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terça-feira, novembro 17, 2009
BANCO CENTRAL: ''ESCREVEU NÃO LEU, PAU..."
Diretor do BC que revelou falha de Mantega cai
O Globo - 17/11/2009
BRASÍLIA e RIO. Sob uma enxurrada de críticas do Ministério da Fazenda e de integrantes da cúpula do Banco Central (BC), o diretor de Política Monetária da instituição, Mário Torós, teve sua saída da instituição anunciada ontem, três dias após escancarar os bastidores da atuação do governo na crise internacional, que se agravou em setembro de 2008. Para seu lugar, foi indicado o atual presidente da empresa de seguros Aliança do Brasil, Aldo Luiz Mendes, com extensa atuação no setor público e na área de finanças.
O nome de Aldo Mendes será levado oficialmente hoje pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, ao presidente Lula para aprovação. Em seguida, terá de receber o aval do Senado.
Até lá, Torós fica no cargo — mas como “figurante”.
A saída de Torós possivelmente será acompanhada por duas outras trocas na direção: Meirelles, que se prepara para voltar à política nas eleições de 2010, deverá sair em abril e ser sucedido por Alexandre Tombini, atual diretor de Normas e um dos principais interlocutores do BC no governo.
O outro a se despedir deverá ser Mário Mesquita, diretor de Política Econômica.
Em tom de despedida, Torós fez retrospectiva da crise.
A saída de Torós vinha sendo articulada há tempos, uma vez que o diretor não escondia a vontade de voltar à iniciativa privada e de ficar perto da sua família, em São Paulo. Ele assumiu a diretoria em abril de 2007. Mas a demissão foi precipitada pelas declarações bombásticas que deu em entrevista ao jornal “Valor Econômico” na sexta-feira da semana passada.
Torós abriu e-mails trocados com Meirelles e colegas de diretoria; disse que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tornou públicas informações estratégicas para segurar o câmbio na crise, em outubro de 2008; e ainda revelou que a presidência do BB foi avisada de que o banco Votorantim passava por problemas — a instituição teve 49% vendidos ao BB meses depois.
Também pegou mal o fato de ter excluído do “time de combate à crise” Alexandre Tombini.
Tombini, segundo interlocutores, foi uma importante cabeça no grupo que articulou o enfrentamento da crise, com acesso a outras esferas do governo, como o Ministério da Fazenda.
Ele e a cúpula do BC consideraram as declarações “inadequadas e mentirosas”, abrindo uma crise na instituição.
Meirelles, que ficou muito irritado com Torós, não sabia da entrevista. E foi à procura de um substituto. Mendes, que é funcionário de carreira do Banco do Brasil, já vinha sendo sondado há alguns meses pelo BC. Com ampla experiência no mercado de capitais — era vice-presidente de Finanças do BB até abril — aceitou o convite ontem.
Mendes não tem ligações políticas, mas foi braço direito de Antonio de Lima Neto quando este era presidente do BB. Durante a crise, Lula não gostou da atuação da estatal e demitiu Lima Neto para colocar no seu lugar Aldemir Bendine. Mendes, então, se afastou e aceitou a presidência da Aliança do Brasil — empresa controlada pelo BB.
Ele sempre foi elogiado pelo mercado por sua postura séria e técnica ao conduzir os negócios da estatal. Mendes encabeçou, por exemplo, as negociações do BB na compra da Nossa Caixa.
Antes do anúncio de sua demissão, Torós participou de um seminário no Rio para comemorar os 30 anos do sistema Selic do BC e da Anbima, mas se recusou a dar entrevistas. Em sua apresentação, fez uma retrospectiva da atuação do BC na crise, em tom de despedida: — Conseguimos mostrar que podemos utilizar instrumentos monetários do Brasil para mostrar a resiliência da economia e fazer com que aproximemos o sistema financeiro do BC do centro real da economia. Esse foi o grande teste pelo qual o BC passou, e acho que conseguimos atingir nossos objetivos.
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