Casa até para sobrinho de ex-deputado
A força dos padrinhos |
Autor(es): Izabelle Torres |
Correio Braziliense - 26/03/2009 |
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Até servidores exonerados insistem em permanecer nos apartamentos funcionais da Casa. Confiam na “boa vontade” de deputados influentes para continuar no imóvel, apesar da ordem de despejo Adauto Cruz/CB/D.A Press | | | José Varella/CB/D.A Press - 14/9/05 | | Sobrinho do ex-deputado João Caldas (D) ocupa um apartamento funcional na 203 Sul apesar de não ocupar mais nenhum cargo na Câmara | | A ação de despejo anunciada pela Mesa Diretora da Câmara para retirar 24 servidores dos imóveis funcionais, mostrou um quadro de loteamento repleto de apadrinhamento político e uma insistência sem fim em morar às custas dos cofres públicos. Prova disso é o fato de que três desses funcionários que continuam nos apartamentos foram exonerados em fevereiro e sequer constam na lista de servidores da Casa. Outros 13 moradores não fazem parte do quadro efetivo e ocupam cargos de livre provimento. Amparando nomeados e exonerados estão padrinhos influentes como o segundo-secretário Inocêncio Oliveira (PR-PI), o ex-segundo-vice Ciro Nogueira (PP-PI) e o atual presidente Michel Temer (PMDB-SP), que deixou dois servidores nos quadros de estrutura da Casa durante seu primeiro mandato à frente da Presidência. Mas, quem mais surpreende pela capacidade de influenciar a distribuição dos apartamentos é o ex-deputado e ex-quarto-secretário João Caldas, que mantém o sobrinho Luiz Carlos Silva em um apartamento na 203 Sul, apesar de o estudante ter sido exonerado em 17 de fevereiro, segundo o Boletim Administrativo. Frequentador assíduo do apartamento em nome de Luiz Carlos, João Caldas é tratado pelos porteiros do prédio como o “simpático deputado do apartamento 102”. Para justificar a proximidade do ex-parlamentar com o imóvel que consta em seu nome e o fato de não o ter desocupado depois da sua exoneração, o estudante é evasivo. “Não sei por que conhecem o João Caldas tanto assim. Quem mora lá sou eu. Não fui embora porque estamos articulando minha volta. Acho que vou ser nomeado de novo em outro cargo”, comenta.
Também sem emprego, mas com moradia garantida à custa da União, a ex-servidora Ednalda de Luna, também apadrinhada de Caldas, foi exonerada em fevereiro e agora garante que está se preparando para entregar o apartamento. A reportagem foi até o prédio da 108 Norte ocupado por ela, mas, pelo interfone, a moradora disse apenas que não quer comentar sua permanência, apesar de não ser mais funcionária da Casa. “Não vou falar sobre esse assunto. Saí do emprego e vou me organizar para entregar o apartamento. É só isso”. O ato de exoneração de Ednalda foi publicado em 25 de fevereiro.
Na lista dos moradores que ocupam os imóveis funcionais está também Clara Régia Nascimento. Depois de trabalhar por anos no setor de apoio parlamentar, a ex-servidora foi exonerada no último dia 6, mas, mesmo assim, continuava indo ao trabalho atrás de uma colocação. Segundo colegas do seu setor, esta semana ela avisou que não iria à Câmara para providenciar a compra de um imóvel.
CNEs
Mais da metade dos apartamentos que pertencem à chamada reserva técnica da Câmara foram distribuídos para pessoas que ocupam cargos de natureza especial (CNEs). Lotados em diferentes gabinetes e cedidas aos padrinhos políticos, os servidores insistem em permanecer e acreditam na influência dos que lhes concederam a moradia. É o caso de duas das assessoras do segundo-secretário Inocêncio Oliveira (PR-PI). A secretária Renilda e Oliveira e a assessora Liana de Oliveira ocupam dois dos imóveis e fazem parte da turma que não pretende largar a mamata. Para isso, contam com a promessa do chefe de que irá fazer o possível para deixá-las onde estão. Nenhuma quis comentar a ocupação insistente.
Na cota do ex-deputado João Caldas também está a servidora do colega alagoano Givaldo Carimbão (PSB-AL), Eunice Cardoso e as duas assessoras da liderança do PR, Maria Tereza Buaiz e Rosana Rodrigues. “Não há irregularidade na minha ocupação. Cumpri os requisitos exigidos. Não sou apadrinhada. Apenas tive meu trabalho reconhecido e o então quarto-secretário resolveu me ajudar porque eu estava com um filho doente e tinha um salário baixo. Até hoje não entendi o motivo de eles quererem agora que a gente devolva esses imóveis. Tem sido estressante lidar com isso”, comenta Rosana, que trabalha há 17 anos na liderança do partido.
Lotada no gabinete da liderança do DEM, a funcionária Carmélia dos Santos é assessora há quase 10 anos do parlamentar José Carlos Aleluia (DEM-BA). No gabinete do deputado Vicente Arruda (PR-CE), Orlando de Souza também ocupa um imóvel funcional. Renato Diniz, que mora em um apartamento na 114 Sul, é secretario parlamentar de Ciro Nogueira e diz que vai esperar uma posição formal da Câmara antes de desocupar o imóvel. Procurados pelo Correio, os supostos padrinhos e afilhados negam qualquer interferência na distribuição dos apartamentos e dizem que não há favorecimento na escolha de quem irá ocupar os imóveis. O resumo da ópera fica por conta do ex-deputado João Caldas: “Não houve critérios para ocupação desses apartamentos. Agora querem que haja para a desocupação? Acho complicado”. Não fui embora porque estamos articulando minha volta. Acho que vou ser nomeado de novo em outro cargo | Luiz Carlos Silva, funcionário exonerado O número 130 m2 é o tamanho médio de um imóvel funcional | Memória Uma briga antiga José Varella/CB/D.A Press - 4/11/08 | | | | A polêmica em torno da ocupação dos apartamentos funcionais que constam na reserva técnica da Câmara começou em 18 de dezembro do ano passado, quando a Mesa Diretora presidida por Arlindo Chinaglia (PT-SP) — foto —editou o Ato 31/2008. A norma estabeleceu que os 33 apartamentos funcionais que faziam parte da reserva técnica do órgão deveriam ser devolvidos à Secretaria de Patrimônio do Ministério do Planejamento. O ato concedeu 90 dias para que os servidores desocupassem os apartamentos. O prazo acabou no último dia 23 e até ontem apenas três imóveis foram desocupados e outros seis já estavam vazios antes da publicação do ato.
Os moradores que conseguiram moradia à custa dos cofres públicos pagam apenas as despesas de luz, condomínio e uma taxa de ocupação que varia entre R$ 79 e R$ 600. Despesas muito abaixo do que teriam de desembolsar pelo aluguel de apartamentos que possuem cerca de 140m² em algumas das áreas mais valorizadas da cidade. | |
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(*) SE A CASA CAIR (Gino & Geno)."E Se a casa cair/Deixa que caia/Hoje eu vou amanhecer na gandaia...".
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http://vagalume.uol.com.br/gino-e-geno/se-a-casa-cair.html
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