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sábado, novembro 21, 2009
EDITORIAL: EDUCAÇÃO, ÉTICA, IDEOLOGIA...
Brasil
A prova virou panfleto
Era só o que faltava: o exame aplicado pelo MEC nas universidades
faz propaganda descarada do governo e ataca a imprensa
Frederico Haikal/AE |
Não há resposta certa Alunos à espera do início do exame, na semana passada: questões absurdas sobre os "veículos da mídia" (abaixo.) |
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a crise financeira mundial era um tsunami no exterior, mas, no Brasil, seria uma ‘’marolinha’’, vários veículos da mídia criticaram a fala presidencial. Agora é a imprensa internacional que lembra e confirma a previsão de Lula.Considerando a realidade atual da economia, no exterior e no Brasil, é correto afirmar que houve, por parte dos críticos:
Resposta: A |
É consenso que uma boa prova é aquela capaz de aferir – com isenção e objetividade – o nível de conhecimento do aluno. Por isso mesmo, o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), aplicado na semana passada a 1 milhão de universitários no país, é um exemplo de prova ruim. Das dez questões de conhecimentos gerais, comuns a todos os alunos das 23 áreas testadas pelo Ministério da Educação (MEC), quatro são propaganda escancarada do governo federal. A primeira, em seu enunciado, fala sobre o suposto sucesso de uma campanha do Ministério do Meio Ambiente para reduzir o uso de sacolas plásticas. A resposta considerada certa pressupõe que o aluno acredite que o programa está funcionando a pleno vapor. A segunda pergunta o que seria fatal à formação de novos leitores no país. Acertou, de novo, quem marcou a opção favorável ao governo: "A desaceleração da distribuição de livros didáticos pelo MEC".
Para completar o absurdo, nas demais questões impertinentes, a propaganda e a ideologia se aliaram para atacar a imprensa, uma constante no governo Lula. Numa, o aluno é induzido a pensar que o presidente foi alvo de preconceito e críticas injustas ao dizer que a crise internacional não passava de uma "marolinha". Na outra, com base num texto estapafúrdio que desqualifica o trabalho dos jornalistas que cobrem a Fórmula 1, o estudante é levado a assinalar que a imprensa é negligente e omissa em relação às "artimanhas" que caracterizariam o esporte. Resume o historiador Marco Antonio Villa: "Trata-se de uma prova obtusa e autoritária. A resposta certa é determinada à revelia da ciência e do bom senso".
Criado pelo atual governo em 2004, para substituir o antigo Provão, o Enade tem o propósito de medir a qualidade dos cursos superiores no país. Como no ano passado, a prova foi concebida numa parceria entre comissões formadas por professores de cada área testada – a quem o MEC delega a elaboração das diretrizes gerais – e a empresa mineira Consulplan, especializada em concursos públicos, que se encarregou da confecção do exame propriamente dito. A VEJA, um funcionário da Consulplan, que acompanhou de perto o processo, disse, sem meias palavras: "Decidimos incluir questões sobre as ações do governo porque recebemos instruções claras dos profissionais que trabalharam para o MEC". Não é o que afirmam tais profissionais. "Nas diretrizes que traçamos, não há nenhuma menção à inclusão de perguntas com viés ideológico", afirma o professor Luis Carlos Bittencourt, do grupo dedicado à área de comunicação social.
Os valentes que usaram o exame para fazer propaganda e disseminar sua ideologia nefasta de ódio à liberdade de informação e opinião agora se escondem no anonimato. Nada mais típico. "Talvez seja preciso repensar o sistema de concepção da prova para o ano que vem", limita-se a dizer Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, órgão vinculado ao MEC. Uma sugestão para o Enade de 2010 é incluir a seguinte questão:
Defina o exame de 2009:
a) Peça de propaganda do governo federal;
b) Panfleto anti-imprensa;
c) Teste de péssima qualidade acadêmica;
d) Todas as respostas anteriores.
Alguém tem dúvida sobre a alternativa correta?
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http://veja.abril.com.br/181109/prova-virou-panfleto-p-082.shtml
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