PENSAR "GRANDE":

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sábado, outubro 27, 2007

EDITORIAL: ... ALGO QUE NOS "DELEITE"

EDITORIAL – 27 de outubro de 2007.

“O LEITINHO DAS CRIANÇAS...”.

Queremos quer que, “nunca antes na história deste País” algo tão estarrecedor nos fosse revelado pela Polícia Federal (PF), através de suas investigações. Trata-se, mais uma vez, de um trabalho sério investigativo contido na chamada Operação Ouro Branco.
“Ouro branco”. Outra denominação mais sugestiva não poderia ter sido adotada senão essa. Contudo, não sabemos a extensão da ironia contida nessa denominação, haja vista os resultados conclusivos da Operação.
Desse modo, criou-se um imbróglio na cabeça das pessoas em relação ao paradigma de saúde, que se conhecia e que era passado de geração em geração, em torno do leite e dos seus derivados. Trata-se do cálcio que esse “alimento” contém [sic] e da sua eficácia para a proteção dos ossos e dentes por toda a vida.
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No que se refere à quebra de paradigma(s) ou de modelo(s) de conduta, temos outros que, até prova em contrário, também foram quebrados ou, no mínimo, ficaram “trincados”. Estamos nos referindo aos paradigmas institucionais, entre eles, o acadêmico/científico e o estrutural/institucional considerando-se neste o Governo (executivo, legislativo e judiciário) e seus órgãos de regulação, notadamente a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
As primeiras notícias veiculadas, através do relato da PF, davam conta de que as empresas “Parmalat” e “Calu” (Cooperativa Agropecuária Ltda.), de Uberlândia, estavam entre os compradores de leite das cooperativas Coopervale (Cooperativa dos Produtores de Leite do Vale do Rio Grande) e Casmil (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro). Segundo o relato, as cooperativas são acusadas de "batizar" o leite longa vida com substâncias que aumentavam seu volume e que disfarçavam suas más condições de conservação. O “batismo” consiste na adição de produtos químicos para aumentar seu volume e “durabilidade” do leite. Entre a adulteração do produto estão a adição de água oxigenada (peróxido de hidrogênio) ao leite pasteurizado e de soro de leite acima do índice máximo permitido [?]. As cooperativas, segundo a Procuradoria, usavam até soda cáustica. A intenção era "recuperar" o leite que chegava estragado dos produtores rurais.
Vejamos:
1. O COOPERATIVISMO é[ra] um paradigma intocável em termos de “probidade”, justiça, ética e bem-estar comum.
A origem do que é denominada de cooperativa tem data marcada: 21 de dezembro de 1844. Nesse dia, 27 tecelões e uma tecelã do bairro de Rochdale, em Manchester-Inglaterra, fundaram a “Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale”. O que aparentemente parecia apenas um armazém, idealizado para oferecer aos seus associados artigos e primeira necessidade e outros serviços de ordem econômico-social, transformou-se na semente do movimento cooperativista. Com objetivos claros e eticamente discutidos, esses trabalhadores economizaram, durante doze meses, 28 libras e criaram uma sociedade que atuaria no mercado, tendo o homem como principal finalidade, e não o lucro (grifos nossos). Os objetivos e forma de organização social do trabalho e economia da Cooperativa de Rochdale transformaram-se, posteriormente, em Princípios do Cooperativismo Mundial. Generalização à parte, o que diriam os acadêmicos de herança socialista-utópica que viam nos “probos de Rochdale” os ditames que inspiraram Robert Owen e Charles Fourier para o ideal comunista?
2. O valor nutricional do CÁLCIO. De acordo com a ciência, o cálcio é essencial para a transmissão nervosa, coagulação do sangue, contração muscular, além de garantir uma boa formação e manutenção de ossos e dentes. Recentemente foi descoberto que o cálcio ajuda na produção dos líquidos linfáticos. Por outro lado, quando existe deficiência de cálcio na corrente sanguínea, seja por má alimentação, ou por questões hormonais, o corpo tende a repor a deficiência retirando cálcio dos ossos. A longo prazo a deficiência de cálcio pode levar a osteoporese, na qual os ossos se deterioram e há um aumento no risco de fraturas. Contudo, o seu consumo em excesso pode ocasionar as conhecidas “pedras” no rim, que são na verdade pequenos aglomerados de uma substância conhecida como “oxalato de cálcio”. Os principais alimentos como fontes de cálcio são os laticínios (leite e derivados, como iogurte e queijo), hortaliças verde escuras (exceto espinafre) algas marinhas, gergelim integral, amêndoas e feijões (wikipedia.org). Em outro sítio eletrônico temos que “foi demonstrado que o cálcio do leite é bem absorvido — o longa vida (ultrapasteurizado) e o pasteurizado, por exemplo têm uma excelente absorção” (grifamos). “Por isso, eles são indicados para atender às necessidades de cálcio, principalmente nas fases do crescimento, da gestação e da lactação” [www.pratiqueleite.com.br].
O laudo técnico realizado nas amostras de leite, por um laboratório do Ministério da Agricultura, considerou-o impróprio para consumo humano. O “peróxido de hidrogênio” (água oxigenada) adicionado pela cooperativa CASMIL, para disfarçar as más condições sanitárias de conservação e transporte, reduz o seu valor nutricional. A cooperativa COOPERVALE adicionava soda cáustica, de acordo com o depoimento de seu presidente ao delegado da PF de Uberaba (MG). O pior: quem a ingere leite com água oxigenada pode ter dores de estômago e até morrer, dependendo da concentração, segundo o laudo obtido pela Procuradoria mineira. A soda cáustica pode, por exemplo, danificar a mucosa intestinal, causando até perfurações. Quanto a adição de soro ao leite, só seria válido se este leite fosse destinado á alimentação de animais.
3. A ANVISA (poder executivo). A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a partir de ontem (26) em todo o País a comercialização de leites integrais longa-vida das empresas Parmalat e Calu. E a Vigilância Sanitária de Minas Gerais determinará a proibição da venda de leites da marca Centenário. As medidas não valerão para todos os leites, mas apenas para alguns lotes. De acordo com os laudos laboratoriais, as amostras dos referidos lotes “não estão em conformidade” ou encontram-se em desacordo com os padrões de identidade e qualidade considerados pela legislação do Ministério da Agricultura. A diretora da Anvisa, Maria Cecília Brito, disse que as pessoas que têm leite longa vida destas marcas em casa não devem consumir o produto. Para aquelas pessoas que consumiram leite dos lotes identificados, a Anvisa recomenda atenção a qualquer sintoma inesperado, entre eles pequenas intoxicações, náuseas e vômitos.
Entendemos que é muito pouco para um órgão de “vigilância sanitária”.
4. A CPI do leite (poder legislativo). O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, defendeu a instalação de uma CPI mista (com deputados e senadores) para apurar as denúncias de que empresários de Minas Gerais estariam usando substâncias químicas, como soda cáustica, água oxigenada e ácido nítrico em embalagens de leite longa vida. Contraditoriamente, o presidente da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Alvim, afirmou que a entidade faz denúncias sobre leite adulterado ao Ministério da Agricultura há pelo menos cinco anos. Segundo Alvim, em março deste ano, a CNA procurou a Secretaria de Defesa do Consumidor do Ministério da Justiça, à qual a PF é subordinada, para apresentar a denúncia. “A denúncia era sobre uso de água e soro, não sabíamos desses outros produtos para prorrogar a validade. Era uma denúncia econômica, não sabíamos que poderia fazer mal à saúde”.
Perguntamos: por que a investigação só ocorreu nos últimos meses?
5. O PROCON (poderes executivo e judiciário). O Procon (Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor), de São Paulo notificou (24) a Nestlé e a Parmalat para responder em 48 horas se distribuíram no Estado de São Paulo leite das cooperativas Coopervale e Casmil envolvidas nas denúncias de adulteração. A Fundação pretende, com isso, saber se houve distribuição no Estado de São Paulo do leite longa vida modificado ilegalmente. .O Ministério Público de São Paulo solicitou à Promotoria de Passos informações sobre eventual venda do leite da Casmil, cooperativa da cidade, a empresas paulistas.
6. O IDEC. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) orientou os consumidores que tiverem esses leites em casa devem procurar os fabricantes, por meio do telefone de atendimento que consta das embalagens, e solicitar a troca do produto ou a devolução do dinheiro, até mesmo nos casos em que o produto estiver fora do prazo de validade. “Se passou mal por ter ingerido esse leite, é de responsabilidade do fabricante indenizar o consumidor”, explica a advogada Maíra Feltrin, representante legal desse Órgão.
7. A OCB. O presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, afirma que o Ministério da Agricultura retém há três anos uma lista sigilosa de 200 empresas, entre laticínios e cooperativas, que cometeram fraudes, o que representa mais de 10% das empresas de todo o país (grifamos). Segundo esse presidente, "elas foram autuadas, mas não foram fechadas". Essa informação foi obtida de Inácio Afonso Kroetz, secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, durante reunião anteontem (23) com representantes do setor produtivo, na sede da OCB, em Brasília.
8. LEITE BRASIL. O presidente da Leite Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Leite do Brasil), Jorge Rubez, disse que o valor do leite é determinado pela qualidade, e não pela quantidade. No caso da Copervale, se a mistura era de fato capaz de burlar a crioscopia, a qualidade do leite produzido era falseada (grifamos). Essa afirmação esteve baseada na declaração do delegado da PF, Ricardo Ruiz da Silva, a respeito da rentabilidade da fraude, praticada pela Copervale, que consistia na adição de água para dar volume ao leite. O delegado afirmou que a adulteração permitia "enganar" o exame de crioscopia, aplicado para verificar se o leite contém água. Misturadas à água, substâncias como a soda cáustica geram um pH que altera os resultados do exame. A PF trabalha com o percentual de 10% de adulteração, em um litro de leite.
9. ÉTICA PROFISSIONAL. O (engenheiro) químico Pedro Renato Borges é acusado de elaborar a fórmula da adulteração do leite longa vida, com a adição de soda cáustica, água oxigenada e soro. O químico negou em depoimento, segundo o delegado, ter sido responsável pela fraude. Silva disse ainda que a PF vai investigar a possibilidade de o químico ter passado a fórmula para outras cooperativas. “Por isso é necessário analisar amostras de todas as marcas”. Ainda, segundo o delegado, “Começamos a receber ligações de funcionários de outras empresas do país dizendo que há vários locais colocando soda cáustica no leite”.
Ainda em relação às questões que envolvem a ética profissional, e que nos surpreende, é que, segundo o delegado Ricardo Ruiz, “a grande maioria dos funcionários da empresa, que estavam presos, confirmou a fraude”, nos seus depoimentos. Os funcionários “disseram que colocavam soda cáustica no leite havia mais de dois anos”.
Por fim, a especialista Evelise Oliveira Telles, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de São Paulo (USP), afirma que o leite com soda cáustica e água oxigenada é uma mistura que o consumidor não tem como reconhecer em casa e que torna o leite impróprio para consumo. (grifamos).
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E o que disseram as empresas Parmalat, Calu e Vale do Rio Grande sobre o envolvimento (indireto) nessa fraude? Segundo a imprensa, a Parmalat disse que não havia sido notificada pela Anvisa e acrescentou que garante a qualidade dos produtos. Negou as informações da Polícia Federal e disse que "não adquire produtos processados, envasados ou embalados nas fábricas da Casmil e da Coopervale”, citadas na operação Ouro Branco. A Calu afirmou que retirou do mercado os lotes que teriam problemas assim que soube dos resultados dos exames. A Usina de Beneficiamento Cooperativa Agropecuária do Vale do Rio Grande Ltda. (Uberaba-MG), produtora do leite “centenário” não se manifestou.

Nesse desfecho de “poder de mercado”, temos literalmente a prática de um “jogo cooperativo” entre as cooperativas Coopervale e Casmil, para “Teoria dos Jogos” alguma botar defeito.
Abaixo o Equilíbrio de Nash!!!

Um comentário:

Anônimo disse...
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