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terça-feira, dezembro 01, 2009
HONDURAS/BRASIL: REFRESCANDO A MEMÓRIA...
Crise em Honduras
O cafofo de Zelaya
3 de outubro de 2009
Manuel Zelaya encerrou sua segunda semana como "hóspede" da embaixada brasileira em Honduras com o entourage reduzido a um quinto, as ideias de perseguição elevadas ao cubo e nenhuma mostra de que está disposto a desistir de voltar ao poder, de onde foi apeado no último dia 28 de junho por determinação da Suprema Corte de Justiça.
Ao longo da semana, com o beneplácito do governo brasileiro, ele conclamou a insurreição, convocou a população para a "ofensiva final" e pediu que seus apoiadores fizessem greve de fome. Desde o dia em que voltou clandestinamente a Honduras, numa operação patrocinada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Zelaya tinha como objetivo promover um levante popular que o levasse de volta à presidência.
Diante do fracasso do plano, parece ter desistido de usar seus apoiadores como bucha de canhão. Na quinta-feira, disse estar disposto a ser julgado pelos dezoito crimes pelos quais é processado e a abrir mão de uma boa - e não especificada - parte dos poderes presidenciais caso retome o cargo. Isso, claro, se os "raios" permitirem.
A casa onde funciona a missão diplomática do Brasil em Tegucigalpa, capital de Honduras, chegou a ter mais de 300 pessoas nos dias seguintes à chegada do presidente deposto. Na última sexta-feira, ela abrigava 53 - sem contar o próprio Zelaya, onze jornalistas e dois diplomatas. Destes 53 ocupantes, 24 trabalham como seguranças (pagos) do hondurenho. Os demais podem ser divididos em duas categorias: a dos simpatizantes do presidente deposto e a dos que mal sabem por que estão lá (como é o caso de cinco desempregados que, antes de abrigar-se na embaixada, viviam nas ruas, e para os quais a estada no Big Brother zelayista não passa de uma chance de dormir ao abrigo do relento).
Durante o dia, Zelaya fica na sala destinada ao embaixador, agora transformada em suíte para ele e a mulher, Xiomara. À noite, vai dormir no almoxarifado. O hondurenho nunca acorda antes das dez da manhã, passa boa parte do dia falando ao telefone e, à noite, lê o livro El Candidato, do argentino Jorge Bucay, autor de best-sellers de auto-ajuda como Vinte Passos para a Felicidade e Amar de Olhos Abertos. Raramente deixa a a sala e, quando o faz, é para dar entrevistas coletivas ou distribuir comunicados aos jornalistas presentes. Um desses comunicados, exortando a população a praticar atos de desobediência civil contra o governo, foi o principal argumento para que o presidente Roberto Micheletti, que substituiu Zelaya no dia 28 de junho, decretasse o estado de exceção no país.
A passividade do Itamaraty diante das incitações de Zelaya à violência, feitas do interior da embaixada, não foram outra contribuição do governo brasileiro ao espetáculo hondurenho nesta semana. O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, também fez sua parte ao declarar em Pittsburgh, durante reunião do Grupo dos Vinte, que o governo "golpista de Roberto Micheletti é feito de mentirosos". Ao contrário de Garcia, o presidente Hugo Chávez, autor do roteiro de filme B que trouxe Zelaya de volta a Honduras, guardou silêncio estratégico.
No enredo criado pelo venezuelano, um aprendiz de caudilho aceita sofrer uma transmutação "ideológica" em troca da fórmula do poder perpétuo (e, claro, dinheiro). Expelido do país, retorna clandestina e bravamente para ser reconduzido ao poder nos braços do povo, que ele governará com a tutela de seu mestre. Embora essa última parte tenha tido de ser reescrita, a fita barata e de atores ruins continua a se desenrolar conforme as ordens do seu diretor. O mais triste é que, nesse filme, o Brasil continua fazendo um papel feio.
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http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/cafofo-zelaya-502970.shtml
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