralisou o plenário do Senado na semana passada. Virgílio e Agripino aproveitam o êxito do bloqueio para arrancar do governismo o compromisso de enfiar na pauta de votações projetos anti-Renan. Entre eles a abertura dos votos em julgamentos por quebra de decoro parlamentar e o fim das sessões secretas. A oposição identifica no burburinho que tomou conta dos corredores do Senado uma divisão na seara governista. Já não são amistosas como antes as relações do PT com o naco do PMDB fiel ao presidente do Senado. Dos 12 senadores petistas, oito cultivariam o desejo de ver Renan pelas costas. Os expoentes do grupo são Aloizio Mercadante (PT-SP) e Tião Viana (PT-AC). O descontentamento do petismo é adensado pela insatisfação do naco do PMDB que não integra a tropa de Renan. Esse grupo esperava do senador um gesto de desprendimento em retribuição ao resgate de seu mandato. Imaginava-se que, absolvido, Renan se licenciaria do cargo. Renan, porém, dá de ombros: “Jamais fiz e nem faria qualquer acordo para garantir meu mandato. Mesmo porque isso seria, de certa forma, admitir ter feito alguma coisa errada. Não há, não houve e nem haverá qualquer acordo. Continuarei conduzindo os trabalhos da Casa como tenho feito desde meu primeiro mandato”, diz, sobranceiro.
Escrito por Josias de Souza, Folha Online.
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