Roldão Arruda, Isadora Peron e Fernando Gallo - O Estado de S. Paulo
Na Avenida Paulista, ponto central da manifestação na capital, os presidentes das nove centrais que organizaram o ato cumpriram o acordo feito na véspera: evitaram ontem ataques diretos ao governo da presidente Dilma Rousseff, para não engrossar o coro dos que defendem o “Fora, Dilma”, e fugiram de temas polêmicos da conjuntura política, como o plebiscito e a reforma política propostos pelo Executivo como uma forma de responder aos protestos que tomaram as ruas no início de junho.
Nesta quinta-feira, 11, segundo a Polícia Militar de São Paulo, havia 7 mil pessoas na Paulista no pico da manifestação, por volta das 14h. Os organizadores falaram em 20 mil. A Força Sindical usou o termo “milhões”. O contraste com as manifestações espontâneas ocorridas no início de junho, que levou mais de um milhão de pessoas às ruas do País, ficou evidente.
Enquanto os protestos recentes exibiam uma ampla pauta de reivindicações, originada pela redução da tarifa do transporte e passando por uma crítica generalizada à classe política, o ato das centrais foi estruturado a partir de uma pauta trabalhista específica: fim do fator previdenciário, redução da jornada de trabalho e menos terceirização.
CUT x Força.
A harmonia entre as centrais, porém, se limitou aos discursos. Nas entrevistas, os sindicalistas não escondiam suas diferenças. As mais visíveis eram entre Vagner Freitas, presidente da CUT, ligada ao PT, e Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, deputado federal e presidente da Força Sindical, ligada ao PDT.
“Não vou defender um governo que tem pisado na bola com os trabalhadores”, disse Paulinho aos jornalistas.
“Alguns utilizam a questão dos trabalhadores porque têm outros interesses: é deputado federal, quer construir outro partido político e quer fazer o enfrentamento de 2014 já em 2013”, retrucou Freitas.
A ênfase dos discursos ficou na crítica à política macroeconômica do governo e na defesa da pauta de reivindicações comum às centrais, da qual fazem parte a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário. A alta de juros, usada pelo governo como arma contra a inflação, foi atacada. “É uma sangria na classe trabalhadora”, disse o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio dos Santos Neto. “Não é possível o governo destinar uma montanha de dinheiro para pagar os juros da dívida pública”, seguiu Vagner Gomes, da CTB.
Público apático.
Todos ameaçaram Dilma, de forma mais ou menos enfática, com a possibilidade de greve geral. “Se a Dilma não ceder, o pau vai comer”, bradou Ubiraci Dantas de Oliveira, o Bira, da CGTB.
Os brados de guerra dos líderes não encontravam repercussão na plateia. A maioria das pessoas não prestava atenção, não aplaudia, não vaiava, não puxava refrões. A exceção eram pequenas claques, que erguiam bandeiras quando seu presidente falava.
Foram duas horas de falas. A abundância de recursos das centrais, garantida pelo imposto sindical, descontado automaticamente do salário de todo trabalhador, era visível nos grandes e coloridos balões, nas faixas produzidas em série, bandeiras, camisetas, bonés e fitas.
Tal riqueza contrastava com a apatia do público.
Uma representante da CUT desfilou durante algum tempo diante do carro de som com um rolo de bandeiras debaixo do braço, procurando militantes para empunhá-las.
Não encontrou.
Foi o contrário do que aconteceu nas manifestações de rua que eclodiram dias atrás. Nelas, na falta de faixas, as pessoas se enrolavam na bandeira do Brasil. Os cartazes eram pobres e, muitas vezes, improvisados na rua.
Na linha de frente, pessoas que tinham de ficar ali, com bandeiras e faixas, disputando espaço, entupiam os ouvidos com chumaços de algodão para amortecer o som. No momento em que foi anunciado o final do ato, a maior parte das pessoas recolheu bandeiras e faixas e saiu, organizada e burocraticamente. Só um pequeno grupo saiu em marcha pela Paulista.
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