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sexta-feira, agosto 14, 2009

ILHA DE SANTA CRUZ: MARINA, MORENA MARINA... III

Os limites do barulho-Marina

Rodrigo de Almeida rodrigo.almeida@jb.com.br


A POSSÍVEL CANDIDATURA DA SENADORA MARINA SILVA (PV) à Presidência da República emite um forte cheiro de novidade, reaquece o debate pré-eleitoral, anima personagens esmorecidos, estimula certo pretendente a sair da toca e, por fim, tem potencial para estremecer o governo e sua candidata Dilma Rousseff (PT). O Palácio do Planalto sabe que acende a luz amarela do campo governista. Um exemplo: pesquisa coordenada pelo cientista político Antonio Lavareda, no confronto direto entre Marina e Dilma, em quatro cenários, a senadora perde em um, empata em outro e ganha em dois.

Novidade, todos gostam, mas convém ter prudência. Há muita torcida e pouca consistência na ideia de que o “fator Marina” termine por “implodir” a candidatura da ministra Dilma Rousseff (PT), como chegou a afirmar esta semana o também pré-candidato Ciro Gomes (PSB). Se desembarcar do PT e mudar-se para o PV, se decidir mesmo virar candidata, se, enfim, vingar como nome para 2010, a senadora poderá fazer algum barulho. Mas por ora não passa disto: um barulho.

Experimentado observador do impacto do atual governo sobre o eleitorado, o cientista político Candido Mendes, reitor da universidade que leva o seu nome, mostra-se ainda menos condescendente com a novidade. O professor acha que há uma superestimação do nome de Marina e do efeito de uma eventual candidatura na sucessão do presidente Lula – sobre quem, aliás, publicou nada menos do que seis livros, dois dos quais na França. “Estão superestimando-a, como há uma superestimação da mensagem ecológica”, diz Candido Mendes. “Não creio que a candidatura tenha condições de implodir coisa alguma”.

O cientista político reconhece, no entanto, que a candidatura da senadora será o “teste final” para as “condições morais” do presidente Lula de pretender continuar o legado do seu governo. Reconhece ainda certa carga simbólica posta sobre os ombros de Marina. Por exemplo, a senadora é uma mulher aguerrida, como Dilma, exibe um prontuário político de considerável apelo popular, seu discurso pode ganhar eco entre insatisfeitos com o pragmatismo lulista e acende uma bandeira emergente no cenário internacional, a sustentabilidade.

Mas, segundo o professor, não vai muito além. Sua maior fragilidade, diz, é temática.

“A mensagem ambiental é inoportuna e ultrapassada. Marina levanta prioridades muito discutíveis do que seja uma política de desenvolvimento”, defende. Ele se refere, no caso, à falsa dicotomia, infelizmente não resolvida no país, entre desenvolvimento e sustentabilidade. “Sua passagem no Ministério do Meio Ambiente não capturou as prioridades de uma nova forma de desenvolvimento: a visão de uma Amazônia produtiva, a eficácia no licenciamento de obras relevantes, a atenção necessária do país para a geração de emprego, ampliação da renda e correção das injustiças sociais. Foi ultrapassada inclusive pelo realismo responsável da política de Carlos Minc (sucessor de Marina no ministério)”. Segundo Candido Mendes, o discurso ambiental – nos moldes de Marina Silva, ressalte-se – atrasou o desenvolvimento brasileiro. O risco do PV, afirma, é tornar-se uma alternativa tão radical quanto virou, em outra esfera, o PSOL. Diz mais: “A superestimação da ecologia é fruto da subcultura do Brasil”.

Tanto o PV quanto Marina, no entanto, parecem conscientes desse risco. Há dois dias, a senadora e o deputado Fernando Gabeira, principal nome do partido, almoçaram juntos em Brasília e começaram a traçar uma estratégia de campanha para 2010. Do encontro, Gabeira saiu otimista. E sublinhou: “A nossa potencial campanha não será monotemática. Precisamos dar respostas também para os outros problemas do Brasil”. Ambos trazem à memória talvez o que foi Cristovam Buarque (PDT) em 2006: o candidato da educação. Discurso bonito, mas pouco empolgante.

Não está escrito nas estrelas, porém, que a novidade em curso se resumirá indefinidamente a uma desarrumação momentânea. Não à toa, a possibilidade preocupa o PT e o Palácio do Planalto. O melhor dos mundos, na visão do governo, é uma disputa plebiscitária – um confronto entre Dilma e José Serra. Segundo tal premissa, é quando se tornam mais profícuos os embates entre o que foram os oito anos tucanos e os oito anos petistas. No fim das contas, o “fator Marina” é música para os ouvidos da oposição e para Ciro, até poucos dias atrás pressionado a abandonar o sonho de disputar novamente a Presidência.

Como sempre, os eleitores dirão que prognósticos se confirmarão.

“Marina levanta prioridades muito discutíveis para o desenvolvimento”

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