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sexta-feira, março 11, 2011

BRASIL/CARNAVAL [In:] ''A GENTE MORRE ... NA BR-3" *

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ESTRADAS NUNCA MATARAM TANTO COMO NESTE CARNAVAL


NUNCA SE MORREU TANTO


Autor(es):
Agência o globo: Demétrio Weber,
Cássio Bruno e
Thiago Herdy
O Globo - 11/03/2011

O carnaval deste ano foi o mais violento nas estradas federais, com o maior número de acidentes, mortos e feridos desde 2003, quando a Polícia Rodoviária Federal (PRF) criou um sistema nacional informatizado de coleta de dados. Nessa tragédia do trânsito brasileiro, 213 pessoas morreram e 2.441 ficaram feridas, em 4.165 colisões, apenas nas rodovias federais. Mas a calamidade é ainda maior: também cresceu o número de mortos em estradas estaduais, sem contar em outras vias cujas estatísticas não são divulgadas, sequer contabilizadas.

O balanço da Polícia Rodoviária Federal divulgado ontem cobre um período de seis dias, entre 4 e 9 de março. Em relação ao carnaval do ano passado, todos os indicadores pioraram: o total de vítimas fatais aumentou 47,9%; o de feridos, 27,4%; e o de acidentes, 28,7%.
Por trás da frieza dos números, estão casos como o de um ônibus que se chocou com um caminhão, em Santa Catarina, fazendo 26 vítimas - a 27ª morreu após ser internada no hospital. O acidente ocorreu no sábado, dia 5. A data passou a figurar em outra estatística macabra: com 58 óbitos, é agora o quinto dia com maior registro de mortes nas estradas federais, desde 2003.
- É uma sensação de derrota. Você mobiliza nove mil homens, cancela folgas, e morrem 213 pessoas. É o mesmo que um avião cheio - disse o coordenador de Controle Operacional da PRF, Giovanni di Mambro. - E só tem repercussão porque é carnaval. Mas acontece todo dia.

A falta de campanhas educativas, a má conservação das estradas, a imprudência dos motoristas, a impunidade e o aumento do fluxo de veículos são fatores que fazem explodir essa tragédia nacional, que mata mais do que guerras e grandes catástrofes naturais.


"O trânsito no Brasil é uma bomba"

Com 16 mortes, o Rio de Janeiro foi o quarto estado em número de óbitos nas rodovias federais. Santa Catarina registrou a maior quantidade - 36 -, seguido por Minas Gerais (29) e Bahia (17). Goiás, Paraná e Pernambuco tiveram 12 vítimas fatais cada. Mas estes números não incluem as mortes nas estradas estaduais.

No Paraná, as mortes ao volante subiram de 15, em 2010, para 21 este ano, segundo o Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual. As vítimas fatais em rodovias estaduais cresceram ainda em Santa Catarina: balanço da operação carnaval feito pelo Batalhão de Polícia Militar Rodoviária mostra que foram oito mortes este ano contra seis no ano passado, só nas estaduais. Situação parecida na Bahia, que também registrou aumento de mortes nas estaduais.

Pelo menos 45 pessoas morreram em acidentes em Minas Gerais, a maioria delas em estradas sob jurisdição da União (29) e o restante em rodovias administradas pelo governo estadual (16). O estado tem a maior malha federal e costuma ser ter o maior número de vítimas fatais em feriados, mas este ano foi superado por Santa Catarina por causa do acidente que matou 27 no Sul.

No Rio, apesar de as mortes terem diminuído nas estradas estaduais, os acidentes subiram no feriado. De acordo com a PM, as estradas estaduais tiveram 195 acidentes, com cinco mortes, além de 76 feridos. Em 2010, foram 148 acidentes, com 66 feridos e dez mortes. Nas vias expressas - Linha Vermelha, Linha Amarela e Avenida Brasil -, contabilizadas separadamente, a PM comunicou 90 acidentes, com três mortes, contra 45 colisões, em 2010, sem óbitos.

Nas rodovias federais, a Polícia Rodoviária condenou a imprudência dos motoristas brasileiros, seja por excesso de velocidade, ultrapassagens arriscadas ou simples desatenção. A PRF considera a imprudência como principal causa do problema e não vê perspectiva de melhora, sem uma ação integrada de diferentes órgãos do governo, além da mudança de postura dos condutores.

- Podemos ter as estradas melhores do planeta, podemos ter o maior efetivo (de policiais rodoviários) por habitante do planeta, mas, se o cidadão não fizer a sua parte, se não conduzir com responsabilidade, o número continuará sendo alto - disse o coordenador-geral de Operações da PRF, inspetor Alvarez Simões. - O ponto principal é educação.

A PRF critica a legislação que impede a instalação de radares eletrônicos sem aviso aos motoristas. O argumento é que a existência de placas alertando sobre a presença de radar leva os motoristas a reduzirem a velocidade só no ponto de fiscalização e não em todo o deslocamento.

O coordenador Simões defendeu o fim da exigência. A PRF dispõe de 580 radares móveis.

- A legislação trabalha a favor do infrator - disse Simões.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) promete instalar 2.696 dispositivos eletrônicos fixos até 2012, sendo 1.100 radares fixos, 1.130 lombadas eletrônicas e 466 controladores de avanço de sinal vermelho.

Simões apontou outros vilões: o aquecimento da economia, responsável pelo aumento do fluxo de veículos em até 50%, especialmente em rodovias que ligam o interior ao litoral; o fato de que a maior parte dos 66 mil quilômetros de estradas federais têm pista simples, o que requer maior atenção; a chuva; e até mesmo a melhor qualidade das estradas.

- Ao contrário do que muita gente pensa, estrada melhor não significa menos acidente. Estrada melhor convida as pessoas a usá-las - disse Simões, para quem o problema da bebida ao volante atinge mais as áreas urbanas e não tem peso nas estatísticas de mortes nas estradas.

O presidente do Movimento Nacional de Educação no Trânsito, Roberto Bentes de Sá, classifica o trânsito como uma bomba que tende a ficar cada vez pior se os governos não mudarem leis e colocarem em prática regras mais rígidas:

- O trânsito é uma bomba composta pela impunidade, falta de fiscalização, motorista que não sabe dirigir na estrada, sistema rodoviário que não se moderniza. E tende a piorar. O governo deve tomar uma decisão.
Bentes de Sá lembra que são 40 mil mortes por ano no trânsito, sem contar quem morre nos hospitais. E mais de 100 mil que ficam com sequelas:

- É a impunidade, pois o motorista provoca acidente, mata, paga fiança e arruma um advogado renomado, que inventa factoide, para nunca ser condenado - argumenta. - O Brasil precisa se inspirar em outros países onde as leis são feitas para serem cumpridas, sem brechas. Nunca foram regulamentadas a inspeção veicular nem a educação de trânsito nas escolas do Código de Trânsito Brasileiro.

Bentes de Sá afirma que o motorista no Brasil não sabe dirigir em estradas. E precisa mudar a cultura no trânsito, que é com a a educação nas escolas.

- O motorista aprende a dirigir na cidade e quando tem a carteira na mão vai para as rodovias. O ambiente é muito diferente.

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(*) BR-3 (Tony Tornado).

"... Há um sonho
Viagem multicolorida
Às vezes ponto de partida
E às vezes porto de um talvez
E a gente corre na BR-3
E a gente morre na BR-3..."

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