Licença "parcial" de Renan ainda preocupa Planalto O Palácio do Planalto comemorou discretamente a decisão do presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), de se licenciar do cargo por 45 dias.
Acredita que, agora, haverá clima para negociar a prorrogação da CPMF naquela Casa, mas entende que ainda precisa tentar ajudar o aliado para que ele continue cooperando e possa inclusive estender sua licença por mais 45 dias em caso de necessidade. Desde o agravamento da crise, na última terça-feira, o presidente Lula já havia dito a auxiliares que Renan não tinha mais condições de permanecer no comando do Senado, mas alertou que o Palácio do Planalto precisava ser cuidadoso para não melindrar o aliado. A decisão que mais agradava ao governo era Renan tirar uma licença de 120 dias, prazo suficiente para que a emenda constitucional que prorroga a CPMF, o imposto do cheque, fosse votada no Senado. No calendário do governo, o primeiro turno deve ser votado no dia 06 de dezembro. O segundo, em 18 de dezembro. Horas depois de Renan anunciar que tiraria licença, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não conversou com Renan e que ele sempre ressaltou que a crise era do Senado e que a solução deveria vir de lá.
Com a licença de 45 dias, Renan teoricamente reassumirá a presidência do Senado no final de novembro, antes das votações da CPMF em plenário. Ele prometeu, porém, que pode estender seu período de licença por mais 45 dias caso o clima na Casa continue desfavorável a ele. Na avaliação de líderes governistas, Renan optou pela licença de 45 dias exatamente para manter o Palácio do Planalto sob ameaça. Caso nesse período seja abandonado, ele pode reassumir a cadeira e tumultuar a votação daquilo que mais interessa o governo no momento: a prorrogação da CPMF.
O governo acredita que durante o período de licença de Renan seus líderes no Senado terão condições de articular uma trégua pelo menos com o PSDB para preservar o mandato de Renan e votar a CPMF, contando com a ajuda principalmente do governador alagoano Teotônio Vilela (PSDB), amigo do senador. Essa operação pode levar a uma renúncia do cargo de presidente. Na próxima semana, o Palácio do Planalto vai desencadear uma operação para fechar os votos necessários para aprovar a prorrogação da CPMF. O governo irá montar uma agenda de audiência dos senadores aliados com os articuladores políticos do governo, buscando superar qualquer resistência dentro da base aliada. Ao mesmo tempo, o governo vai acionar os governadores, principalmente os tucanos, para que convençam senadores da oposição a votar pela prorrogação da CPMF. O Palácio do Planalto acredita que conseguirá de cinco a sete votos na oposição, principalmente entre os Democratas. Na avaliação do governo, a aprovação está assegurada, o problema é o prazo curto de votação. O principal temor do governo é não conseguir aprovar a emenda ainda neste ano. Caso isso ocorra, por causa do princípio de que a CPMF não estaria sendo prorrogada, mas recriada, o governo teria de respeitar a noventena prevista na Constituição.
Folha Online, Brasília.
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