Governo não se entende sobre salário de cubanos
Ministro e secretário dão declarações divergentes; verba será repassada ao governo de Cuba, que fará os pagamentos
Mais Médicos. Ministro Padilha (de óculos) e Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde
SÃO PAULO e BRASÍLIA
O governo deu ontem informações divergentes sobre o salário que os médicos cubanos vão receber para trabalhar no Brasil pelo programa Mais Médicos. Pela manhã, o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, disse que os médicos cubanos deverão ganhar o mesmo valor que recebem em Cuba.
Médicos cubanos ouvidos pelo GLOBO disseram receber o equivalente a US$ 27 (R$ 60) na ilha.
Mas à noite, em entrevista ao "Jornal Nacional", o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse que os cubanos terão um padrão de remuneração superior ao que têm no próprio país.
- Posso te afirmar, ele (o cubano) terá um padrão de remuneração aqui no Brasil, para além do que pode receber na sua família, que é superior aos enfermeiros, aos técnicos de enfermagem, a agentes comunitários de saúde com quem esses médicos vão trabalhar - disse Padilha.
O salário de um profissional de enfermagem na rede pública do SUS pode chegar a R$ 3 mil. Embora o Mais Médicos vá pagar uma bolsa de R$ 10 mil mensais aos profissionais, no caso dos cubanos o salário é repassado ao governo da ilha, que se encarrega de pagar seus médicos.
Segundo Barbosa, 74% dos cubanos deverão trabalhar nas regiões Norte e Nordeste, em locais que não foram escolhidos nem pelos médicos do Mais Médicos.
- Em relação aos cubanos, é um acordo bilateral que o Brasil está procurando fazer com outros ministérios da Saúde, intermediado pela Organização Pan-Americana de Saúde. O governo brasileiro repassa o recurso para a Organização Pan-Americana, que destina ao Ministério da Saúde (de Cuba), que é quem paga os cubanos. Eles vão receber o mesmo valor que recebem em Cuba - disse o secretário, acrescentando não saber o salário pago.
Barbosa negou que os médicos estrangeiros venham trabalhar em regime de semiescravidão.
- Esses médicos estão vindo voluntariamente e receberão R$ 10 mil livres de qualquer imposto, terão a previdência paga pelo ministério e alimentação e moradia paga pelo município. Dificilmente isso se assemelha à escravidão - disse Barbosa, alegando que há 30 mil cubanos trabalhando em outros países.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, teve que rebater críticas da oposição. Na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) acusou o governo de, a exemplo da Venezuela, promover um escambo de médicos cubanos por investimentos brasileiros no Porto de Mariel, em Cuba.
- Não existe escambo, nem jamais passou pela cabeça de qualquer membro do governo a ideia de escambo por acesso a investimentos. São iniciativas que obedecem a lógicas distintas. A atração de médicos para o Brasil tem a ver com uma carência de médicos para regiões carentes, e alias é uma prática a que muitos países recorrem - disse Patriota, ressaltando que não há viés ideológico na escolha.
Os primeiros 400 médicos podem vir de Cuba em aviões da FAB. A chegada está prevista para este fim de semana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário