Vandalismo e saques em SP
Pelo menos cinco ônibus e dois caminhões foram saqueados e incendiados por vândalos na Rodovia Fernão Dias, na altura de Jaçanã, na zona norte de São Paulo, no começo da noite de ontem. Os atos de violência foram desencadeados no segundo dia de protesto contra a morte do estudante Douglas Rodrigues, de 17 anos, atingido por um tiro disparado por um policial militar durante abordagem. Os manifestantes também depredaram lixeiras e pelo menos uma loja foi invadida. Um grupo de vândalos tomou a direção de um caminhão-tanque carregado de combustível e conduziu o veículo na contramão pela rodovia, que estava interditada. A Polícia Militar de São Paulo conseguiu dispersar os manifestantes por volta das 19h30, com o uso de gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Os protestos começaram no bairro de Jaçanã, logo após o sepultamento do corpo de Douglas, no começo da tarde.
As manifestações de moradores da região contra a atuação da PM começaram no domingo. Duas agências bancárias foram depredadas e uma loja foi alvo de saqueadores. Também no domingo, dois ônibus e um carro particular foram queimados na Avenida Roland Garros, uma das principais do bairro. Um carro da PM foi atingido por pedras. Os protestos prosseguiram pela madrugada, com manifestantes ateando fogo a lixeiras. Três pessoas acabaram presas após os protestos de domingo: o autônomo Adriano Rodrigues Nascimento, de 29 anos, o mecânico Alexandre da Costa Nascimento, de 33, e o ajudante Anderson Nascimento Rocha, de 21. Eles foram apanhados com objetos furtados da loja saqueada e acusados de furto qualificado.
“Por quê?”
Douglas foi morto quando caminhava pelas ruas do bairro com o irmão, de 12 anos. Uma equipe da PMs abordou os jovens em frente a um bar, enquanto atendiam a uma ocorrência de perturbação do sossego. Douglas foi atingido por um único tiro, no peito. Ele chegou a ser levado para um hospital do bairro, mas não resistiu. O disparo foi feito pelo soldado Luciano Pinheiro Bispo, de 31 anos. Ele está detido no presídio Romão Gomes, da PM, e responderá por homicídio culposo — sem a intenção de matar. Testemunhas disseram, de acordo com o boletim de ocorrência, que o tiro não parecia ser intencional. Luciano Bispo trabalha há dois anos na Polícia Militar.
Em depoimento, o policial alegou que o disparo foi acidental. “Quando ele saiu do carro com a arma em punho, a porta da viatura bateu na mão dele e aconteceu o disparo acidental. Ele imediatamente chamou o socorro, que veio em 5 minutos”, disse o advogado de Luciano Bispo, Fernando Capano. “Foi uma infelicidade completa. Uma fatalidade”, completou ele.
A família do rapaz acredita que a morte foi intencional e que vai processar o estado. O pai de Douglas, o motorista José Rodrigues, disse que o PM tem reputação de agressivo entre os jovens do bairro. Segundo a mãe de Douglas, Rossana de Souza, o filho teria perguntado ao policial o motivo do disparo, pouco antes de perder os sentidos. “Por que o senhor atirou em mim?”, teria dito ele, segundo a mãe. Douglas cursava o terceiro ano do ensino médio e trabalhava em meio turno numa lanchonete.
"A porta da viatura bateu na mão dele e aconteceu o disparo acidental. Foi uma infelicidade completa. Uma fatalidade”
Fernando Capano, advogado do PM acusado de matar Douglas Rodrigues
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