Novo fôlego
Ações do grupo EBX sobem após início da reestruturação, com saída de Eike do conselho da MPX
Daniel Haidar, João Sorima Neto
e Danielle Nogueira
MUDANÇA NAS "X"
RIO E SÃO PAULO
O início do processo de reestruturação do grupo EBX deu novo fôlego aos papéis das companhias negociadas na Bovespa. As ações da petroleira OGX registraram a maior valorização, com alta de 20,51% a R$ 0,47.
Outros papéis acompanharam o movimento, como a MMX, de mineração, que subiu 8,52%, a R$ 1,40, e a MPX, de energia, com alta de 10,23%, a R$ 7,13. O mercado reagiu bem ao anúncio de que a empresa de energia receberá um aumento de capital de R$ 800 milhões - que significará a ampliação da fatia da sócia alemã E.ON na empresa. Além disso, a companhia informou ao mercado que Eike Batista não fará mais parte do conselho e que a MPX adotará um novo nome, que deve ser definido até outubro. Já se sabe que a empresa excluirá o "X", letra símbolo dos empreendimentos de Eike.
A medida é o primeiro passo do processo de reestruturação orquestrado pelo BTG Pactual, que consiste basicamente na venda das empresas mais rentáveis e no fatiamento do grupo. A estimativa é que poucos ativos permaneçam sob o guarda-chuva da holding EBX no fim da operação. Caso o processo seja bem-sucedido, significa uma mudança radical no grupo, que cresceu com a perspectiva de operações interligadas entre as companhias.
Fontes que acompanham a operação afirmam que Eike pode vender integralmente suas participações na MPX e na MMX. Após o aporte de capital, a fatia de Eike na empresa de energia deve ser reduzida de 29% para cerca de 24% (caso realmente não compre novas ações).
Estas duas empresas já têm projetos em operação e são consideradas as mais atraentes pelo mercado. A MPX é a companhia com maior valor de mercado no grupo, avaliada em R$ 4,11 bilhões, segundo a Bloomberg, e conta com cinco usinas térmicas em funcionamento. Já a MMX tem como um de seus principais ativos o Porto do Sudeste.
Procurada pelo GLOBO para falar da perspectiva de venda, informou que "está avaliando oportunidades de negócios, incluindo, mas não se limitando, à venda de ações detidas pelo acionista controlador da companhia, assim como de seus ativos". A solução para empresas em fase pré-operacional é considerada mais complexa, de acordo com fontes envolvidas na reestruturação.
Até o momento, a avaliação é que o empresário deve permanecer com companhias como a AUX, de ouro, a REX, de investimentos no setor imobiliário, a IMX, de entretenimento, a CCX, de carvão, e uma participação minoritária na LLX, de logística. Os recursos obtidos com esta estratégia de venda de participações deverão ser usados para quitar dívidas e obrigações da holding EBX.
O processo resultaria no saneamento de dívidas do grupo, e deixaria Eike, ao final, com um patrimônio da ordem de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões. O BTG cancelou recentemente uma linha de empréstimo de US$ 1 bilhão para o grupo, mas nada havia sido desembolsado no período.
envolvimento dos alemães
As negociações para a reestruturação da MPX foram acompanhadas de perto pelo alemão Jorgen Kildahl, que assumiu a presidência do conselho de administração da MPX ontem. Ele era o membro da E.ON. no Conselho, no qual exercia a função de vice-presidente. Kildahl passou os últimos dias no Brasil diretamente envolvido nas negociações com o BTG e embarcou para a Alemanha ontem, no fim da tarde. Após o aumento de capital, a alemã elevará sua participação de 36,2% para 38%, com uma injeção de R$ 366,7 milhões ao preço de R$ 6,45 para cada ação. O executivo deixou claro que sua opção de entrar na MPX tinha como pano de fundo a aposta nos fundamentos da economia brasileira, apesar da desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país) e da alta da inflação. A interlocutores, ele repetia que "nenhum lugar do mundo está 100%".
A multinacional também vai buscar um brasileiro para assumir o conselho. Kildahl demonstrou confiança no corpo técnico da MPX. Dizia que era uma empresa "saudável" e deixou claro durante as negociações que "é preciso separar a empresa do resto do grupo EBX". A ideia é que a empresa tenha um nome próprio e não simplesmente reproduza o nome E.ON.
"A E.ON agradece a grande contribuição de Eike Batista na MPX, tornando-a uma das mais atrativas empresas de energia do Brasil, desde sua fundação em 2001", disse Kildahl, em comunicado.
- É muito importante no processo de tornar a empresa totalmente independente - reforçou o diretor-presidente da MPX, Eduardo Karrer, que será mantido no cargo, segundo o comunicado da empresa, que foi procurada pelo GLOBO, mas evitou se pronunciar a respeito das mudanças.
Minoritária na MPX, a Gávea Investimentos, do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, evitou comentar se compraria novas ações para evitar uma diluição de sua participação na empresa.
- A MPX já passou da fase pré-operacional. Pode ter sido contaminada pelos problemas de outras empresas do grupo - disse Arminio.
Para o analista Gabriel Ribeiro, da Um Investimentos, a reestruturação das empresas e a transformação de Eike Batista em acionista minoritário já era esperada desde que foi firmada parceria estratégica com o banco BTG Pactual para aconselhamento. O analista avalia que os potenciais compradores de outras empresas, como a MMX, de mineração, esperam obter um preço menor pelos ativos.
- Foi o primeiro passo. Além da MPX, a MMX é um bom ativo, que pode ser vendido. A LLX que tem o Porto do Açu, é vista com bons olhos pelo mercado, mas ainda precisa de um volume de investimentos significativo - afirma Ribeiro.
Os papéis de alguns dos bancos credores do grupo EBX também subiram ontem. As ações preferenciais (sem direito a voto) do Itaú Unibanco ganharam 1,26%, a R$ 27,32, enquanto os papéis do BTG Pactual subiram 5,93%, a R$ 27,13.
OSX é exceção, com queda de 8,69%
Os papéis do estaleiro OSX foram a exceção entre as ações do grupo EBX ontem. As ações recuaram 8,69%, a R$ 1,07. Fontes próximas ao projeto de reestruturação afirmam que a empresa deve ser fechada e não descartam a hipótese de uma recuperação judicial. A empresa foi afetada pelo informe ao mercado feito pela petroleira OGX na última segunda-feira. A companhia disse que seu único campo em produção, o de Tubarão Azul, pode parar no próximo ano e declarou que era inviável explorar petróleo em outros três campos. Uma das consequências na revisão de suas projeções, foi o cancelamento de algumas encomendas feitas ao estaleiro e o ressarcimento imediato de US$ 449 milhões à empresa. Com a mudança de cenário, a OGX teve seu rating rebaixado pelas principais agências de classificação de risco e analistas intensificaram as cobranças para que Eike exerça uma opção de compra de ações no valor de US$ 1 bilhão. Fontes que acompanham de perto a reestruturação dizem que, no curto prazo, esta hipótese não está em discussão.
Em comunicado enviado ontem à Comissão de Valores Mobiliários, a empresa afirma não ser totalmente dependente das demandas da petroleira OGX. Ela citou a construção de um navio PLSV para a Sapura e a construção de alguns módulos e integração de duas plataformas FPSO para a Petrobras. A empresa esclarece que não pretende recorrer à recuperação judicial e que seu perfil de endividamento é compatível com seus projetos.
"As obras e equipes necessárias permanecem trabalhando normalmente na execução da Fase 1 do estaleiro, que quando concluída o capacitará a atuar como um dos principais canteiros offshore do Brasil", informa o fato relevante divulgado pelo estaleiro.
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