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sábado, fevereiro 27, 2010

EDITORIAL [In:] ''HAY QUE ENDURECER...'' ENDURECENDO!!!

O impasse em Cuba e a arrogância de Madri

Coisas da Política - Mauro Santayana
Jornal do Brasil - 26/02/2010

Em ‘Iogue e o Comissário’, Arthur Koestler discute o problema da desigualdade entre os homens e as teorias para combatê-la. O iogue – ideia que resume o humanismo de fundo ético – busca ajustar o coração do homem, lavá-lo das crostas do egoísmo, torná-lo limpo como o dos santos, para que o mundo volte a ser o paraíso. Os comissários, agentes políticos da esquerda, pensam de forma contrária: só com a mudança total da sociedade, mediante a ditadura dos oprimidos, os homens aprenderão a ser solidários.

As ideias revolucionárias de liberdade, igualdade e fraternidade surgem sempre com o iogue. Foram ideias rousseaunianas que derrubaram a Bastilha, depois de armar a guilhotina, que decapitou o rei e a rainha. A mesma lâmina cortou depois os pescoços dos iogues e comissários de 1792 e 1793, Danton, Robespierre, Saint-Just. Seja como for, há um terceiro caminho, mais seguro, para melhorar a sociedade e o homem: o paciente exercício da política.

A Ilha é um dos casos mais dramáticos de luta histórica pela autonomia política. Os espanhóis a mantiveram sob mão de ferro até que, vencidos pelos norte-americanos, entregaram-na ao destino de canavial e lupanar dos novos senhores, sob tiranetes que Washington sustentava e destituía, conforme interesses ocasionais. A Revolução de 1959, embora seu matiz esquerdista, não propunha aventuras radicais, mesmo contando com o iogue e comissário unidos na personalidade de Guevara. Seu objetivo inicial foi o saneamento imediato da ilha, com o julgamento implacável dos rufiões e criminosos do governo de Fulgencio Batista, e a independência econômica e política do país – submetido à tutela de Washington, desde a ocupação militar em 1898, e a Emenda Platt, de 1901. Quando Castro anunciou a nacionalização do refino do petróleo, a reação dos Estados Unidos não lhe deixou outro caminho que não o de buscar a ajuda soviética. O bloqueio posterior agravou a situação.

Por mais defendamos os êxitos sociais de Cuba e o seu direito à autodeterminação, o sistema envelheceu, e cresce a insatisfação interna. Nem por isso devemos aplaudir a histeria norte-americana e europeia diante da morte do opositor Zapata, que estava em greve de fome. O governo cubano, preocupado em deter a oposição, incentivada desde Miami, manteve-se duro e surdo, diante de uma morte praticamente anunciada. O governo de Havana poderia ter libertado o prisioneiro e, mesmo como medida arbitrária, negociado o seu exílio. Enfrentaria, é certo, o show da imprensa internacional no endeusamento do herói da resistência, o que seria muito mais cômodo do que enfrentar a santificação do mártir.

Os espanhóis se esmeram na hipocrisia. Eles extinguiram os índios caribenhos e, em 1512, queimaram vivo o cacique taino Hatuey, que defendia a liberdade de seus povos. Mantiveram a colônia sob o jugo de seus señoritos durante 400 anos, com o terror e a ignorância. E tivemos em pleno século 20 os anos de franquismo, com a repressão contra os trabalhadores e intelectuais, o “garrote vil” e o fuzilamento sumário, não só durante o confronto de 1936-39 mas até os momentos finais do regime, em 1974 e 1975. Se há um povo, como povo, vítima preferencial do franquismo e da teimosia remanescente de Madri, é o basco – que já vivia nos Pireneus antes que os romanos e celtas chegassem. O que os franquistas fizeram, ao pedir aos alemães que bombardeassem sua cidade sagrada de Guernica, é um dos mais bárbaros crimes contra a Humanidade. Os bascos continuam lutando pela sua independência, sem que os espanhóis se disponham a negociar solução histórica para o problema.

O regime cubano se renova, na aceitação da atividade política republicana, ou corre o risco de fim melancólico. Mas as suas dificuldades não autorizam aos dirigentes espanhóis e americanos o tom arrogante e imperial em exigir de Havana a liberdade dos presos políticos. Antes disso, que soltem os seus, os muçulmanos que se encontram em Guantánamo, território cubano, e os bascos das prisões espanholas.

Como algozes históricos de Cuba, não têm autoridade moral para exprobrar o seu governo.

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-o0o-


Silêncio em Cuba vale críticas a Lula

Lula é criticado por silêncio sobre Cuba

Autor(es): Agencia O Globo/Eliane Oliveira,
Cristiane Jungblut e
Tatiana Farah
O Globo - 26/02/2010

A ausência de condenação ao desrespeito aos direitos humanos em Cuba gerou críticas ao presidente Lula, que visitava a ilha quando o preso político Orlando Zapata morreu após greve de fome. Analistas de relações internacionais dizem que Lula não deveria guiar a política externa por preferências ideológicas ou relações de amizade. O jornal "El País" criticou o silêncio de Lula. Mil policiais e militares cercaram o povoado onde ocorreu o enterro de Zapata e impediram o acesso de jornalistas.

MORTE DE DISSIDENTE NA ILHA

Analistas alertam que presidente brasileiro não pode se esconder atrás de velhas preferências ideológicas


BRASÍLIA e SÃO PAULO. Um país como o Brasil, que usa internamente a bandeira dos direitos humanos para condenar o período da ditadura, não pode ficar em cima do muro ante os últimos acontecimentos em Cuba, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO. Para o especialista em Direito Internacional George Galindo, seria importante que a diplomacia brasileira tomasse posição mais enérgica. Sobretudo agora, que Cuba foi autorizada a voltar para a Organização dos Estados Americanos (OEA).

- O fato de Cuba entrar novamente na OEA gera ônus tanto para os cubanos como para os vizinhos. Se o Brasil, nos dois últimos governos, defende há tanto tempo os direitos humanos, deve aplicar isto também no plano externo - disse Galindo.

"É preciso pôr fim à relação nostálgica com Cuba"

Ele também criticou as frequentes abstenções do Brasil sobre o assunto em fóruns internacionais - não apenas no governo Lula, frisou, mas também no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. Também atacou o argumento das autoridades brasileiras de que não se pode interferir em assuntos internos, quando, ao mesmo tempo, condenou taxativamente o golpe em Honduras.

- O princípio genérico de não ingerência em assuntos internos não pode servir de pretexto para fechar os olhos publicamente a violações gravíssimas do direito internacional - disse o professor de Ciências Humanas Estevão Martins, da Universidade de Brasília (UnB).

- A voz política do país não pode se esconder atrás de alguma preferência ideológica. Um país que tem uma Secretaria de Direitos Humanos que faz um estardalhaço fora do comum com respeito a ditaduras passadas, cria uma situação de desconforto ao ficar em silêncio total em relação a uma ditadura que dura mais de 50 anos - acrescentou o acadêmico.

O professor titular de Relações Internacionais da UnB Eduardo Viola concorda com a avaliação e acredita que o Brasil já deveria ter se pronunciado:

- Não é uma questão de interferência ou ingerência. A política externa do governo Lula não corresponde a um país democrático como o Brasil. É preciso acabar com essa relação nostálgica com Cuba.

Postura de Lula em Havana domina debates na Câmara

O jurista Antonio Márcio da Cunha Guimarães, especialista da PUC-SP em Direito Internacional e Direitos Humanos, criticou a falta de posicionamento:

- O presidente não pode pautar relações internacionais por suas relações pessoais, de amizade. Acho um despropósito essas manifestações de apoio público de Lula a governantes como os de Cuba e Irã.

Em Brasília, o silêncio de Lula à morte do dissidente cubano Orlando Zapata Tamayo provocou a reação do DEM, que até obstruiu e conseguiu suspender a votação de acordos internacionais na Câmara. A viagem a Havana dominou num plenário esvaziado, provocando debates acalorados entre parlamentares.

- Quem poderia imaginar um presidente operário, o nosso presidente metalúrgico, ir a Cuba para comemorar a morte de um dissidente do regime de Fidel. Isso é inaceitável. Tirar foto dando risada, ao lado de assassinos, ao lado de bandidos, em Cuba - disse o vice-líder do DEM, deputado José Carlos Aleluia (BA).

A deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), irritada, pediu que fosse retirada a expressão "assassinos" do discurso, e o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP) disse que iria analisar a questão. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), saiu em defesa de Lula. O ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, mandou dizer que estava se preparando para viajar e não poderia falar sobre o caso.




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