Renan, que resiste a sair, será recebido hoje por Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), têm encontro marcado hoje, no Palácio do Planalto, mas a discussão sobre uma licença do cargo ou uma eventual viagem de férias do senador devem ficar fora da pauta. A despeito dos apelos públicos de correligionários e de líderes do governo e de partidos da base aliada para que Renan saia de cena e facilite a aprovação da emenda que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), a disposição do senador é não dar espaço a Lula para que trate desse assunto na conversa. Na questão da prorrogação da CPMF, Renan se vê, atualmente, como uma solução e não como um problema, pois acredita que tem influência suficiente para garantir os votos necessários. Mas um líder governista disse ontem ao Estado que tanto o Planalto como as forças políticas que ajudaram o senador a se livrar da cassação avaliam que seu afastamento do cargo de presidente da Casa seria "um fator facilitador" nas negociações para aprovar a emenda, especialmente difíceis no Senado, onde a oposição, que resiste à proposta, é mais forte.Um amigo do senador contesta essa opinião e diz que ele venceu em plenário e não tem por que sair da presidência. Para esse amigo, o governo tenta pôr todas as suas dificuldades nas costas de Renan, mas não é seu problema se haverá ou não votação da CPMF, e sim um problema da instituição, das relações entre governo e oposição e entre o Parlamento e a sociedade. O aliado acha ainda que agora o presidente do Senado deve apenas ter equilíbrio e falar pouco. Mas o líder governista insiste em que há uma maioria generalizada em favor do afastamento de Renan, embora ninguém fale em uma licença de 120 dias, pois isso já implicaria a posse de seu suplente. Esse líder garante que todos os senadores, até mesmo os principais aliados do peemedebista, como José Sarney (PMDB-AP) e os líderes do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), e no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), partilham do entendimento de que o melhor cenário para o Planalto agora seria ter Renan fora do Senado "por uns dias, quem sabe um mês".Mas o presidente do Senado não tem nenhuma intenção de ceder aos que querem vê-lo longe do Congresso e de Brasília. Segundo o amigo de Renan, que acompanha cada lance do caso, o movimento dos governistas para afastá-lo não passa de uma tentativa de arranjar uma desculpa para justificar as dificuldades do governo, que não tem maioria confortável na Casa.
DIFICULDADES: Até o petista Tião Viana (AC), vice-presidente do Senado, reconhece que a maioria do governo é precária e a situação piorou depois da absolvição de Renan. "Está muito difícil aprovar a CPMF, não só pelo Renan, como pelo governo, que tem que ter 49 votos favoráveis e eu não vejo mais do que 41 votos", disse Viana ontem. Ele admitiu que, entre os 46 senadores que livraram o presidente do Senado da cassação na semana passada, "tem voto que é do Renan e não é do governo". Na sua opinião, o peemedebista está em melhor situação que o governo, no que se refere a votos no plenário.
CACIFE: Em conversas reservadas, Renan tem dito que em vez de descartá-lo, o governo deveria pensar o quanto ele pode ser útil numa articulação complexa como a da CPMF, não só pelos votos que tem na base governista, mas sobretudo pelo trânsito e pelo apoio de que ainda desfruta na oposição. É verdade, porém, que boa parte da salvação de Renan, a começar pela quantidade de votos que teve na base aliada, tem de ser debitada ao trabalho dos líderes do PT a seu favor. Portanto, o Planalto foi parte ativa na sua absolvição. Estadão, Christiane Samarco.
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