Aliados cobram critérios para sucessão presidencial
Surpreendidos pela afirmação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o governo terá candidato único à sucessão presidencial em 2010, os aliados se preparam para cobrar um passo a mais: definir critérios para a escolha do nome. Em entrevista exclusiva aos Diários Associados publicada ontem, Lula deixou claro que gostaria de construir um candidatura de consenso dentro da base aliada. Avisou, contudo, que na inexistência de um acordo entre os partidos, um nome o terá como cabo eleitoral em 2010. “Pode ficar certo de que o governo terá candidato”, disse.
A partir da reeleição de Lula, em 2006, os partidos governistas se deram conta do quanto pesa o apoio do petista no desempenho de um candidato nas urnas. Fato é também que os principais partidos de sustentação do governo sonham ter um nome próprio vestindo a faixa presidencial. O maior deles, o PMDB, por exemplo, almeja ter nome próprio nas eleições presidenciais. “Vamos fazer força para que o candidato de Lula seja o nosso. Cada um vai fazer o possível para que seu candidato seja o de Lula”, resume o presidente do PMDB, Michel Temer.
No PSB de Ciro Gomes (CE), um dos nomes mais fortes entre os aliados, a expectativa é saber o que Lula procura num candidato para que conquiste seu apoio em 2010. “Está correto que ele, como meta, coloque o desejo de um candidato único e sinalize que vá trabalhar pela unidade, mesmo sabendo das dificuldades para que isso ocorra. Portanto, ele precisará ajudar a estabelecer critérios para a escolha desse candidato. O perfil, a condição de disputa, a capacidade de agregar politicamente”, diz o secretário-geral do PSB, senador Renato Casagrande (ES).
O que mais preocupa os aliados hoje é a dificuldade do PT em abrir mão de lançar o candidato à sucessão presidencial. Até porque o presidente petista, Ricardo Berzoini, já declarou por diversas oportunidades que o partido terá um nome para a disputa. Outros líderes partidários concordam que nada mais natural do que o partido do presidente apresentar um nome para sucedê-lo. “Essa é uma realidade que ninguém na base desconhece, temos que trabalhar com ela”, diz Casagrande.Cauteloso, Temer avalia que os potenciais candidatos de Lula só serão definidos a partir do ano que vem. O peemedebista teme que as disputas pelas principais prefeituras do país, nas eleições de outubro, contaminem as relações dos partidos aliados no plano nacional e, conseqüentemente, na formação de alianças futuras. “Ainda é muito cedo para se falar em definição de critérios. É preciso deixar que certas realidades se coloquem. Agora, é lógico que se houver um só candidato será melhor para todos”, avalia. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), ameniza as cobranças sobre um candidato único da base aliada. “Não há uma receita pronta. Precisamos construir os caminhos”, afirma. Segundo Jucá, todos os partidos governistas possuem bons nomes, mas que eles só devem começar a discutir o assunto a partir do próximo ano, quando passar o processo eleitoral municipal. “O entendimento local não tem o alcance do nacional”, observa o senador. Para ele, o perfil ideal do postulante seria densidade eleitoral, visibilidade política e que tivesse respaldo da população.
Terceiro mandato
As declarações veementes de Lula contra a instituição de um terceiro mandato presidencial isolaram os entusiastas que se movimentam para reconduzi-lo ao Palácio do Planalto em 2010.
Principal porta-voz da idéia, o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) faz ouvidos moucos à resistência e afirma que caberá ao PT, e não a Lula, lançar um nome à Presidência caso vingue o projeto da reeleição. “Eu respeito, mas não é ele (Lula) quem define. É o partido quem decide quem sai ou não candidato”, sentencia. Em decisão recente, a Executiva Nacional do PT se colocou contra a instituição de um terceiro mandato presidencial. A posição partidária levou o prefeito do Recife (PE), João Paulo Lima, um antigo defensor da idéia, a abandonar a militância por nova reeleição. “O partido está em consonância com a posição de Lula. Antes eu falava abertamente pelo terceiro mandato. Agora minha opinião é a opinião do partido”, esclarece o prefeito. “Descartar o terceiro mandato ele sempre descartou. Espero que, depois da entrevista, a oposição se acalme”, diz o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Denise Rothenburg - Correio Braziliense . 2804.
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