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quinta-feira, setembro 30, 2010
GOVERNO LULA/LULISMO [In:] OS PARÂMETROS DA DEMOCRACIA
''Lula poderá ser um poder paralelo''
Merval Pereira, Jornalista - Em livro que reúne seus artigos desde 2002, jornalista mostra como o lulismo assumiu o poder
O Estado de S.Paulo
A releitura de 372 artigos selecionados entre aqueles que publicou no jornal O Globo, entre junho de 2002 e junho de 2010, levou Merval Pereira à conclusão de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva instalou no poder um lulismo que marcará o governo nos próximos anos, com a eventual vitória do PT e de Dilma Rousseff.
Os artigos publicados no livro O Lulismo no Poder, a ser lançado terça-feira na Academia Brasileira de Letras, no Rio (Editora Record, 784 páginas, R$ 79,90), apresentam uma visão realista e, às vezes, profética do governo Lula, embora alguns deles tenham sido ultrapassados pelos acontecimentos. "Resolvi manter essas colunas porque mostram como se faz o jornalismo político no dia a dia."
Quais são os indícios de que o lulismo assumiu o poder?
Cito o aparelhamento do Estado, o Bolsa-Família e a política externa. Vê-se aí que há uma lógica nesse governo. A confusão entre público e privado sempre existiu no governo Lula. Com o escândalo do mensalão, descobriu-se que, antes de chegar à administração federal, o PT já tinha essa mistura nas prefeituras que comandava. Foi a mesma coisa no controle dos meios de comunicação. Desde o primeiro momento, o governo apareceu com várias propostas de controle, como o Conselho Nacional de Jornalismo e o projeto para controlar a cultura.
O ex-ministro José Dirceu tem o maior destaque em seu livro. Foi com ele que se desenvolveu o lulismo?
Esse é o período do mensalão, quando Lula ficou enfraquecido e quase caiu. Depois que se recuperou, ele acelerou o projeto. Dirceu era e é até hoje fortíssimo no PT. A saída do Dirceu fez com que o lulismo crescesse. Lula passou a ser a figura central. Antes, era o Palocci, era o Dirceu. Claro que Lula nunca foi uma figura decorativa, mas havia personagens que tinham autonomia no governo. A partir da saída desses dois, especialmente do Dirceu, o lulismo cresceu. Lula teve essa sorte, é um homem de sorte. Quando a crise do mensalão veio, começaram a vir também os efeitos dos programas assistencialistas, que transformaram Lula num mito no Nordeste.
Quem constrói o lulismo, os petistas ou também Lula?
Principalmente o Lula. Tem aí uma figura central que é o Patrus Ananias. Porque o Fome Zero/Bolsa-Família, do jeito que estava montado pela turma do Frei Betto, era um projeto de reforma estrutural, da estrutura do Estado. Frei Betto queria fazer comissões regionais sem políticos, para distribuição do Bolsa-Família, e a partir daí fazer educação popular. Era um projeto muito mais de esquerda, muito mais voltado para mudanças estruturais da sociedade. O Bolsa-Família hoje é um programa para manter a dominação do governo sobre esse povo necessitado. Patrus transformou-o num instrumento político espetacular, que foi o começo da força do lulismo.
Em fevereiro de 2004, sua coluna mostrava que Lula estava por baixo e que talvez fosse melhor ele desistir da reeleição para voltar em 2010. Isso mudou. Foi aí que o lulismo disparou?
Deixei no livro vários artigos que foram depois superados pelos fatos justamente para mostrar como é feito o jornalismo político, no dia a dia. Naquele momento, Lula estava morto. Eu me lembro de que, no PSDB, achavam que era só deixar o Lula sangrando até a eleição. Aí a coisa virou. Na recuperação, Lula foi em frente, viu que tinha um respaldo popular, que era muito menor do que hoje.
O lulismo continuaria sem o Lula no poder, com a eventual eleição de Dilma, ou supõe que o Lula voltaria mais tarde?
Eu achava antes que o Lula não ia querer voltar em 2014 e que ia ter uma vida política no exterior, abrir uma ONG ou um instituto, que ia andar pelo mundo fazendo palestras e sendo homenageado. Esse projeto furou um pouco, depois da crise com o Irã, depois das crises internacionais em que se meteu.
Lula então se voltaria mais para o Brasil?
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Lançamento
‘O Lulismo no poder’
O livro de Merval Pereira será lançado no próximo dia 28
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O jornalista Merval Pereira vai lançar, no próximo dia 28 de setembro, o livro “O Lulismo no poder”, da editora Record. O evento acontecerá na Academia Brasileira de Letras, no Castelo. Segundo o autor, o título é uma homenagem ao jornalista Carlos Castello Branco, uma espécie de patrono dos colunistas políticos brasileiros. Recentemente, o livro de Castello Branco “Os militares no poder” foi reeditado. Merval Pereira foi responsável pelo prefácio da obra. A Academia Brasileira de Letras fica na Avenida Presidente Wilson, número 203, térreo, Castelo.
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