Taxa de desocupação é de só 3,1% para quem tem faculdade. Cresce qualificação do trabalhador
Odiploma da faculdade já garante a milhares de brasileiros o pleno emprego. Levantamento exclusivo do IBGE, nas seis principais regiões metropolitanas do país, mostra que a taxa de desemprego da população que tem nível superior atingiu em 2010 seu menor nível em oito anos: 3,1% - quase a metade da média nacional (6,7%). Segundo especialistas, é o mesmo que dizer que praticamente não falta trabalho - ainda que, muitas vezes, fora da área da formação - para quem passou pelos bancos universitários.
O aumento da qualificação fora da universidade também chama a atenção. Segundo o IBGE, o país encerrou 2010 com 7,6 milhões de pessoas, 34,1% do total de trabalhadores nessas seis regiões metropolitanas, com algum curso de qualificação concluído ou em andamento. É mais que o dobro dos 3,7 milhões de trabalhadores nessa condição em dezembro de 2002.
Os números mostram um avanço na educação e refletem também o bom momento da economia brasileira, que deve ter fechado 2010 com crescimento recorde, perto de 8%. Mas os analistas lembram que, num momento em que muitas empresas se queixam da dificuldade de encontrar profissionais no mercado, a qualidade da formação dos trabalhadores deixa a desejar.
- O avanço da formação da população brasileira é fantástica. E esse cenário certamente não é um privilégio das regiões metropolitanas, até por causa do processo de interiorização do emprego - disse Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE e responsável pelo estudo.
Para analistas, qualidade do ensino deixa a desejar
Fica a dúvida, entretanto, se esse ritmo de absorção de conhecimentos é compatível com as necessidades das companhias, frisou Azeredo.
- O que fica claro é que houve uma transformação na estrutura do emprego. Seja no chão de fábrica, numa plataforma ou num escritório. As novas tecnologias fizeram os profissionais perceberem que era preciso se capacitar mais. Mas, se esse ritmo é suficiente, não sabemos.
Segundo a pesquisa de Azeredo, empregados e desempregados buscam estar mais atualizados. Entre os homens ocupados, 20,6% frequentavam ou já tinham concluído alguma qualificação em dezembro de 2002. Oitos anos depois, essa parcela chega a 34%. Entre as mulheres empregadas, a fatia sobe de 21% para 34,1%.
- Estudar para se preparar para o mercado de trabalho passou a ser uma prioridade também em todas as faixas etárias. O que é um reflexo de que o mercado de trabalho está oferecendo oportunidades, ou seja, abrindo vagas.
O professor da PUC-Rio José Márcio Camargo reconhece que houve avanços na escolaridade dos brasileiros. Porém, "ainda é muito pouco". Em sua avaliação, o nível educacional é extremamente baixo e traz sérias consequências para o desenvolvimento do país.
- Será que essa expansão ocorre rapidamente o suficiente para atender à demanda da economia brasileira? Creio que não. E essa dúvida fica mais forte quando se observa a qualidade do ensino do país - advertiu ele, para quem a rasa taxa de desemprego entre os que têm nível superior indica que a demanda das empresas é superior à oferta de trabalhadores.
Tem a mesma opinião o professor Naércio Menezes Filho, do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa). Para ele, o mercado de trabalho requer mais profissionais de nível superior. Com esse quadro, ele acredita que o país se aproxima do pleno emprego para esses profissionais.
- A baixa taxa de desemprego nessa faixa derruba um mito de que o país formava profissionais de que não precisava, como administradores, pedagogos ou advogados. Essas pessoas estão empregadas, e isso, é claro, mesmo fora da área. É uma realidade para muitas pessoas com diploma universitário que acabam ocupando vagas de nível médio - disse Menezes Filho, acrescentando que a multiplicação de instituições de ensino contribuiu para ampliar o número de formandos no país. - Além, é claro, de programas como Pro-Uni e o Bolsa Família.
Vaga nem sempre é na área de formação
A qualidade do emprego é uma das ressalvas do professor João Saboia, da UFRJ, quando se olha apenas para a taxa baixa de desemprego entre os que têm faculdade no currículo. Ele lembra que muitos profissionais ocupam funções fora de sua área de formação ou aquém de sua qualificação:
- Ainda que praticamente não exista desemprego entre as pessoas com nível superior, não raro vemos profissionais formados ganhando um, dois salários mínimos. De qualquer maneira, as pessoas perceberam que o mercado valoriza o estudo e, nos últimos anos, estão buscando ter mais formação. É uma pena, contudo, que nossas escolas tenham um nível tão baixo.
Com contratações em alta, o Brasil conseguiu, segundo os analistas, reanimar o mercado de áreas que, em muitos anos, ficaram estagnadas. A publicitária Mariana Stutz trabalha como analista de marketing na empresa SH. Começou como estagiária e hoje analista de marketing. Satisfeita com o trabalho e já tendo obtido um salto na remuneração inicial acima de 100%, Mariana pensa em fazer uma especialização.
- O mercado de trabalho está cada vez mais exigente. Precisava de um pouco mais de experiência para fazer um MBA. Já me sinto mais preparada para voltar às aulas em breve. |
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