Procurador vai acusar Azeredo por mensalão mineiro
O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), ex-governador de Minas, vai encabeçar a lista de políticos a serem denunciados ao Supremo Tribunal Federal (STF), nos próximos dias, pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, por envolvimento com o mensalão mineiro. Azeredo é apontado em inquérito da Polícia Federal como mentor e principal beneficiário do esquema de arrecadação ilegal de recursos nas eleições de 1998, quando ele disputou - e perdeu para Itamar Franco - a reeleição ao governo. O inquérito relaciona 36 envolvidos no esquema, entre os quais o atual ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, o publicitário Duda Mendonça e o empresário Marcos Valério, também operador do mensalão petista, montado no governo Lula a partir de 2003. A lista inclui ainda os coordenadores da campanha de Azeredo, dirigentes de estatais mineiras e executivos de empresas, sobretudo empreiteiras, que tinham negócios com o governo e fizeram grandes doações sigilosas. A inclusão ou não de Mares Guia na denúncia ainda depende da análise de alguns documentos de defesa. Segundo o relatório da PF, a coligação de Azeredo, que tinha como vice o ex-deputado Clésio Andrade, do PFL (atual DEM), promoveu um derrame de dinheiro ilegal na campanha, por meio de caixa 2. A coligação só declarou à Justiça Eleitoral R$ 8,55 milhões, dos mais de R$ 80 milhões gastos na campanha, sem contar os R$ 20 milhões que ficou devendo. Do total gasto, conforme perícia contábil realizada pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), R$ 10,8 milhões foram doados a mais de 170 candidatos de 19 partidos, além de avulsos. A diversidade de beneficiários levou a PF a designar o escândalo de mensalão mineiro, em vez de tucano. Até porque entre os maiores aquinhoados está o PT, que recebeu R$ 880 mil, o terceiro maior volume de recursos, ficando atrás apenas do PFL (R$ 1.364.900) e do PTB (R$ 1.153.750). Em número de candidatos beneficiados com recursos do mensalão mineiro, o PT ficou em primeiro lugar, com 35 nomes, mais que a soma de PSDB (13) e PFL (14). Até para o PMDB, partido do adversário Itamar, a coligação mandou R$ 200 mil para cooptar a candidatura de Antônio do Vale a deputado. Entre os candidatos tucanos, o segundo mais aquinhoado foi o atual governador, Aécio Neves, que recebeu R$ 110 mil. Uma vez eleito deputado federal, Aécio veio a se tornar presidente da Câmara. A denúncia do procurador, que deve ficar pronta por volta do dia 30, incluirá instituições financeiras que contribuíram e ajudaram a lavar o caixa 2, que teria sido formado com dinheiro desviado de órgãos públicos e doações clandestinas de fornecedores do governo de Minas. Na primeira fase serão denunciados apenas os envolvidos no planejamento e operação do esquema - por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, falsidade ideológica, crimes financeiros e crimes eleitorais. Conforme a perícia do INC, pelo menos R$ 28,5 milhões gastos na campanha estavam escorados em empréstimos de fachada feitos por Marcos Valério, o operador do esquema. Valério, diz o inquérito, simulou sete operações de crédito com os bancos Rural (4), Cidade (2) e de Crédito Nacional (1). Juntas, as quatro operações com o Rural somaram R$ 21,06 milhões.Com 172 páginas, o inquérito é assinado pelo delegado Luiz Flávio Zampronha e está sendo analisado por Souza há quase dois meses. Segundo a perícia, o dinheiro veio na maior parte dos cofres públicos de Minas, tanto da administração direta como indireta, sobretudo de cinco estatais: Copasa, Bemge, Cemig e Fundação Duprat. O restante foi doado clandestinamente por grandes empresas prestadoras de serviço do Estado.
TRATAMENTO: Azeredo disse ontem que tem a expectativa de receber do procurador-geral o mesmo tratamento dispensado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na denúncia do mensalão. O tucano espera ficar de fora da acusação formal. “O presidente Lula não foi citado (na denúncia do mensalão), apesar de ter havido dúvidas sobre a Visanet. Acho que são situações semelhantes. Se há alguma dúvida em relação às estatais de Minas, também houve dúvidas em relação ao Banco do Brasil e o presidente Lula não foi citado”, disse ao Estado. “No meu ponto de vista não há questões que possam levar à minha citação.” Vannildo Mendes, Felipe Recondo e Sônia Filgueiras, Estadão. Foto arquivo Ag. Senado.
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