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segunda-feira, fevereiro 18, 2013
ARGENTINA: " DÉJÀ VU ''
18/02/2013 | |
Congelamento é arma de Cristina para conter salários
Por César Felício | De Buenos Aires
A contenção dos reajustes salariais é o principal objetivo do congelamento de preços em supermercados por dois meses na Argentina.
A maioria das categorias representadas pelos mais fortes sindicatos começa a negociação entre março e abril e deve homologar seus acordos entre o segundo e o terceiro trimestre do ano.
Como hoje a Argentina conta com cinco centrais, a radicalização das reivindicações cresceu. Mesmo a facção governista da central CGT, comandada pelo metalúrgico Antonio Caló, defende 25% de reajuste como piso para os aumentos a serem negociados nos próximos meses. O chefe da CGT oposicionista, o caminhoneiro Hugo Moyano, que lançou um partido político, defende 30% como piso.
A primeira grande rodada já está em curso: os professores da rede pública recusaram uma proposta de reajuste de 22%.
"Um aumento salarial médio 5% acima da inflação real do ano passado significa 2,5 pontos percentuais a mais de inflação neste ano. Essa é a única âncora que restou para conter uma escalada inflacionária. O governo teve que reajustar tarifas públicas para conter gastos com subsídios e não tem como manter o dólar subvalorizado por tempo indefinido", comentou Marina dal Poggetto, economista da consultoria Estudio Bein.
Este ano ocorre eleições parlamentares no país e desapareceu em 2012 uma das fortalezas do governo: o superávit primário. Mesmo com o uso de recursos do Tesouro para pagar gastos correntes, houve déficit fiscal de 0,4%.
Até o ano passado, a inflação real da ordem de 25% ao ano na Argentina, cerca de duas vezes e meia o número oficial, não causava desgaste para o governo. A forte expansão da economia permitiu aumentos salariais que seguiram a evolução de preços. As empresas repassaram o aumento de custos para o consumidor, sem que a demanda se retraísse.
O esfriamento da economia em 2012 fez com que as negociações salariais se tornassem difíceis e a média dos aumentos ficou em 25%, perto da inflação real, mas dez pontos percentuais a menos do obtido em 2011.
O poder de compra do salário mínimo começou a diminuir em itens básicos. Em dezembro de 2010, o jornal governista "Página 12" publicou um artigo dos economistas Ivan Heyn e Julian La Rocca para comprovar que o salário mínimo argentino tinha mais peso no supermercado do que o brasileiro, o chileno ou o uruguaio. Catorze meses depois, a variação percentual em itens como ovos, açúcar e batatas superou 100%, enquanto o reajuste salarial outorgado pelo governo foi de 65%. A inflação oficial variou 22,8%. Fevereiro e março é a época em que a defasagem salarial está no auge. "Os salários estão desalinhados porque refletem as negociações do ano anterior", disse Dal Poggetto.
Nos últimos meses, a inflação ganhou força entre as preocupações do eleitorado. Segundo pesquisa do instituto Management & Fit, a alta de preços passou de 16,4% para 21,9% como principal preocupação dos entrevistados. Foi a única variável com alteração relevante entre agosto e o final de janeiro e passou o desemprego como segundo maior temor.
"Como o governo divulga um índice de inflação irreal, consolida a impressão de que não está agindo. A informalidade desse congelamento diminui a confiança da população em sua eficácia", afirmou a diretora da empresa de pesquisa, Mariel Fornoni.
O congelamento administrado pelo secretário do Comércio Guillermo Moreno, em relação ao qual nem a presidente Cristina Kirchner nem qualquer outro integrante de sua equipe fez comentários, não é a única medida que o governo tomou para diminuir a pressão sindical. Há duas semanas, a presidente reajustou a tabela do imposto de renda, inalterada desde 2011, diminuindo o desconto na fonte do assalariado.
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