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segunda-feira, junho 17, 2013
O SONHO QUE VIROU PESADELO
Habitação: Casa própria mais longe da classe C
Nova classe média distante do imóvel |
Correio Braziliense - 17/06/2013 |
A compra das unidades de R$ 200 mil exige entrada de R$ 40 mil e prestações de R$ 2 mil, o que dificulta o acesso da nova classe média ao financiamento, mesmo facilitado por programas do governo.
Empreendimentos com unidades de R$ 200 mil, que esgotavam no lançamento, agora levam mais de um ano para alcançar 70% de vendas. Entrada de R$ 40 mil e prestações de R$ 2 mil inviabilizam o financiamento para a maior parte das famílias
Realizar o sonho da casa própria voltou a ficar difícil no Brasil, principalmente para a nova classe média. Endividadas e com o poder de compra corroído pela inflação, famílias não estão conseguindo arcar com os financiamentos, mesmo com a ainda abundante oferta de crédito imobiliário.
Quando simulam formas de pagamento, compradores têm se deparado com valores de entrada impraticáveis e prestações que não mais se encaixam no orçamento já bastante comprometido.
Imóveis avaliados em até R$ 200 mil, incluindo os que envolvem programas habitacionais do governo, exigem desembolso imediato de pelo menos 10% do valor total. Ainda que as condições oferecidas pelos bancos sejam muito melhores se comparadas com épocas anteriores, o atual cenário econômico apertou as contas das famílias, adiando por tempo indeterminado os planos de se livrar do aluguel.
Empreendimentos populares antes viabilizados no lançamento ou em no máximo dois meses, agora levam mais de um ano para terem 70% das unidades comercializadas. "Para o mercado, o principal ponto de alerta hoje é o endividamento das famílias", atesta o diretor da Associação Brasileira de Mercado Imobiliário (Abmi), Pedro Fernandes, antes de ponderar que a oferta de imóveis se mantém alta, o que também contribui para diminuir a velocidade de vendas.
Perda de rendaOs programas do governo continuam atraindo as classes mais baixas, sublinha Fernandes, mas a desaceleração da massa salarial real prejudicou o segmento. "Renda as pessoas têm, mas como estão endividadas não conseguem viabilizar a compra", comenta. O ideal, segundo especialistas, é que as parcelas do imóvel não comprometam mais do que 30% da renda familiar, além de ter metade do valor do bem depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ou em outras aplicações.
A pensionista Antônia Aparecida Lemos Neto, 59 anos, foi contemplada com o programa Morar Bem, do Governo do Distrito Federal (GDF), mas a dificuldade de pagar a entrada a impediu de agarrar a oportunidade. "Além de não poder ter outro bem financiado, tinha que pagar R$ 32 mil de sinal", detalha ela, que ainda precisaria arcar com mensalidades de R$ 2 mil por uma casa orçada em R$ 200 mil no condomínio Jardins Mangueiral.
Empolgada com a chance de comprar o imóvel, Antônia levou dois meses para reunir toda a papelada necessária, antes de constatar que não seria possível dar continuidade ao processo. "Não deu certo e ainda gastei R$ 200 para juntar todos os documentos", reclama ela, que diz não perder a esperança da casa própria. "Espero encontrar uma residência cujo valor de entrada seja compatível com meu orçamento", completa.
O presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Distrito Federal (Ademi-DF), Adalberto Valadão, observa que o crescimento da inadimplência leva os bancos a, naturalmente, ficarem mais rígidos nas análises de crédito. Mas, desta vez, avalia ele, o cenário econômico exerceu um peso maior para arrefecer as vendas no segmento popular. "As pessoas estão demorando mais para decidir pela compra", afirma.
As prestações de até R$ 1,5 mil não seriam o principal problema do bombeiro militar Michael Ferreira Moura, 25 anos, que espera não demorar a comprar a primeira casa. "Difícil é ter R$ 18 mil para dar de entrada", lamenta ele, que confessa não ter condições de, atualmente, encarar o financiamento do imóvel estimado em R$ 180 mil. Por enquanto, Moura terá de garantir o aluguel no Guará — R$ 600 por mês —, onde mora com a noiva.
Para conquistar a casa própria, o bombeiro trabalha com um planejamento financeiro para os próximos 15 meses. Ele tem separado todo mês cerca de R$ 800 do salário, para conseguir juntar o valor da entrada: 30% ele aplica na poupança e o restante é investido na compra de bezerros, em um negócio da família que ele considera rentável. "Meu tio fazendeiro identifica a oportunidade, cuida do gado e eu entro com o dinheiro", conta.
CautelaO consumidor está desconfiado e cauteloso, reforça o sócio-diretor da Apex Engenharia, Eduardo Aroeira. "Ninguém quer se endividar mais neste momento", comenta o empresário, que aposta em retomada do ritmo de vendas à medida que o estoque de unidades no mercado vá diminuindo. "Enquanto houver muita opção, ainda que esteja com renda livre, o cliente tende a ficar na expectativa de encontrar algo melhor e, por isso, adia a compra", argumenta.
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