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sexta-feira, março 04, 2011

GOVERNO DILMA/CONSUMO [In:] ''PISA NO FREIO, ZÉ..." *

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APÓS RECORDE NO PIB, DILMA SEGURA CONSUMO


AGORA, GOVERNO TENTA CONTROLAR A GASTANÇA


Autor(es): Gabriel Caprioli
Correio Braziliense - 04/03/2011

A economia brasileira registrou, no último ano do governo Lula,um crescimento que não era visto desde 1986. Puxado pelo consumo das famílias, o Produto Interno Bruto (PIB) saltou 7,5% em 2010, índice inferior apenas ao desempenho da China (10,3%) e da Índia (8,6%) e bem acima da média mundial, de 5%. O bom resultado não deve se repetir, entretanto. O cenário deste ano aponta para juros em alta, crédito mais caro e pressão inflacionária.
A estratégia do governo da presidente Dilma Rousseff consiste em conter a onda consumista sem prejudicar em demasia o ritmo da produção. Dominique Strauss-Kahn, diretor-geral do Fundo Monetário Internacional, elogiou o resultado do PIB, mas alertou para as medidas necessárias a fim de evitar o superaquecimento da atividade econômica.“É chegado o momento de desacelerar a economia”, afirmou, após encontro com a presidente no Planalto.


Dados do IBGE mostram segunda queda trimestral nos desembolsos públicos. Ainda assim, houve alta de 3,3% em 2010


No último trimestre de 2010, as despesas da administração pública — principal instrumento utilizado pelo governo para inflar as contas nacionais até o primeiro semestre do ano passado — recuaram pela segunda vez consecutiva. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os desembolsos no período caíram 0,3%, após queda nos três meses anteriores. O resultado reflete o esforço do governo em conter a gastança promovida durante a crise financeira internacional — na época, uma tentativa de manter a economia nos eixos. Mesmo com o recuo na segunda metade do ano, o consumo da União cresceu 3,3% no ano, na comparação com 2009.

O ritmo médio de expansão dos gastos de 1,3% por trimestre, observado pela Consultoria LCA entre a segunda metade de 2009 e o primeiro semestre do ano passado, só foi interrompido com a preocupação da equipe econômica em relação ao aumento da inflação. “Quando você tem um avanço anual de preços acima de 5%, o perigo da indexação, comum antes do Plano Real, começa a assombrar a economia novamente”, explicou o professor de finanças da Business School São Paulo (BSP) Daniel Miraglia. A seu ver, o governo federal não tem outra escolha a não ser apertar o cinto e conter os gastos.

Insustentável
“O Banco Central age de um lado, aumentando os juros e determinando menor consumo e menor investimento. Para a formação do PIB e o controle da inflação, só fica faltando a redução dos gastos públicos”, ponderou Miraglia. Na sua opinião, a redução do consumo governamental deve manter a trajetória de queda. Aos olhos do economista, o crescimento de 7,5% é insustentável, porque está acima do potencial possível (de 4,5%), ou seja, aquele sem riscos de gerar inflação. “Se o governo quer de fato manter o crescimento, vai reduzir ainda mais seu consumo”, completou.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reforçou o compromisso, encampado pela presidente Dilma Rousseff, ao destacar o recuo no último trimestre dos gastos públicos. “Os dados mostram que a queda na despesa do setor público já começou em 2010 e vai continuar em 2011. Significa que estaremos gerando mais poupança e, consequentemente, viabilizando mais investimentos”, afirmou. A taxa de poupança bruta em 2010 aumentou de 14,7% para 16,5%, apesar de ter ficado abaixo dos 18,8% de 2008.

"O Pibão foi bão"


Leandro Kleber


O anúncio oficial do crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 deixou a presidente Dilma Rousseff de bom humor ontem no Palácio do Planalto. Aproveitando a boa notícia do dia pela manhã, a petista chegou a conversar com os jornalistas por alguns minutos pela primeira vez no Planalto desde que assumiu a Presidência em 1º de janeiro. “O pibão foi bão”, brincou Dilma.

Ela afirmou que já esperava um crescimento elevado do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado e avaliou o 7,5% como um número “bastante razoável”. “A gente deve saudar os 7,5%. Acredito que isso mostra que o Brasil tem capacidade de crescer a essas taxas”, disse. Porém ela lembrou logo em seguida que nos próximos anos o PIB irá crescer a percentuais mais baixos e que o controle da inflação é uma das principais metas do governo.

Na visão de Dilma, a economia deverá se expandir nos próximos anos, “tranquilamente” e de maneira sustentável e permanente, com percentuais de 4,5% a 5%. Mas os ventos mundiais também terão de ajudar para que isso ocorra. “Obviamente a gente espera que o mundo não crie turbulências nem marolas”, afirmou, em referência à expressão usada pelo ex-presidente Lula ao comentar que a crise financeira mundial de 2009 chegaria ao Brasil como uma “marolinha”.

“O Brasil pode crescer porque ampliamos a capacidade do país crescer. Quando você investe, consegue fazer com que o país aumente o seu dinamismo e crie condições para que ele se expanda. E é isso que estamos procurando. Quanto maior o investimento, maior a capacidade que teremos de crescer com estabilidade, crescer mantendo a inflação sob controle”, destacou.

E é justamente a inflação que preocupa a equipe econômica. Com carta branca, o Banco Central segue aumentando a taxa básica de juros para conter o aumento do consumo e, assim, reduzir a alta nos preços. “Com um olho vamos olhar para a questão da estabilidade. Com o outro, vamos olhar para a questão da ampliação dos investimentos. Um dos mecanismos eficazes e estruturais de combate à inflação é a capacidade do país crescer”, afirmou Dilma.

A avaliação no Planalto é de que o Brasil precisa ter consolidação fiscal para manter o domínio da inflação. A presidente fez questão de dizer, ainda, que o controle da inflação foi uma conquista da população. “Não vamos, de maneira alguma, deixar a inflação fora de controle”.


À frente de britânicos e franceses


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, aproveitou a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) de 7,5%, registrado em 2010, para defender a ideia de que o avanço da economia, como não se via há 24 anos, deu aos brasileiros poder de compra maior que o de britânicos e franceses. Pelo cálculo que desconsidera a variação do câmbio, conhecido como paridade pelo poder de compra (PPP), o resultado do crescimento econômico do ano passado colocou o país à frente das duas potências europeias.

“Fazendo uma conta aproximada, atingimos um PIB de US$ 2,1 trilhões (R$ 3,6 trilhões). Se, de fato, alcançamos US$ 2,1 trilhões, teremos superado a França e o Reino Unido em PIB PPP. Mas isso é um dado preliminar, precisa ser confirmado”, afirmou. O cálculo oficial em dólares é feito pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

Outros membros da equipe econômica também se apressaram em apontar, em relação ao resultado do PIB, pontos favoráveis ao governo. Para o presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, o avanço confirma que, após recuperar-se da crise, a economia brasileira entrou em novo ciclo de expansão. “A demanda doméstica continuou sendo o grande suporte da economia, com o consumo das famílias registrando crescimento de 7%, que tem sido impulsionado pelo crédito, pelo emprego e pela renda.”

Até o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que ocupou a pasta do Ministério do Planejamento durante o governo Lula, considerou o resultado “extraordinariamente positivo”. Bem-humorado, repetiu a expressão utilizada anteriormente por Mantega. “Desta vez, foi um ‘pibão’ de fato. Fora isso, só nos anos 1970, no regime militar.” Para Bernardo, o desempenho decorre das políticas do governo Lula, que priorizaram os investimentos e reforçaram o mercado interno. (GC)

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(*) Frase de música do ''sertanejo moderno''.
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