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quarta-feira, outubro 10, 2012

... ATÉ TÚ, ''CUMPANHÊRU" ?



Para Campos, julgamento terá 'importância histórica'


Autor(es): Por Murillo Camarotto
Valor Econômico - 10/10/2012
 
Um dos principais defensores do governo federal durante o ápice do escândalo do mensalão, em 2005, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), disse ontem que o julgamento "vai ter uma importância histórica". Em entrevista a uma rádio do Recife, Campos afirmou que o julgamento precisa ser encarado com naturalidade, pois atesta que o Brasil "se institucionalizou e conquistou a democracia".
A declaração vem três meses após a mãe do governador, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes ter julgado regular um contrato de R$ 153 milhões firmado em 2003 entre o Banco do Brasil e a DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério. A decisão da ministra, revogada dias depois pelo próprio TCU, beneficiava Valério e o ex-diretor do BB Henrique Pizzolato, acusados de terem desviado valores referentes ao contrato.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República, Valério se apropriou, com a conivência de Pizzolato, de R$ 2,9 milhões em bônus pagos pelos órgãos de comunicação onde a propaganda do BB foi veiculada. Com base em uma lei sancionada em 2010, Ana Arraes considerou legítimas as operações, mas a decisão foi contestada pelo procurador do TCU, Julio Marcelo Oliveira, cujo recurso foi acolhido pelo ministro Aroldo Cedraz.
A chuva de críticas ao relatório de Ana Arraes acabou respingando no governador, tido como um dos principais aliados do ex-presidente Lula. A proximidade entre os dois tem muito a ver com a crise do mensalão. Com trânsito privilegiado no Congresso, o então deputado federal Eduardo Campos foi um dos que mais ajudaram o governo a jogar água na fervura da crise política que se instaurou. Ganhou muitos pontos com Lula, que retribuiu com investimentos em Pernambuco após a eleição de Campos para o governo, em 2006.
Agora, com planos de uma futura candidatura ao Planalto, Campos calibra o discurso sobre o mensalão. "Esse é um julgamento que tinha que vir. Era inexorável. Havia um processo e o Supremo tinha que fazer o julgamento", disse o governador. Ele pondera, no entanto, que os ministros do STF devem ter condições de julgar com "isenção e técnica", e que deve haver coragem de condenar, mas também de absolver.
Personagem mais célebre do mensalão, condenado ontem por corrupção ativa, o ex-ministro José Dirceu desferiu muitas alfinetadas em Campos durante a campanha eleitoral. Em seu blog, Dirceu criticou o rompimento da aliança PT-PSB no Recife e em Fortaleza e acusou Campos de tentar enfraquecer o PT no Nordeste para gabaritar-se à corrida presidencial de 2014.
Campos não respondeu. Apesar de toda a celeuma causada pelo mensalão, ele acredita que o pior já passou e que o episódio não deve influenciar significativamente o segundo turno das eleições. O governador concorda com uma pesquisa realizada em setembro pelo Datafolha, que apontou que menos de 20% dos eleitores de São Paulo mudariam o voto por conta do mensalão. Nos bastidores, Campos tem utilizado um jargão financeiro para tratar do caso: "É prejuízo realizado".

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