A proposta deste blogue é incentivar boas discussões sobre o mundo econômico em todos os seus aspectos: econômicos, políticos, sociais, demográficos, ambientais (Acesse Comentários). Nele inserimos as colunas "XÔ ESTRESSE" ; "Editorial" e "A Hora do Ângelus"; um espaço ecumênico de reflexão. (... postagens aos sábados e domingos quando possíveis). As postagens aqui, são desprovidas de quaisquer ideologia, crença ou preconceito por parte do administrador deste blogue.
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sábado, fevereiro 23, 2008
EDITORIAL: "CAI, O REI DE ESPADAS..." *
A melhor notícia do afastamento de Fidel Castro, depois do fato em si, é o quão irrelevante Cuba se tornou para o resto do mundo. O ditador é um retrato gasto de um tempo que passou, um "último mito vivo", na definição do presidente-admirador Lula.
O destino de Cuba definirá somente o destino de Cuba. Ninguém mais é ou quer ser comunista, seja lá o que isso signifique. O farol cubano apagou por falta de combustível desde que o Muro de Berlim foi demolido e os soviéticos, à beira da extinção, cortaram sua bilionária ajuda anual à ilha. Moscou percebeu instantaneamente, no início dos anos 1990, que Cuba perdera importância no mundo pós-Guerra Fria, não valia mais um rublo.
Cuba tem apenas 110 mil quilômetros quadrados e 11 milhões de habitantes, uma São Paulo capital em população, mas que, com seu PIBinho de cerca de US$ 40 bilhões, produz menos da metade das riquezas geradas pelos paulistanos.
E hoje o que realmente importa no grande jogo das nações é o tamanho do mercado e sua capacidade de produção. Cuba consome pouco e produz níquel e açúcar, o que não é muito mas, para sua sorte, têm cotações elevadas porque o resto do mundo (capitalista) consome como nunca.
O maior produto de exportação cubano costumava ser seu território para uso dos militares e espiões da URSS e seu modelo de país, suas idéias "revolucionárias", seu Exército combativo, serviços pelos quais os dirigentes cubanos eram regiamente pagos pelos camaradas soviéticos.
Mas esse produto revolucionário não tem mais valor. Ninguém quer ditadura política, escassez de produtos, restrições ao ir e vir, limites à atividade econômica, partido único, apagões constantes. Não! Mesmo que o sistema de saúde e educação sejam piores em outros lugares, as pessoas preferem a liberdade, como provam artistas e esportistas cubanos que preferem ficar no Brasil a voltar ao socialismo castrista.
A ilha dos Castro é tão anacrônica quanto seus carros e eletrodomésticos, congelados na época do embargo americano do início da década de 1960. A relevância que ela tem na política americana deve-se apenas à massa cubano-americana da Flórida e de Nova Jersey, importantes grupos eleitorais que impuseram um embargo contraproducente à ilha.
Mas mesmo essa rigidez amolece diante de novas oportunidades econômicas. Grandes fazendeiros americanos, logo eles, estão na linha de frente da luta contra o embargo comercial porque querem aproveitar a necessidade básica de Cuba de importar alimentos, um mercado a menos de 200 km da Flórida.
Essa proximidade com os EUA, maior potência global, que poderia ser uma benção econômica, permanece uma maldição pela obstinação do regime de Fidel em manter seus privilégios e pelo estúpido embargo, usado como justificativa falsa para a manutenção do injustificável regime.
Mas a América Latina sendo a América Latina, Fidel, mesmo sendo o ditador mais longevo do planeta (49 anos), ainda arrebata admiradores por aqui. Quase todos já velhos, como nosso presidente, forjados nos anos de chumbo da Guerra Fria, quando a estupidez da ditadura militar tornava Fidel um herói por comparação. Para esses antigos, a saída de Fidel é um marco de primeira grandeza histórica. Para as massas jovens, cada vez mais distantes da política tradicional, Fidel é nada.
Leitores de esquerda serão rápidos em argumentar que Fidel serve ainda de modelo e inspiração ao petrocaudilho venezuelano, Hugo Chávez, que substituiu os soviéticos como benemérito da ilha, e seu fiel escudeiro boliviano, Evo Morales. Mas Chávez e Morales não estão no poder porque suas populações anseiam por reproduzir o modelo cubano. Não, os dois neopopulistas são frutos de condições específicas de seus países.
Agora fecha-se a cortina para Fidel Castro, que deve morrer em breve ou não estaria saindo definitivamente de cena, tal a natureza das ditaduras dinásticas. Para sobreviver, seu irmão Raúl fala em reformas, mas está ameaçado porque, após décadas de ditadura comunista, os cubanos querem mudança.
O Brasil age certo ao se colocar como interlocutor de primeira hora e grandeza do regime castrista. Está bem posicionado para intermediar uma provável reaproximação com Washington com a saída de Bush e uma eventual posse democrata na Casa Branca.
Mas Lula deve também pressionar fortemente Raúl para abrir o regime, para o bem dos cubanos e do hemisfério americano. Se o petista se intimidava diante do "mito vivo" de Sierra Madre, deve pressionar seu irmão menor a abrir o regime.
Abaixo a ditadura.
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Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas. E-mail: smalberg@uol.com.br
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(*) Cartomante [(Ivan Lins; Vitor Martins) Elis Regina]. "... Já está escrito/ Já está previsto/ Por todas videntes/ Pelas cartomantes/ Está tudo nas cartas/ Em todas as estrelas/ No jogo dos Buzios/ E nas profecias.../ ah.../ Cai, o Rei de espadas/ Cai, o Rei de ouros/ Cai, o Rei de paus/ Cai, não fica nada!!".
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