Pode-se deduzir que ela se traiu ao legitimar o vale-tudo na disputa pelas
urnas, quanto mais não fosse porque é assim que o seu mestre opera. Mas pode
ser também que o diabo entrou na história apenas porque a discípula, diria
aquele, "forçou a barra", na ânsia de ser coloquial e aparentar
sintonia com o léxico de sua plateia. Prova disso, decerto, foi ela incluir o
desfrute de "uma cervejinha" entre as alegrias de quem passa a morar
em casa própria - puro Lula.
De todo modo, a questão de fundo é mais grave. Suponha-se que Dilma tivesse
conseguido morder a língua a tempo, guardando-se de invocar o tinhoso e
poupando-se de ganhar, pelo avesso, as manchetes da imprensa. Não faria a menor
diferença para o fato de que, sob a batuta de Lula, o "presidente adjunto",
na precisa qualificação do seu antecessor Fernando Henrique, ela faz o diabo
para permanecer por mais quatro anos no Planalto.
Não é preciso ser o provável candidato presidencial da oposição, o senador
Aécio Neves, para constatar que Dilma "não está de olho em 2013, mas na
reeleição em 2014". Mesmo no Brasil, onde as campanhas começam na prática
muito antes do que admitem as regras da Justiça Eleitoral, foi acintoso Lula
lançar a recandidatura Dilma em fevereiro último, a um ano e sete meses do pleito.
Desde que lhe passou a faixa, ele só desceu do palanque reeleitoral quando a
saúde o impediu. Em seguida, tendo recebido alta, o adjunto precisou trabalhar
em dobro para correr atrás dos prejuízos do desastroso governo da pupila, que,
entre outras consequências, produziu o pibinho de 0,9% no ano passado.
Orientou-a, de um lado, a ouvir as elites empresariais e, de outro, a circular
pelo País para que o povo - o mesmo que aprova o seu desempenho, graças ao
binômio emprego e renda, mas está pronto a cantar "Lula lá" a
qualquer momento - não a perca de vista.
O que o eleitorado lulista-dilmista ainda não consegue vislumbrar é o nexo
entre a absoluta prioridade dada pela dupla ao segundo mandato dela e a
incontida sequência de desastres da atual gestão.
A esta altura, para as
parcelas mais bem informadas da população, já há de estar claro que estes
descendem daquela em linha direta. Não é a incompetência que permeia o
Executivo federal, a começar de sua titular, a causa primeira da disfuncional
administração Dilma.
A incompetência se dissemina pela estrutura do poder
porque ela está infestada de quadros despreparados, que só ocupam os lugares
com que foram aquinhoados para garantir em 2014 uma coligação eleitoral ainda
mais enxundiosa, se possível, do que Lula montou para a apadrinhada em 2010. E
pelo mesmo motivo, ainda que o quisesse, Dilma não se atreveria a empreender
uma faxina técnica no governo.
Além disso, ela se especializou em tomar decisões eleitoreiras por atacado. É o
caso, para citar apenas as mais recentes, da apregoada extinção da
"miséria visível", no jargão oficial, para garantir a fidelidade do
voto pobre. Ou a espantosa dispensa do conhecimento dos idiomas dos países onde
pretendem estudar os candidatos do agigantado programa Ciência sem Fronteiras,
para agregar à clientela eleitoral da presidente a classe média monoglota.
Dilma está pronta para tomar medidas populares a torto e a direito, indiferente
ao efeito bumerangue de muitas delas. Já as outras, benéficas mais adiante, nem
pensar. Ao diabo com o interesse nacional!
------
Nenhum comentário:
Postar um comentário