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quinta-feira, janeiro 22, 2009

BANCO CENTRAL: MENOS CENTRAL, MAIS REAL

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BC surpreende e corta 1 ponto no juro


Fernando Nakagawa


No corte de juros mais agressivo dos últimos cinco anos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) baixou em 1 ponto porcentual a taxa básica da economia (Selic), para 12,75% ao ano. A última vez em que o BC reduzira a Selic nessa magnitude foi em dezembro de 2003. A decisão pegou a maioria dos analistas de surpresa, uma vez que a aposta majoritária do mercado era em um corte de 0,75 ponto.

Apesar disso, o Brasil manteve a liderança do ranking mundial do juro real (que desconta a inflação projetada para os 12 meses seguintes), com taxa de 7,6% ao ano. Em segundo lugar está a Hungria, com 5,8% e, em terceiro, a Argentina, com 5,1%.

Em comunicado divulgado após a decisão, os diretores do BC afirmam que "o comitê inicia um processo de flexibilização da política monetária, realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros".

Segundo o texto, o corte de 1 ponto não trará "prejuízo para o cumprimento da meta para a inflação". Na reunião, cinco diretores votaram pelo corte de um ponto e três optaram por uma decisão mais comedida, com redução de 0,75 ponto.

Na última vez em que o BC cortou o juro em 1 ponto, o contexto econômico era completamente diferente. De junho a dezembro de 2003, no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o juro caiu 10 pontos. A redução era respaldada pela melhora dos indicadores de confiança do investidor estrangeiro, que, meses antes, demonstrara grande desconfiança com o resultado das eleições de 2002.

Agora, a situação é oposta. Em meio aos efeitos da crise financeira mundial sobre a economia brasileira, o Banco Central tem sido alvo de inúmeras críticas de dentro do próprio governo e do mercado.

Para os críticos, o desaperto monetário deveria ter começado no fim de 2008, para tentar atenuar o impacto da crise. Até o presidente Lula tocou no assunto e, nos bastidores, passou a agir mais fortemente a favor da redução dos juros e dos spreads bancários.

No mercado, a expectativa de um corte maior da Selic ganhou força nos últimos dias com a divulgação de dados que surpreenderam analistas. A deflação do início do ano e a queda da atividade econômica levaram o mercado a refazer as contas e muitos passaram a apostar em um BC menos conservador na primeira reunião do ano.

Vale lembrar que em dezembro foi exatamente a falta de definição sobre a trajetória da inflação e da atividade econômica que fizeram o comitê optar pela manutenção da taxa. Na ata daquela reunião, no entanto, o BC já havia indicado que poderia reduzir os juros a partir de janeiro. O que não se podia prever, porém, era o tamanho do corte.

Na inflação, o que mais chamou a atenção nos últimos dias foi o Índice Geral de Preços ao Mercado 10 (IGP-10), que teve queda de 0,85% em janeiro. Na visão dos analistas, o indicador anulou qualquer preocupação com os preços e enterrou a possibilidade de que a alta do dólar - outro reflexo da crise - pudesse ser repassada aos preços. O possível repasse do dólar era um dos motivos do conservadorismo do BC.

Ao mesmo tempo, a atividade econômica dá sinais claros de que está patinando. Em novembro, as vendas no varejo caíram 0,7% na comparação com outubro, na segunda queda seguida do indicador. Mas o que causou a maior preocupação foram os números do emprego formal. Segundo o Ministério do Trabalho, 654 mil empregados perderam o emprego em dezembro, pior mês da história do indicador.
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http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090122/not_imp310912,0.php
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