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quarta-feira, maio 04, 2011
TRT/LUIZ ESTEVÃO [In:] SALDO SUPERAVITÁRIO ...
ESCÂNDALO DO TRT: LUIZ ESTEVÃO PODE SAIR NO LUCRO
VAI SAIR BARATO |
Autor(es): » Paulo Silva Pinto e Ivan Iunes |
Correio Braziliense - 04/05/2011 |
Dono de fortuna que avalia em R$ 20 bilhões, ex-senador se propõe a pagar dinheiro desviado de obra caso tenha bens desbloqueados. Nove anos depois, Luiz Estevão quer pagar a dívida pelos desvios na obra do TRT-SP. A ideia é desembolsar R$ 465 milhões em prestações mensais de R$ 2 milhões, equivalente ao que o senador cassado lucraria por dia com o desbloqueio dos bens. Para a União, porém, o valor atualizado é R$ 1,1 bi Estevão declarou formalmente à Advocacia-Geral da União (AGU) o desejo de quitar a fatura. Segundo ele, a quantia atualizada é R$ 464.814.726,83 — de acordo com a AGU nunca um valor tão alto foi ressarcido à União. “Hoje chegamos à convicção de que é mais barato, mais conveniente encerrar a discussão”, diz Estevão em entrevista ao Correio, sentado em uma cadeira de couro no escritório de um de seus advogados, Marcelo Bessa, que se espalha por uma casa na Península dos Ministros, a QL 12 do Lago Sul. Pagar, para Estevão, não significa reconhecer a culpa. “Não tenho nenhuma relação com a obra do TRT.” O Ministério Público discorda, elencando provas de que a Incal, construtora do prédio, agia em nome do Grupo OK, de Luiz Estevão, na obra. Mas então por que pagar? “Não quero ficar mais 10 anos nessa briga.” Com todas as possibilidades de recursos judiciais, a discussão, iniciada há uma década, vai consumir outra. O problema é que há discordância de valores. Luiz Estevão usa em suas contas a Selic não capitalizada, que reajusta dívidas com a União. Mas a AGU tem outra conta, na qual a dívida é corrigida pela inflação mais juros, que variam conforme a data, resultando em R$ 1,1 bilhão. O advogado Marcelo Bessa afirma, porém, que será fácil derrubar esse fator de correção. “Há jurisprudência demonstrando que é errado usá-lo”, diz. O incentivo para Estevão buscar um acordo sobre os valores é grande. Há 1.255 imóveis do Grupo OK em Brasília bloqueados pela Justiça, como garantia do pagamento da dívida, a maior parte desde o ano 2000 — isso inclui um terço do shopping Iguatemi, no Lago Norte. A inflação acumulada pelo IPCA é de 120%. Mas os imóveis residenciais do Plano Piloto ficaram aproximadamente 600% mais caros no período (o cálculo do Correio considera um conjunto de imóveis anunciado na época e outros semelhantes anunciados recentemente). O ex-senador afirma que tudo o que tem hoje vale R$ 20 bilhões, ou US$ 12 bilhões, sem detalhar de quanto é a participação dos imóveis e dos outros negócios, que incluem fazendas de soja, concessionária de veículos e outras empresas. Tal valor faz dele o terceiro homem mais rico do Brasil, perdendo apenas para os empresários Eike Batista e Jorge Paulo Lemann (veja quadro abaixo). Estevão pretende multiplicar rapidamente esse patrimônio. Com a construção de edifícios residenciais e a venda de apartamentos, ele afirma que é possível lucrar R$ 800 milhões por ano nos próximos seis anos, o que vai resultar em R$ 4,8 bilhões no período. É muito mais do que o rendimento atual do Grupo OK, em cerca de R$ 120 milhões. Pelas regras do bloqueio judicial em vigor, ele pode alugar os imóveis que já possuía, ou mesmo construir novos imóveis em seus terrenos e locá-los, o que dá menos lucro, porém, do que a construção para venda. Além de render menos, o aluguel traz outro problema: uma parte cada vez maior do que entra é também bloqueada pela Justiça. Atualmente, dos R$ 120 milhões, 25% viram depósitos judiciais. O estoque de depósitos acumulados desde 2000 é de R$ 80 milhões. Abatendo-se isso da dívida calculada por Luiz Estevão, chega-se em R$ 384 milhões.
Troca por imóveis A AGU acusa Estevão de tentar driblar a proibição imposta a ele de contratar com a administração federal por meio das firmas — ele nega estar proibido de firmar contratos com a União. Desde 2008, a Inovar e a LCC receberam R$ 53,8 milhões da União por aluguéis de prédios na parte central de Brasília. A Data ainda aluga um edifício ao GDF por R$ 350 mil mensais.
As acusações resultaram em uma ação penal e uma ação civil pública, ambas na Justiça Federal em São Paulo. Na área cível, há também uma ação de execução em Brasília que tem origem em condenação do Tribunal de Contas da União (TCU), usando como valor base os mesmos R$ 169,5 milhões que constam na ação civil pública. Na área penal, Luiz Estevão foi condenado a 31 anos de prisão pela Justiça Federal em São Paulo pelos crimes de peculato, estelionato, corrupção ativa, uso de documento falso e formação de quadrilha. No ano passado, o empresário pediu anulação da sentença ao Superior Tribunal de Justiça, que decidiu, porém, por sua manutenção. Ainda cabem recursos da decisão ao próprio STJ e ao Supremo Tribunal Federal (STF). As ligações entre o Grupo OK e a construtora Incal foram reveladas na CPI do Judiciário em 1999. Em junho de 2000, Luiz Estevão teve cassado o mandato de senador por 52 votos. Votaram em sua defesa 18 senadores e 10 se abstiveram. TCU terá que avalizar O pedido de parcelamento da dívida foi formulado por Estevão e entregue à AGU no final do ano passado. O advogado-geral da União, Luiz Adams, recebeu o ex-senador por três vezes e decidiu pedir um parecer do TCU sobre o caso. O procurador do Ministério Público no tribunal, Marinus Marsico, pediu que o relator negue a proposta. “Reduzir dois terços da dívida em uma canetada seria destruir o trabalho de uma década feito pela AGU para recuperar esse dinheiro. Será catastrófico para a administração pública e poderia se transformar em um modelo a ser seguido por todo mundo que fraudou o erário”, reclama Marsico. De acordo o procurador, o grau de recuperação atingido pela AGU nos últimos anos é superior a 100%, o que significa dizer que o órgão tem conseguido reaver os débitos atuais, mais os pendentes de anos passados. A AGU admite que está avaliando os imóveis locados por Luiz Estevão à União para abatimento da dívida, calculada pelo órgão em R$ 1,1 bilhão. “Quando o débito é transferido para a Procuradoria- Geral da Fazenda Nacional, o retorno não chega a 3%. O espírito do Refis não é o de perdoar ou refinanciar condenados por desvios de recursos públicos”, diz Marinus. O próprio procurador do TCU admite que o valor de R$ 1,1 bilhão calculado para a dívida de Estevão tem índices de correção muito acima dos praticados pelo mercado. Uma diminuição do valor do débito, no entanto, deveria ser discutida com a AGU, sem o parcelamento ou cálculo proposto pelo empresário. (II e PSP) |
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