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terça-feira, dezembro 15, 2009
COPENHAGUE/2009: INTERESSES ESCUSOS, ESCUROS OU AS CLARAS...
Dilma esnoba US$ 1 bilhão
Palanque em Copenhague | ||||
Autor(es): Cristiana Andrade | ||||
Correio Braziliense - 15/12/2009 | ||||
Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra criticaram países desenvolvidos, em clima de campanha eleitoral. A senadora sugeriu que o Brasil doasse US$ 1 bilhão para o fundo, valor desdenhado pela ministra da Casa Civil COP-15 Agenda do meio ambiente Cúpula de países tenta superar impasses para cumprimento de metas contra o aquecimento global, de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague Copenhague — Em um dia no qual as negociações da Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas (COP-15) quase emperraram por causa do desacordo entre países desenvolvidos e em crescimento, três presidenciáveis brasileiros marcaram presença, com discursos firmes que faziam lembrar promessas de campanha. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o governador de São Paulo, José Serra, e a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PV-AC) engrossaram a voz e causaram polêmica. A senadora afirmou acreditar ser possível que o Brasil, assim como outras nações emergentes, dê uma contribuição financeira para as ações de mitigação e adaptação — teoricamente, por Kyoto, essa é uma obrigação dos países ricos. “O Brasil também pode fazer um gesto em direção ao fundo para adaptação e mitigação. Ele veio para a conferência com metas, podem não ser as ideais, mas criou um clima positivo no âmbito da negociação. Como já até emprestou recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI), pode fazer um gesto, colocando US$ 1 bilhão, quem sabe? Pode ser mais, não vou ficar triste com isso”, comentou a senadora. Marina acrescentou que se o Brasil fizesse isso, aconteceria o que ela chama de “constrangimento ético”, pois assim, de acordo com a senadora, os demais emergentes sentiriam-se obrigados a também se comprometer com medidas. “O que não podemos ter aqui é uma decisão baseada na limitação dos países por causa de seus interesses nacionais”, discursou. “Coceguinhas” Mais tarde, pressionada pela imprensa, a ministra Dilma comentou que “US$ 1 bilhão não faz nem coceguinhas”. A ministra ressaltou que é preciso cautela. “Estamos tratando de uma coisa séria, que é a proteção do meio ambiente”, cravou. “Quem puder colocar sua contribuição voluntária dará, mas me desculpe, não é US$ 1 bilhão de dólares.” Já o governador de São Paulo, José Serra, foi duro com os países desenvolvidos por impor barreiras comerciais ao etanol. “É um protecionismo pró-carbono”, reclamou. Segundo ele, o mundo poderia evitar emissões significativas de gases de efeito estufa caso 10% de etanol fosse misturado à gasolina. Ele disse, ainda, que há terra suficiente no Brasil para cultivar cana-de-açúcar, sem precisar apelar para o desflorestamento. A quatro dias para uma decisão consensual sobre os rumos que a comunidade internacional vai tomar em relação ao clima, as negociações não conseguiram avançar. Assim como fez em Barcelona, durante a preparatória da COP-15, o bloco africano deixou o debate por mais de cinco horas, alegando que não está havendo avanços na atualização dos números de metas de redução de lançamento dos gases pelos países ricos. A África integra o G-77, formado por Brasil, Índia, China e outros quase 130 países. A MORTE RONDA O PLANETA Vestidos dos quatro cavaleiros do Apocalipse — fome, peste, morte e guerra —, manifestantes desfilaram em Copenhague em frente a um balão equivalente a 1t de dióxido de carbono lançado na atmosfera. Ontem, a representante do secretário-geral para Redução do Risco de Desastres das Nações Unidas, Margareta Wahlstrom, apresentou um estudo mostrando que os fenômenos climáticos foram responsáveis por mais de 75% das mortes mundiais nos primeiros 11 meses do ano. Os prejuízos econômicos ultrapassaram US$ 15 bilhões, o equivalmente a mais de R$ 25 bilhões. Florestas são a peça-chave
A falta de incentivos financeiros fortes e de conscientização da sociedade civil latino-americana são obstáculos que devem ser superados para combater com êxito o desmatamento, elemento-chave na luta contra o aquecimento global, defenderam ontem especialistas em Copenhague. “Se não ganharmos o combate contra o desmatamento, não ganharemos a luta contra o aquecimento global”, afirmou o colombiano Martín von Hildebrand, especialista em povos indígenas amazônicos. A América Latina tem 800 milhões de hectares de floresta tropical — cerca de 700 milhões só na Amazônia —, duas vezes a superfície da União Europeia, destacou Yan Speranza, da organização não governamental Fundação Moisés Bertoni, do Paraguai. O continente é responsável por 7,5% das emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa. Dois terços deste total provêm do desmatamento e da agricultura, que estão estreitamente relacionada. Os países latino-americanos são grandes produtores de matérias-primas, setor de rápida expansão devido à crescente demanda mundial. Segundo Speranza, a produção de matérias-primas representa 20% do PIB destes países, e a grande dificuldade é evitar que os produtores avancem sobre áreas de proteção ambiental. “É necessário mudar a lógica econômica do desmatamento, com investimentos que incentivem o desenvolvimento sustentável”, explicou Mariano Cenamo, do Instituto de Preservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), do Brasil(1). Fundos Esses investimentos são estimados entre 15 e 27 bilhões de dólares por ano, e sua origem — fundos públicos ou mecanismos de mercado de créditos de carbono — é um dos pontos mais complicados, tanto na negociação em nível mundial quanto em fóruns de países latino-americanos, disse Cenamo. Como exemplo, o especialista brasileiro apresentou um grupo de oito projetos de combate ao desmatamento no Brasil, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru que, a um custo de US$ 1 bilhão, geraria US$ 2,5 bilhões no mercado de emissões de carbono. “O mercado pode contribuir, mas não acredito que seja suficiente e não podemos esperar que ele sozinho salve a Floresta Amazônica”, ponderou Von Hildebrand. “Os fundos devem chegar às pessoas certas, e para eles devem ser criados mecanismos de gestão com a participação dos povos indígenas”, afirmou. “Não podemos defender a floresta se não levarmos a população local em conta, integrada nas decisões e responsabilizada.” No entanto, o aquecimento global não é uma questão que tire o sono da opinião pública latino-americana — que, em uma pesquisa recente, apontou a economia e a segurança como suas principais preocupações. Para a argentina María Eugenia Di Paola, da Fundação Ambiente e Recursos Naturais (FARN), “é necessário despertar a consciência política e social sobre o problema”. “Os políticos tendem a governar em função das pesquisas, e nelas o aquecimento global nem sequer figura como um problema para a sociedade latino-americana”, lamentou Speranza. 1 - Campeão de reduções Brasil, Suécia e Grã-Bretanha são os países que neste ano se mostraram mais ativos na redução das emissões de gases do efeito estufa, segundo a classificação anual da ONG alemã Germanwatch, divulgada ontem, com base num estudo com 57 países. O relatório, que usou principalmente dados da Agência Internacional de Energia (AIE), questiona, no entanto, se o bom desempenho do Brasil não se deve em grande parte aos efeitos da crise econômica mundial, que teria reduzido o avanço da produção de soja e de óleo de palma na Floresta Amazônica. ----------------- |
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