Sarney já é sondado para assumir posto
Apesar de aparentar calma e se dizer seguro de que vai ganhar na votação em plenário, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) avaliou ontem, em conversas com aliados, a possibilidade de renunciar ao cargo e entregar a presidência do Congresso ao senador José Sarney (PMDB-AP). Essa estratégia conflitava com os levantamentos feitos ontem por governistas e oposicionistas - todos dizendo que, se a votação fosse hoje, Renan seria absolvido. Os próprios aliados, contudo, consideram que a tendência, até a votação em plenário, na semana que vem, é a situação política dele piorar. O próprio Renan confidenciou a aliados que o pior ainda pode estar por acontecer, que é enfrentar o processo que vai investigar a sociedade dele com o usineiro João Lyra na compra de rádios e um jornal de Alagoas, em nome de laranjas. Esse processo já está no Conselho de Ética, à espera da escolha do relator. O senador acha que os documentos divulgados por Lyra são o sintoma de uma ameaça maior. O presidente do Senado admitia a renúncia por saber, também, que a oposição trabalha para que, em caso de derrota, a absolvição se dê pela menor diferença possível no placar. Se ele salvar o mandato por apenas um ou dois votos, ficará numa situação politicamente constrangedora e passível de ter sua autoridade constantemente contestada. Para o Planalto, esse clima político atrapalharia a tramitação e aprovação da CPMF. Afinal, a maior oposição, no Congresso, à renovação da vigência da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira até 2011, está no Senado. Com o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) no comando da Casa, o governo restabeleceria a calma institucional no Legislativo. Ontem, o assunto foi discutido com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o próprio Sarney, que almoçou com Renan, com o líder do PMDB no Senado, Valdir Raupp (PMDB-RO), e até, em telefonemas, com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se preparava para deixar o Haiti e voltar ao País. A renúncia de Renan influenciaria o resultado do plenário, podendo culminar até em sua absolvição. Segundo aliados, seria a única saída para ele. Depois de praticamente cem dias de duros golpes, ele ficaria apenas sem a presidência, mas, com o gesto, manteria o mandato, avaliou um interlocutor de Renan ao Estado. Governistas e oposicionistas esperam mais denúncias no fim de semana prolongado e acham que o clima não lhe é favorável depois da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de abrir processo contra os 40 acusados do mensalão. A renúncia de Renan à presidência do Senado só não pode suspender a votação no plenário - a legislação diz que depois de aberto o processo não há mais como a renúncia produzir o efeito de que desfrutaram, por exemplo, senadores como José Roberto Arruda (PSDB-DF), hoje governador do Distrito Federal, e Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), morto há dois meses. Eles renunciaram antes da abertura do processo por quebra de decoro, mantiveram os direitos políticos intactos, disputaram a eleição seguinte e se reelegeram."Não tem nada disso. Vamos ganhar no plenário com 50 a 60 votos", disse o senador Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, ao ser questionado sobre a hipótese de renúncia. "Aquela votação (no Conselho de Ética) não é parâmetro para nada. No plenário , o voto será fechado. Muda tudo", afirmou Almeida Lima. Ontem, ao fim da sessão do conselho, um dos relatores do caso, Renato Casagrande (PSB-ES), calculava que o placar seria de 46 a 35 a favor do presidente do Senado se a votação no plenário fosse hoje. "Pelos meus cálculos, o senador Renan escaparia de perder o mandato na votação do plenário. Mas como a votação acontecerá na quarta-feira, podem ocorrer mudanças até lá. Certamente, a pressão da opinião pública poderá mudar o voto de algum senador indeciso. De qualquer jeito, com qualquer resultado, a votação terá um placar apertado."Um tucano expressou a avaliação da bancada assim: "Hoje o Renan ainda tem condição de escapar, mas o Senado começa a ficar preocupado com a opinião pública. Votos duvidosos estão vindo para nós." A nova contabilidade passou a incluir o voto contrário ao presidente do Senado do senador Heráclito Fortes (DEM-PI) e de mais quatro petistas, inclusive o senador Flávio Arns (PT-PR). Ana Paula Scinocca, Rosa Costa, Christiane Samarco e Marcelo Moraes, Estadão.
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