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sábado, maio 23, 2009
EDITORIAL: ILHA DE VERA CRUZ (3o. Mandato)
Correio Braziliense - 22/05/2009 | |||
Acerta em cheio o governador tucano Aécio Neves ao considerar que “seria uma violência contra a própria biografia” o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concordar em disputar um terceiro mandato. Soma ainda mais pontos o político mineiro ao condenar a hipótese como afronta à democracia. Houvesse mais vozes autorizadas nesse mesmo tom de indignação e repúdio à tentativa espúria de mudar a Constituição para abrir a brecha a uma segunda reeleição, talvez a ideia já estivesse sepultada no Congresso Nacional. Mas, sob o silêncio consentido de deputados e senadores, o que surgiu como murmúrio reverbera no maior de todos os coros da arena política, o do PMDB. > Pouco importa se o presidente repete incessantemente que não se deixará picar pela mosca azul. Aliás, a autenticidade da recusa é uma incógnita, mistério envolto pelo manto do próprio PT, de cuja bancada paulista se originou o zum-zum. Afinal, foi o deputado Devanir Ribeiro, petista desde a primeira eleição para a Câmara Municipal paulistana, em 1989, hoje no segundo mandato federal, quem levantou a lebre em 2007, no auge da aprovação popular ao governo Lula. O esforço era no sentido de aprovar plebiscito para que a população se manifestasse em relação ao continuísmo. Ou seja, começou-se ali a se abrirem as cortinas à apresentação de peça já batida na Venezuela de Hugo Chávez, com direito a bem-sucedido bis no Equador de Rafael Correa e na Bolívia de Evo Morales e prestes a estrear na Colômbia de Álvaro Uribe. > O espetáculo da tentação autoritária não merece plateia no Brasil. Hoje no poder, alguns dos símbolos da luta pela redemocratização do país têm a obrigação política e moral de defender a alternância como uma das principais regras do jogo democrático. Em 1997, Fernando Henrique Cardoso se deixou seduzir e emendou a Constituição para permanecer no Palácio do Planalto. Seguir aquela toada nos levará a futuro tão obscuro quanto o do chavismo e sua reeleição ilimitada. Cada vez maior e próximo, o perigo viaja em direção contrária à consolidação democrática do país, desta vez a bordo de proposta de emenda constitucional do deputado Jackson Barreto (PMDB-SE). Amadurecida numa espécie de núcleo duro peemedebista pelo terceiro mandato, a PEC tem 188 assinaturas, 17 além do necessário, e está pronta para ser protocolada na Secretaria-Geral da Câmara. > Manobra-se com a doença da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, preferida do presidente Lula para sucedê-lo na Presidência da República. Depois de ter extraído um nódulo da axila esquerda e se submeter a tratamento quimioterápico para combater um câncer linfático, a suposta candidata tem sofrido efeitos colaterais, como baixa imunidade e dores musculares provocadas por medicamentos. Estaria, assim, em condições precárias para enfrentar pesada campanha eleitoral. Mas a jogada peemedebista vai muito além: a PEC é dourada com a possibilidade de terceiro mandato também para governadores e prefeitos. Aí, mesmo que verdadeiramente não interesse a Lula, olhos se arregalam estado por estado, cidade por cidade, e conter os oportunistas vai se tornando missão impossível. Até porque, salvo vozes isoladas como a de Aécio, as forças democráticas deste país custam a acordar para a necessidade de pôr de uma vez por todas a pá de cal que o assunto reclama. . . Casuísmos sem fim
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