BOLHA GLOBAL
Produção brasileira vai diminuir este ano, ao contrário do que pensavam governo e especialistas. Será a primeira queda do PIB desde 1992 Apesar de todo o esforço do governo para minimizar os impactos da crise mundial no país, a fatura a ser paga será mais pesada do que o imaginado. Foi o que deixou claro ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ao divulgar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano, de 1,3% em relação aos três meses anteriores. Esse resultado ficou abaixo de todas as estimativas do mercado e do governo, que variavam entre 1,6% e 2,1%. Com isso, os analistas refizeram as contas e, agora, apostam que o PIB fechará 2009 com queda entre 0,1% e 0,8%. Caso seja confirmado esse quadro desfavorável, será a primeira vez, desde 1992, ano do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, que o Brasil terá retração econômica — a retração naquele ano foi de 0,5%.
“Não tem jeito. Ficou praticamente impossível para o país encerrar o ano com crescimento”, disse o economista Régis Bonelli, da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Para que a variação do PIB neste ano seja zero, o avanço nos últimos três meses terá de ser de 3,5% frente ao terceiro trimestre. Não há, pelo menos nos últimos 10 anos, nenhum trimestre com tamanho crescimento”, acrescentou. Outros cálculos mostram que, para o PIB crescer 1% em 2009, o aumento terá que ser de 9,1% na comparação do quarto trimestre com o mesmo período de 2008. Para 0,5%, o PIB terá de subir 7%.
Em relação a 2010, as projeções não mudaram muito, pois a base de comparação será menor. “É possível acreditar em expansão de até 6%”, afirmou Zeina Latif, economista do Banco ING. Ela ressaltou que parte da frustração do mercado com os números decorreu das revisões feitas pelo IBGE nos trimestres anteriores. A queda do PIB no quarto trimestre de 2008 ante os três meses anteriores foi reduzida de 3,6% para 2,9%. Em compensação, o aumento do Produto no segundo trimestre, que havia sido de 1,9%, baixou para 1,1%. “Essas revisões deixaram os dados do PIB mais próximos da realidade”, enfatizou Rebeca Palis, gerente de Contas Trimestrais do IBGE.
Segundo ela, ainda não é possível dizer que o país já superou todo o estrago provocado pela crise. “A economia recuou aos níveis verificados entre o fim de 2007 e o início de 2008”, assinalou. Rebeca lembrou ainda que, na comparação do terceiro trimestre deste ano com igual período de 2008, o PIB caiu 1,2%. No acumulado de janeiro a setembro, o tombo chegou a 1,7%. Na avaliação do presidente do BC, Henrique Meirelles, não há razões para a frustração, pois o Brasil voltou a crescer mais do que antes do estouro da crise, em setembro do ano passado. Juros sem pressão Se o ritmo de crescimento no terceiro trimestre decepcionou a maioria dos analistas e técnicos do governo, deu um alívio ao Banco Central. “Com certeza, não haverá necessidade de o Copom (Comitê de Política Monetária) elevar a taxa básica de juros tão cedo”, disse o economista-chefe do Banco BES Investimento, Jankiel Santos. Um dia antes de o IBGE anunciar que o PIB avançou pouco, o BC emitiu sinais de que poderia subir os juros nos próximos meses por causa de pressões inflacionárias decorrentes do aquecimento exagerado da economia. “O IBGE não só jogou uma ducha fria no otimismo exagerado quanto à recuperação da economia, como empurrou para mais longe a alta dos juros em 2010”, acrescentou.
A tese do adiamento da elevação dos juros ganhou força com a retomada dos investimentos (leia matéria na página 14). Com o empresariado voltando a ampliar as fábricas, não haverá risco de falta de produtos, evitando remarcações exageradas de preços. Além disso, destacou Patrícia Bentes, diretora da Hampton Solfise, o BC terá a ajuda das importações, facilitadas pelo dólar barato. “As empresas não vão correr o risco de aumentar demais os preços, pois sabem que podem perder mercado”, assinalou. As importações cresceram 1,8% no terceiro trimestre ante o segundo. (VN)
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