Caso Petrobrás tem provas apagadas
O primeiro relatório parcial da perícia técnica da Polícia Federal sobre o contêiner de onde teriam sido furtados segredos estratégicos da Petrobrás, enviado ontem ao Instituto Nacional de Criminalística (INC), indica que o local do crime foi severamente violado. O atraso no início das investigações e o manuseio do contêiner por leigos depois do roubo apagaram provas e tornaram imprestáveis os vestígios que restaram. O furto foi notado em 31 de janeiro, mas só começou a ser investigado vários dias depois, e a cena do crime ficou alterada. Não se sabe sequer, com segurança, se o equipamento roubado - quatro notebooks, dois discos rígidos e dois pentes de memória, que continham informações estratégicas da estatal - tinha sido de fato embarcados no contêiner da empresa responsável pelo transporte, a Halliburton. A carga saiu do Porto de Santos no dia 18 de janeiro. No caso de o equipamento não ter sido embarcado, o suposto arrombamento do cadeado do contêiner e violação do seu conteúdo teriam sido uma farsa para despistar o sumiço do material. O governo trabalha com a hipótese de que a Petrobrás tenha sido alvo de espionagem industrial, a serviço de interesses nacionais ou estrangeiros, ou ambos. Mas a PF não descarta a possibilidade de tratar-se de crime banal.Versões à parte, o governo federal considera o caso de relevante interesse da segurança nacional por causa do teor do material roubado e da possível fragilidade no sistema de segurança da Petrobrás. A estatal alega que tinha nos equipamentos informações estratégicas sobre suas últimas descobertas gigantescas, o campo petrolífero de Tupi, na Bacia de Campos, e a reserva de gás natural de Júpiter. Para acelerar as investigações e dar respostas rápidas, o governo reuniu ontem seus principais órgãos de segurança, de informações e de investigação para definir uma atuação integrada e institucional no caso. O encontro teve a participação dos ministros Tarso Genro (Justiça) e Jorge Félix (Gabinete da Segurança Institucional), além dos diretores da PF, Luiz Fernando Corrêa e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A ordem é intensificar as diligências e a troca de informações para compensar as dificuldades descritas no relatório, repassado a todos esses dirigentes. O laudo parcial da perícia, que será concluída em uma semana, conforme o relatório da perícia deixa antever, não deverá ser conclusivo em relação à autoria do furto. O documento é vago e se limita a descrever os primeiros passos da investigação, as características do contêiner e vestígios imprecisos que restaram. A PF foi notificada do furto em 6 de fevereiro e abriu inquérito no dia 7. Mas, além de começar tarde, a investigação patinou na falta de estrutura e de percepção da importância do caso.
Vannildo Mendes. Estadão. 1902.
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