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sábado, novembro 27, 2010
EDITORIAL [In:] ELEIÇÕES 2O1O, SEGURANÇA PÚBLICA & TRÁFICO
O exército fantasma do Planalto só sabe entrar em combate na guerra eleitoral
Ao longo da campanha eleitoral, Dilma Rousseff recitou a cada comício, debate
ou entrevista que faltava pouco para que o sistema de segurança pública, a exemplo do que ocorreu na área da saúde, chegasse à perfeição. Graças ao padrinho, garantiu a afilhada, nem teria muita coisa a fazer depois de eleita. Nos últimos oito anos, a violência dos tempos de FHC foi progressivamente substituída pela paz da Era Lula. Ponto para o estadista que encarou a herança maldita.
No meio da discurseira, aparecia inevitavelmente o exemplo do Rio. Com a d
isseminação das Unidades de Polícia Pacificadora, as miraculosas UPPs, o companheiro Sérgio Cabral concluíra a façanha histórica iniciada pelo PAC e consolidada pela popularidade de Lula. Nem o mais insensato comandante do narcotráfico ousaria enfrentar os 80% do maior dos governantes desde Tomé de Souza.
Dado o aviso, Dilma sacava do coldre imaginário o trabuco com a bala de prata: se alguma facção do crime organizado tentasse conflagrar os morros cariocas, o Mestre não hesitaria em mobilizar a temível Força Nacional de Segurança Pública. Por que o exército medonho até hoje não foi visto em ação? “Porque o governo de São Paulo não quis”, repete Lula desde 2006, quando a capital do Estado administrado pelo PS
DB foi convulsionada por sangrentos ataques simultâneos do PCC.
Em campanha pela reeleição, Lula e Tarso Genro, ministro da Justiça e marechal da Força Nacional, baixaram em São Paulo para informar que poderiam sufocar a rebelião em quatro ou cinco horas. Bastava uma solicitação formal do governador. Pena que os
tucanos paulistas tenham teimado em ignorar o bom exemplo dos companheiros cariocas, suspirava Lula antes que a violência no Rio recrudescesse com dimensões apavorantes. O segredo é a aliança entre os governos federal e estadual.
Até o começo da semana, o presidente e a sucessora sustentaram que o entendimento fraternal com o governador Cabral (sem contar a guarda pessoal do prefeito Eduardo
Paes) era mais que suficiente para matar no nascedouro qualquer atrevimento esboçado pelos bandidos do narcotráfico. Nesta quinta-feira, dois telefonemas reduziram a farrapos outra fantasia do Brasil do faz-de-conta.
Depois de alguns dias de silêncio, Lula e Dilma ligaram
para conversar com Sérgio Cabral sobre o drama que apavora o Rio e assombra o país. Nem o atual nem a futura presidente ofereceram a ajuda da Força Nacional. Ofereceram votos de solidariedade. O país inteiro descobriu que o exército fantasma do Planalto só entra em combate na guerra eleitoral.
Uma última interrogação intriga milhões de habitantes da zona conflagrada. O presidente autopromovido a Pacificador do Universo já se ofereceu para resolver a crise do Oriente Médio e para reaproximar o Irâ atômico do resto do mundo. O que é que há com Lula que não se oferece para acabar com a batalha do Rio?
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Agora é guerra
26 de novembro de 2010 | 0h 00
A situação por que passa a cidade do Rio de Janeiro, alvo de ataques terroristas do tráfico de drogas, já aconteceu outras vezes e aconteceu também em São Paulo há poucos anos.
Mas, desta vez, no Rio há algo de diferente no ambiente: nunca se viu tanta mobilização de recursos, tanta motivação por parte do aparelho de Estado, tanta confiança num desfecho positivo, tanta torcida no restante do País e tanto apoio da população e da imprensa ao trabalho da polícia.
Agora é a guerra instalada mesmo. Até então o que havia eram ações episódicas, com o Estado sendo derrotado permanentemente e, com isso, a crescente ameaça à segurança e à soberania nacionais.
O que mudou? Há o esgotamento geral com essa questão, mas há um dado novo: a maneira como as pessoas enxergam o poder público. Ou melhor, a forma como o poder público se mostrou à população nos últimos dois anos no que concerne ao trato da segurança pública na cidade brasileira onde o problema é mais agudo e mais difícil de ser enfrentado.
Pela primeira vez em 40 anos de um processo de ocupação gradativa de territórios pelo tráfico de drogas e de compadrio as autoridades e do sistema político, o governo do Estado resolveu agir com firmeza, começando pelo que estava ao seu alcance: a retomada paulatina desses territórios com o plano das Unidades de Polícia Pacificadora e o combate às milícias.
Para isso foi essencial a escolha de um profissional sério e que se fez respeitado junto à sociedade, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e, claro, uma relação de cooperação e confiança entre os governos estadual e federal.
Isso resolve? Não, mas contribui sobremaneira o fato de não se ter um comando comprometido com o crime (o ex-chefe da Polícia Civil Álvaro Lins está preso); de governos estadual e federal não perderem tempo com aquelas brigas que a todos enoja; a união (na prática) das Polícias Civil e Militar. Junto a isso, a existência de política de segurança, de ações de inteligência e de estratégia para reação.
Contribui também a concentração de traficantes em regiões ainda não ocupadas pelas UPPs, justamente porque foram expulsos daquelas áreas que já somam duas dezenas nas zonas sul, norte e oeste do Rio.
As unidades não foram concebidas para eliminar o tráfico de drogas. A ideia foi estabelecer como prioridade libertar as pessoas residentes dos territórios controlados do domínio do tráfico. Hoje são 150 mil os moradores beneficiados, mas o plano até 2014 é instalar 40 UPPs para alcançar 500 mil pessoas.
"Meu objetivo é tirar a arma pesada da mão do bandido que escraviza comunidades. Enquanto houver doentes haverá drogas. O que não é admissível é um sujeito com arma na mão determinar aonde uma pessoa vai ou deixa de ir", disse ele em entrevista há seis meses.
Nessa conversa, Beltrame explicou que o Rio é o lugar mais complexo em termos de criminalidade. "Aqui a polícia trabalha contra o crime na rua, contra três facções criminosas e ainda trabalha contra as milícias. Nos outros Estados não há essa diversidade".
O plano dele é ir tirando as condições de o tráfico trabalhar por causa da perda dos territórios. Na época, falava em "uma segunda etapa" que seria o cerco aos marginais abrigados em outros locais não ocupados pela polícia.
"Ou vamos prendê-los, ou vão fugir ou podem perder a vida num confronto", dizia.
Sobre tentativas de contra-ataques assegurava ter homens suficientes para pôr os bandidos "para correr". E por "correr" aí entenda-se até o extremo. "A polícia não quer matar, mas o Estado precisa se colocar porque para o bandido não existe Constituição, vale a lei deles e é contra isso que o País precisa se posicionar, entendendo que o Estado tem o monopólio da força".
Como se resolve o problema? "Com o envolvimento efetivo da União, dos Estados e municípios, de todos. Sem discussões sobre episódios, mas com uma ideologia de segurança, de muito investimento em estrutura, tecnologia, treinamento e principalmente capacidade de decisão".
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